Patrocínio:
(Andriy Onufriyenko/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 15 de junho de 2025 às 11h02.
Recentemente, RWAs (Real World Assets) e stablecoins têm ganhado destaque como peças essenciais para popularizar a tecnologia blockchain, transformando e aprimorando os sistemas financeiros globais. As stablecoins, vistas como o “sangue do blockchain”, já são reconhecidas como o principal caso de uso dos blockchains, mas seu papel será ainda mais crucial para liberar novas inovações financeiras.
Ao mesmo tempo, especialistas e reguladores apontam que os RWAs podem destravar a próxima geração de produtos financeiros, potencialmente movimentando trilhões no universo Web3. Estamos nos aproximando de um momento decisivo para integrar esses elementos e catalisar uma onda de inovações sem precedentes no setor.
Para começar, para quem não está familiarizado com o termo: o que diabos é um RWA (Real World Asset)? Em poucas palavras, RWA é uma representação digital/tokenizada de um ativo real, seja uma propriedade, ativo financeiro (por exemplo, títulos públicos ou corporativos) ou até imóveis, obras de arte, vinhos e outros bens.
Com isso em perspectiva, vamos avaliar como as peças do quebra-cabeça se conectarão e destravarão a “explosão cambriana” nos produtos e serviços financeiros sobre os quais tanto ouvimos falar.
Podemos imaginar as stablecoins como sendo o sangue do blockchain: a tecnologia blockchain permite transferências de valor com eficiência impressionante e, o mais importante, com uma camada de programabilidade nativa embutida na tecnologia blockchain.
Em termos de prontidão tecnológica, as stablecoins já são uma realidade. O que ainda falta — e claramente estará no radar da maioria dos governos — são todas as regulações/legislações.
Um marco crítico para uma maior efetividade dos RWAs. Embora os RWAs representem o ativo real on-chain, na maioria dos casos o mecanismo de geração de valor do mesmo é ainda offchain. Isso traz riscos e fricções para explorar totalmente o RWA como um ativo nativo Web3.
Com cada vez mais provedores de pagamento integrando stablecoins (recentemente Stripe e PayPal anunciaram integracão com stablecoins), veremos a migração do valor gerado pelo RWA para dentro do blockchain, representando um salto em sua composabilidade com outros ativos, permitindo que a distribuição de dinheiro seja governada por regras pré definidas implementadas por smart contracts.
As oportunidades não enxergam barreiras — e não deveriam ser limitadas por redes diferentes. Atualmente, a fragmentação das redes blockchain impõe um desafio para destravar totalmente os benefícios da composição de ativos financeiros, o que o livre movimento de liquidez poderia viabilizar. Projetos como Espresso, LayerZero, Wormhole, entre outros, estão totalmente dedicados a enfrentar esse desafio.
Vale também mencionar as discussões recentes sobre a evolução do ambiente de execução da Ethereum — a camada onde os smart contracts realmente rodam (como proposto por Vitalik em seu recente post sobre RISC-V) — que desbloqueará produtos mais sofisticados, impulsionados por lógicas mais complexas.
Também é amplamente entendido que a usabilidade final do blockchain (conhecida como Experiência do Usuário - UX) sempre foi uma pedra no sapato. Houve nos últimos anos melhorias significativas na usabilidade, mas ainda há um longo caminho pela frente. Podemos colocar os avanços e a explosão cambriana em equações simples:
● RWA = representação de ativos e passivos no blockchain.
● Stablecoins = o sangue do sistema blockchain, permitindo movimento de capital sem fricção, com disponibilidade 24/7 e custos ultrabaixos.
● Pagamentos on-chain = traz os mecanismos de geração de valor dos RWAs para o blockchain, desbloqueando totalmente sua composabilidade financeira.
● Interoperabilidade + UX = desbloqueia a velocidade do dinheiro, trazendo liquidez onde estão as oportunidades, com usabilidade facilitada.
Assim, podemos chegar à seguinte soma: RAW + stablecoins + pagamentos on-chain + interoperabilidade e UX = revolução nos serviços financeiros.
Atualmente, os serviços financeiros enfrentam diferentes níveis de fricções, complexidades e barreiras, que causam vários impactos negativos para toda a sociedade.
Os serviços financeiros atuais são caros e lentos, com operações que podem levar dias devido a processos burocráticos e custosos; além disso, os produtos financeiros são segmentados por jurisdições, permitindo que apenas os mais ricos acessem mercados globais e explorem oportunidades internacionais; por fim, há uma grande fricção para a criação de novos produtos financeiros, já que poucos players dominam a oferta, limitando a inovação e restringindo o acesso ao mercado de capitais. A resposta a tudo isso pode estar na combinacão RWA + stablecoins.
Além da já amplamente explorada narrativa de pagamentos e remessas transfronteiriças, podemos ver exemplos de novas verticais sendo formadas e, como consequência, a formação de vários novos mercados.
Pequenos produtores, de artistas a pequenos empresários, sempre tiveram dificuldades para acessar o mercado de capitais e levantar dinheiro em condições atraentes. Isso é ainda mais evidente em mercados emergentes. A tokenização de seu trabalho futuro ou de peças criadas pode ser usada para levantar capital a taxas de juros atraentes.
Criar formas de financiar novas indústrias, como a produção/distribuição de filmes e séries, tokenizando o filme para servir não apenas como colateral, mas também para distribuir valor de volta aos primeiros investidores. A democratização dos mercados de capitais, especialmente em mercados emergentes, é uma melhoria sistêmica significativa que terá grandes impactos, inclusive sobre a desigualdade.
A tecnologia hoje permite não apenas que créditos de carbono existentes sejam tokenizados, mas também a criação de créditos de carbono nativos, significando que desde a medição até o processamento de dados para calcular o valor do crédito, tudo é feito on-chain. A verificabilidade ponta a ponta nos créditos podem desbloquear muitos novos serviços financeiros.
Imagine agora todos esses produtos tokenizados com seus modelos de geração de valor recebendo pagamentos on-chain. Os RWAs adquiridos por investidores poderiam então ser avaliados por modelos de risco para eventualmente serem usados como colateral em plataformas de empréstimos, maximizando a eficiência financeira dos ativos. RWA nativos levariam a uma desintermediação com altos ganhos de eficiência.
Smart contracts cuidariam das condições de pagamentos de juros, execução de colaterais e condições de retirada, gerando aumento significativo na eficiência de capital.
Este ano teremos um tsunami de regulamentações em torno das stablecoins. Os EUA estão a ponto de aprovar sua regulamentação de stablecoins, conhecida como Genius Bill. No Brasil, temos um debate intenso e uma oportunidade única de explorar o potencial das stablecoins + RWA sem matar seus atributos mais fundamentais, incluindo auto custódia, programabilidade e movimento de capital sem fricção.
Empreendedores, utilizando a tecnologia de blockchain, lançarão serviços inovadores que trarão oportunidades financeiras mais econômicas, rápidas e eficientes para uma ampla gama de pessoas e setores. Espero que este biênio seja o período onde veremos uma explosão de novos serviços financeiros baseados em RWA.
Isso trará trilhões de dólares de ativos on-chain e, potencialmente, também com seus mecanismos de geração de receita, todos fluindo sem fricção usando stablecoins e/ou CBDCs implantadas nos trilhos blockchain como meio de troca de valor. DeFi está definitivamente encontrando o TradFi — e o primeiro mudará para sempre a maneira como o mundo lida com serviços financeiros.
Estamos começando a ver exemplos claros da adoção tecnológica, e a realidade está se desenrolando diante dos nossos olhos. Veja, por exemplo, o recente pedido da Robinhood à SEC, uma grande plataforma de negociação nos EUA, solicitando clareza regulatória exata sobre emissão e negociação de ativos tokenizados — ou até o fato de que os estúdios Disney estão formalmente autorizando produtores a incluir criptomoedas, movendo-se além do estereótipo errado de operações ilegais e se posicionando como uma tecnologia positiva e inovadora, em suas produções.
Isso é “Hollywood” abraçando as ondas de mudança e acelerando a conscientização pública. Este ponto de inflexão será conhecido como o momento crucial em que conseguimos mudar o rumo do nosso sistema financeiro global, finalmente desbloqueando economias realmente baseadas em comunidade, rumo a um sistema financeiro mais eficiente, justo e inclusivo.
*Bruno Maia é head de ecosystem growth da Cartesi.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | X | YouTube | Telegram | Tik Tok