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(Madrolly/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 8 de junho de 2025 às 10h00.
O Brasil tem um dilema fiscal crônico. É uma situação semelhante a um labirinto, e não há um mapa claro para a saída. As soluções propostas pelo atual governo parecem não enfrentar os desafios atuais, e o mercado dá sinais claros de preocupação.
Nesse cenário, e se uma oportunidade disruptiva e capaz de reescrever nosso futuro financeiro estivesse justamente naquilo que muitos ainda hesitam em encarar de frente? Falo da possibilidade audaciosa de o Brasil se tornar o primeiro BTC Treasury Country do mundo, transformando um beco sem saída aparente em uma avenida para a vanguarda estratégica.
Isso não é um devaneio. E sim uma provocação estratégica baseada em um potencial palpável. Quando a Dívida Pública Federal atinge R$ 7,6 trilhões (abril de 2025), a Dívida Bruta do Governo Geral fecha 2024 em 76,5% do PIB, e o país queima anualmente cerca de 8% do PIB apenas com juros nominais líquidos da dívida (dado de 2024), seria a inércia e a incapacidade de se cortar gastos os nossos maiores riscos?
O recente episódio confuso do IOF – com sua projeção inicial de R$ 20 bilhões para 2025 e R$ 40 bilhões para 2026 – é mais do que uma tentativa de ajuste tributário: é um verdadeiro sintoma da exaustão, uma luz vermelha em nosso painel de política econômica.
A turbulência gerada, os recuos e a busca frenética por compensações escancararam uma verdade incômoda: o governo parece ter perdido sua bússola, suas ferramentas que consideradas aceitáveis enferrujaram. À luz desta situação, pensar além do óbvio não é apenas necessário – é uma responsabilidade. Talvez tenha chegado a hora de uma ação audaciosa e vanguardista.
O cenário fiscal atual, agravado por uma aparente preferência por soluções que pressionem a arrecadação de pequeno setor produtivo do país em vez de priorizar a eficiência estrutural do Estado, é um convite para repensarmos os fundamentos da nossa estratégia financeira nacional. O desafio de aumentar a receita ou cortar custos rápido o suficiente exige alternativas audaciosas que entreguem um salto quântico, não apenas ganhos pequenos e graduais.
O bitcoin é um ativo de reserva estratégico que ganha força. É um ativo digitalmente seguro com escassez intrínseca, liquidez global e um histórico de valorização que, apesar da volatilidade típica de ativos inovadores, tem superado consistentemente ativos tradicionais ao longo do tempo.
Olhemos para o mundo corporativo em busca de inspiração – não para cópia, mas para aprendizado estratégico. Michael Saylor, com sua MicroStrategy (hoje Strategy), demonstrou uma visão pioneira ao converter parte significativa do tesouro da empresa em bitcoin, iniciando essa jornada em agosto de 2020.
Essa aposta audaciosa não apenas posicionou a empresa como uma das maiores detentoras corporativas de bitcoin do mundo – com aproximadamente 553.555 BTC até abril de 2025 – mas também impulsionou o valor de suas ações de forma espetacular, registrando uma valorização na casa dos milhares de por cento desde o início da estratégia, superando em muito o desempenho do próprio bitcoin e dos mercados tradicionais no mesmo período.
Embora a contabilidade de ativos digitais tenha suas nuances (a empresa reportou um "BTC $ Gain" de US$ 5,8 bilhões YTD até abril de 2025, enquanto ajustes contábeis no Q1 de 2025 refletiram uma perda não realizada de US$ 5,9 bilhões devido a novas regras e flutuações de preço), o que ressoa é a convicção estratégica na tese de valor do bitcoin a longo prazo.
A Strategy viu no bitcoin uma reserva de valor superior e agiu com uma convicção que gerou resultados expressivos para seus acionistas. Por que um país com desafios fiscais não poderia, com a devida governança, explorar uma lógica similar?
Vamos tangibilizar o potencial. O Brasil detém cerca de US$ 340,5 bilhões em reservas internacionais (abril de 2025). Uma alocação estratégica de apenas 5% desse montante – aproximadamente US$ 17 bilhões – em bitcoin poderia ter um impacto transformador.
Projeções de mercado, como as da ARK Invest (que em seu relatório "Big Ideas 2023" considerava um bear case de US$ 258.000 por BTC até 2030, lembrando que projeções são dinâmicas e novos relatórios podem trazer cenários ainda mais robustos), sugerem que essa quantia poderia se valorizar para cifras entre US$ 177 bilhões e US$ 266 bilhões na próxima década.
Imagine o que R$ 1,2 trilhão (na conversão da projeção mais otimista) significaria para o Brasil: capacidade de reduzir a dívida líquida do setor público em até 15 pontos do PIB, financiar infraestrutura crítica, investir em educação e saúde. Mesmo nos cenários de valorização mais conservadores, os ganhos potenciais excederiam significativamente o custo médio da nossa dívida. Isso apresenta uma oportunidade rara para fortalecer nossa soberania fiscal.
A inovação já pulsa no Brasil. A Méliuz (CASH3), empresa nacional listada na B3, abraçou o bitcoin como ativo central de tesouraria, adquirindo mais de 320 BTC e vendo suas ações responderem positivamente em 2025. Se o setor privado já enxerga e capitaliza essa tendência, por que o setor público deveria ficar à margem?
Globalmente, El Salvador deu um passo audacioso ao adotar o bitcoin como moeda legal. Toda iniciativa pioneira enfrenta desafios e críticas – faz parte do processo de inovação. Mas os aprendizados de El Salvador, especialmente em inclusão financeira e atração de investimentos em tecnologia, podem ser valiosos.
O Brasil, com seu histórico de inovação em pagamentos (vide o sucesso do PIX), tem a capacidade e a estatura para não apenas participar, mas liderar a construção de um novo paradigma financeiro.
Alguns apontarão a volatilidade como um risco. Sim, mercados emergentes e tecnologias disruptivas carregam volatilidade, mas esta tende a se acomodar com a maturidade e a adoção crescente. Instituições tradicionais podem ser céticas, mas a história mostra que grandes saltos raramente nascem do consenso imediato.
O bitcoin oferece atributos únicos: proteção contra a desvalorização de moedas fiduciárias, descentralização que transcende fronteiras políticas e uma rede global resiliente.
Mas, afinal, chegou a hora de discutir o impensável? Em um país que parece patinar em busca de saídas fiscais, onde as abordagens governamentais recentes parecem mais focadas em pressionar quem produz do que em apresentar soluções estruturais de eficiência e controle de gastos - ainda podemos chamar o "impensável" de verdadeiramente impensável?
Ou seria ele o único caminho ainda não trilhado que guarda a promessa de uma verdadeira virada de jogo? É crucial entender que o potencial transformador de uma estratégia como esta é, muitas vezes, diretamente proporcional à sua audácia e ao seu caráter disruptivo.
Este não é um chamado à imprudência, mas um convite ao protagonismo, à coragem de debater novas fronteiras. Contudo, a janela para colher os ganhos mais significativos de tal vanguarda pode não permanecer aberta para sempre; os retornos diferenciais de um pioneirismo estratégico tendem a diminuir à medida que outras nações despertam para a mesma oportunidade e avançam.
O Brasil tem a chance de sair da defensiva fiscal e adotar uma postura estratégica e visionária. Incorporar gradualmente o bitcoin às reservas nacionais, de forma transparente e com forte governança, poderia ser mais do que apenas uma ideia intrigante; poderia ser um movimento estratégico para assegurar nossa prosperidade e soberania no século XXI.
*Guilherme Sacamone é Country Manager da OKX no Brasil, uma exchange global de criptomoedas e empresas de tecnologia on-chain. Com vasta experiência em desenvolvimento de negócios, já trabalhou em empresas como Meta e Crypto.com.
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