Rio de Janeiro quer atrair projetos ligados a inteligência artificial e cripto (Christian Adams/Getty Images)
Repórter do Future of Money
Publicado em 18 de maio de 2023 às 14h33.
A cidade do Rio de Janeiro é um dos maiores cartões postais brasileiros e se tornou um centro turístico mundial. Mas a prefeitura da capital fluminense tem se esforçado nos últimos meses para que ela também seja conhecida de outro jeito: a "capital da inovação" do Brasil. Para isso, o município realiza diversas iniciativas para formação de mão de obra e atração de empresas, investidores e projetos.
Esse esforço deverá ganhar, em breve, uma representação física, o Porto Maravalley. A ideia é criar um hub que reúna empreendedores, projetos, investidores, grandes empresas e uma universidade em um único ambiente, facilitando o intercâmbio de ideias e fomentando a inovação. A região escolhida para abrigar o polo é a do Porto Maravilha, que tem sido revitalizada desde 2009.
A iniciativa do Porto Maravalley é inspirada em casos como o Brooklyn Navy Yard, que é hoje o maior cluester tecnológico de Nova York fora de Manhattan e movimenta US$ 3 bilhões por ano, pela Kendall Square - lar de diversos projetos do MIT - e também em cidades como Shenzen e Londres, explica Chicão Bulhões, Secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Bulhões resume o projeto como um "hub de inovação e tecnologia, com uma faculdade com graduação do Instituto de Matemática Aplicada (IMPA) e empresas". O objetivo é "explorar as potencialidades do Rio, aproveitar o capital humano, capacidade empreendedora, universidades, unicórnios, todo esse ecossistema inovador, mas que hoje carece de bons projetos".
A previsão atual é que as obras do galpão onde o Porto Maravalley funcionará terminem em outubro deste ano, permitindo o funcionamento do hub. Já a graduação do IMPA começará a receber alunos em 2024, com quatro cursos: matemática, ciência da computação, ciência de dados e física. O instituto é conhecido por ser uma das maiores referências da América Latina em pesquisas de matemática e organiza a Olimpíada Brasileira de Matemática, mas até o momento oferecia apenas cursos de pós-graduação.
Segundo Bulhões, a meta da prefeitura é transformar a instituição em um "MIT brasileiro", unindo pesquisa com projetos práticos. As turmas contarão com bolsas da prefeitura e seleção pela Olimpíada de Matemática. Atualmente, a administração municipal aguarda um apoio financeiro do governo federal para financiar os cursos, mas o secretário destaca que a prefeitura se comprometeu a financiar o primeiro ano se for necessário.
Bulhões comenta ainda que "o Porto Maravilha estava abandonado, então a ideia é aproveitar a infraestrutura, revitalizar a região. O efeito disso não é só de atrair empresas e empregos, mas atrair o setor imobiliário também". Ele conta que já existem seis novos residenciais e comerciais licenciados para a área, que resultarão em 15 mil novos moradores e devem ser construídos entre três a quatro anos.
Já a atração das empresas se baseia em alguns pilares. O primeiro é o de qualificação de mão de obra, contando tanto com os alunos dos cursos do IMPA quanto com os beneficiados pelo programa "Programadores Cariocas", que fornece bolsas, equipamentos e aulas para ensinar cariocas a programar e, com isso, atender a uma "demanda imensa do mercado".
O foco do projeto é atender pessoas que vivem em regiões com desenvolvimento econômico menor. A primeira turma contou com 750 alunos, e a segunda deve ter 1,8 mil. A novidade é a abertura para diferentes idades, retirando a restrição anterior de 19 a 27 anos.
"Estamos tentando fazer nossa parte, acho que estamos saindo na frente, estamos vendo as necessidades do mercado", comenta Bulhões. Outra medida adotada pela prefeitura foi a aprovação de uma lei para reduzir a alíquota de ISS de 5% para 2% para as empresas de tecnologia e inovação que atuem na região, buscando atrair essas companhias para a área.
"É uma fórmula que tem funcionado, de trazer startups, converter conhecimento de universidades e oportunidades empreendedoras", diz o secretário. A meta da administração municipal é reunir 200 startups e ao menos mil empreendedores no Porto Maravalley, além de, no futuro, poder ser a origem do "futuro ganhador do Prêmio Nobel".
O secretário destacou que o objetivo do Rio de Janeiro com a iniciativa é ser "epicentro de discussões e desenvolvimentos de inteligência artificial. Já temos um ecossistema forte de criptomoedas, falamos sobre energia e transição energética, o setor de saúde é muito forte aqui também. A ideia é juntar o que já tem de bom na cidade e trazer novos atores dentro dessas novas tecnologias disruptivas, blockchain, economia verde, aumentar densidade econômica e potencializar quem já está aqui".
Além do Porto Maravalley, a cidade também adotou outras medidas que simbolizam esse movimento. Uma delas foi a permissão para o pagamento de IPTU usando criptomoedas a partir de corretoras cadastradas junto à prefeitura. Hoje, Bulhões acredita que a cidade se tornou um "hub de cripto, blockchain e novas tecnologias de pagamento".
Houve, também, a aprovação de uma lei de liberdade econômica para reduzir a burocracia na concessão de alvará de funcionamento para empresas, assim como a criação do Centro de Finanças do Amanhã, um hub focado nas áreas de transição energética, e de um sandbox para "testar produtos, serviços inovadores, ajudando a desenvolver projetos quando há insegurança jurídica e evitando conflitos regulatórios".
Outro símbolo desse movimento foi a realização do Web Summit, um evento internacional que reúne discussões sobre inovação e tecnologia. O acordo firmado pela prefeitura inclui a realização do evento na cidade pelos próximos seis anos, ajudando a construir uma imagem diferente para a capital fluminense e a associá-la com a inovação.
"Envolve implementação de inteligência artificial, de criptoativos, como algo disruptivo. É uma agenda digital de inovação, transformação do conhecimento em negócios. A própria prefeitura pode aproveitar esses projetos, trazer soluções inovadoras para desafios sociais, de segurança, de clima. É algo transformador na vida das pessoas" avalia Bulhões.
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