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Stablecoins têm potencial de crescimento com bancos mirando em tokenização e blockchain

BTG Pactual se tornou primeiro banco a lançar criptomoeda pareada ao dólar, em novo capítulo de inclusão de nova tecnologia no mercado financeiro

Tokenização se tornou tendência em bancos tradicionais (Reprodução/Reprodução)

Tokenização se tornou tendência em bancos tradicionais (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 5 de abril de 2023 às 09h00.

Última atualização em 5 de abril de 2023 às 12h15.

A tecnologia blockchain tem ganhado cada vez mais espaço no mercado financeiro, conforme instituições como bancos expandem o reconhecimento sobre as vantagens trazidas por ela. E esse processo ganhou um novo capítulo na última terça-feira, 4, com o lançamento da primeira criptomoeda lastreada ao dólar emitida por um banco em todo mundo, o BTG Dol.

O lançamento marca um reconhecimento sobre as vantagens e o potencial não apenas da tecnologia blockchain como um todo, mas das stablecoins em específico. Esse tipo de criptoativo é caracterizado pela paridade com outro ativo, sendo o dólar norte-americano a opção mais comum. A partir de um sistema de reservas, há a garantia de que 1 unidade da stablecoin equivale a US$ 1.

E o BTG Pactual não é o único banco no Brasil que se voltou para o mundo do blockchain e da tokenização. Bradesco, Santander, Itaú e Nubank são exemplos de instituições financeiras que já trabalham na área, seja com lançamentos de tokens, negociação de criptomoedas ou unidades específicas para a área. Além de sua própria stablecoin, o BTG também possui uma corretora cripto própria, a Mynt.

Vantagens do blockchain

Para João Zecchin, sócio-fundador da Fuse Capital, a tecnologia blockchain ainda é "pouco explorada pelas instituições tradicionais". Entretanto, ele acredita que existem alguns benefícios claros da sua adoção, incluindo a "iquidação global e a utilização da camada de aplicação".

"A liquidação entre bancos em jurisdições diferentes ainda é desafiadora e demorada, geralmente dependente de bancos intermediários. Utilizando os 'trilhos' do blockchain é possível liquidar contra partes globais sem um 'coordenador' centralizado antiquado como o SWIFT", explica Zecchin.

Já em relação à camada de aplicação, ele explica que esse elemento dos blockchains "vai permitir que os bancos atuem como uma peça fundamental de soluções em finanças descentralizadas, expandindo seu alcance e criatividade sem esforços internos. Um paralelo pode ser traçado com o iPhone. No início, a Apple produzia todo seu software e aplicações proprietariamente. Com a abertura da AppStore, novos desenvolvedores entraram no ecossistema, sem peso à estrutura central, e avançaram nas aplicações e utilidades do dispositivo".

Gustavo Matos, especialista em criptoativos e blockchain da Mynt, avalia que a tecnologia pode "mudar significativamente a forma como os serviços bancários são prestados e gerenciados no futuro". Exatamente por isso, ele acredita que adesão dos bancos à tecnologia e suas aplicações - como as stablecoins e a tokenização - é uma "tendência crescente".

"O blockchain permite que instituições financeiras aumentem a eficiência operacional no registro e gestão de ativos, permite o desenvolvimento de novos produtos e modelos de negócio, como o BTG Dol, e acesso a mercados globais de maneira facilitada, além dos benefícios da segurança e transparência da blockchain", destaca Matos.

Ele afirma que "a adoção do blockchain pelos bancos é importante porque essa tecnologia permite a realização de transações financeiras de forma mais rápida, eficiente e segura. Além disso, o blockchain pode trazer maior transparência e rastreabilidade para as transações, reduzir custos operacionais, permitir a redução de intermediários e abrir novas oportunidades de negócios, como a oferta de serviços de custódia e gerenciamento de ativos digitais".

Ou seja, a incorporação dessa tecnologia permitiria que os bancos tivessem um aumento de eficiência em seus processos atuais e, ao mesmo tempo, se adaptassem ao novo modelo de mercado de ativos digitais, algo que, segundo Matos, é benéfico "tanto para as instituições financeiras quanto para seus clientes".

Nesse sentido, Zecchin opina que "a entrada dos bancos seja um passo importante para que o universo de blockchain se institucionalize". Ele acredita que, a partir da incorporação por essas instituições, as tecnologias nativas do mercado cripto passarão a ser aplicadas a produtos e demandas "do mundo real", com os bancos atuando como uma ponte nessa relação.

Stablecoins e bancos

No caso das stablecoins, o sócio-fundador da Fuse considera que a maior vantagem desses ativos em relação a uma moeda fiduciária tradicional é a programabilidade: "Essa característica permite que os bancos criem produtos financeiros novos utilizando contratos inteligentes que facilitam o controle e liquidação, ou até mesmo que ela abram para o mercado criar seus próprios produtos que podem ser liquidados contra o banco. Assim, abre-se uma gama de produtos que podem utilizar esta infraestrutura".

Ele destaca que já é possível observar movimentações dos bancos na área de tokenização, mas ainda "não tanto em relação às stablecoins". O motivo, diz, é que os bancos ainda focam em aplicações mais óbvias do blockchain, como em custódia de ativos, enquanto as vantagens das stablecoins acabam sendo "menos óbvias para players do mercado tradicional".

Por isso, Matos vê o movimento do BTG Pactual como "pioneiro", trazendo "um novo nível de diligência e governança" ao segmento. "Um ativo que é lastreado em dólar e títulos da dívida americana demanda a gestão de um banco que segue as normas e regulamentações globais, com diretrizes em relação a gestão dos seus ativos e de clientes", ressalta.

"As possibilidades de utilização desse tipo de ativo vão desde a redução de custos de transações e conversão de moeda, velocidade e eficiência tributária para investimentos, além de inserir clientes num mercado para permite negociações 24 horas por dia 7 dias por semana", destaca o especialista em criptoativos e blockchain.

Para os bancos, ele acredita que a adoção de stablecoins pode trazer mais diversificação para o portfólio de produtos dessas instituições, além de eficiência operacional, a possibilidade de construir novos produtos ligados a esses ativos e servir também como uma "vantagem tecnológica" em seu segmento.

Matos avalia que "a tokenização de ativos pode ser uma das principais tendências do mercado financeiro nos próximos anos, tanto no Brasil quanto no mundo. A tecnologia blockchain utilizada pela tokenização pode permitir que os bancos ofereçam novos serviços financeiros, como a tokenização de ativos imobiliários, commodities e outros ativos com pouca liquidez, permitindo que esses ativos sejam negociados de forma mais rápida e eficiente, aumentando a liquidez desses mercados".

"A tokenização de ativos pode abrir novas oportunidades de negócios para os bancos, aumentando a eficiência e a segurança das transações financeiras, além de tornar o mercado financeiro mais acessível", destaca o especialista.

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