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Criptomoedas: criação de reservas corporativas com cripto ganhou força (Reprodução/Reprodução)
Editor do Future of Money
Publicado em 8 de setembro de 2025 às 16h03.
Em 2020, a MicroStrategy, empresa sobrevivente da Bolha da Internet mas com pouca relevância desde então, surpreendeu o mercado ao anunciar que passaria a comprar unidades de bitcoin para criar reservas corporativas da criptomoeda. Anos depois, diversas empresas entraram nessa onda, que agora é a grande novidade do mercado financeiro.
Apesar da Strategy, como a empresa é conhecida agora, ter sido alvo de críticas e dúvidas sobre a eficácia da estratégia, a aposta acabou dando certo: cinco anos depois, os papéis da companhia dispararam e bateram recorde, e a antiga fama foi recuperada. Agora, outras empresas buscam replicar o movimento, em busca do mesmo sucesso.
Além disso, o bitcoin deixou de ser a única criptomoeda usada como reserva. Ether, Solana e BNB estão entre os ativos escolhidos, mas algumas empresas até anunciaram a compra de criptomoedas meme para uso como reserva. Mas qual é o impacto efetivo desse movimento para o mercado cripto?
Matheus Parizotto, analista da Mynt, a plataforma cripto do BTG Pactual, explica que o "experimento" iniciado pela Strategy "deu tão certo e ganhou escala tão rápido que acabou virando um manual de tesouraria. Converter caixa em cripto, emitir ações e dívida para comprar mais e reportar indicadores próprios, como o bitcoin yield".
"A virada veio no 4º trimestre de 2024, quando a MicroStrategy intensificou compras, quase dobrando sua posição de 226.500 bitcoins para 446.400 em apenas três meses, além de passar a comunicar esses indicadores nos resultados. Hoje, a empresa já possui mais de 636 mil unidades do criptoativo, avaliados em cerca de US$ 70 bilhões", explica.
No caso do bitcoin, o crescimento da prática tem gerado bons resultados. "Essas aquisições retiram oferta de circulação e criam um comprador estrutural. Isso mexe na liquidez, dá suporte aos preços e influencia o sentimento de mercado", comenta o analista.
Além disso, Parizotto ressalta que a Strategy conseguiu um "retorno muito superior aos principais índices americanos desde 2020 e atraiu investidores de peso", mostrando o quão impactante a estratégia pode ser para outras companhias.
Segundo Parizotto, o sucesso do uso do bitcoin como ativo de reserva gerou um alastramento para outras criptomoedas. O principal destaque é o ether, que ganhou suas primeiras reservas corporativas neste ano. Apesar do ativo ser diferente, o "manual" seguido é o mesmo da Strategy, mas com um diferencial.
"É o rendimento via staking. Enquanto ETFs de ether ainda não oferecem staking, essas empresas conseguem capturar esse rendimento em blockchain e comunicar ao mercado, reforçando a ideia de 'capital produtivo'", comenta. O staking é uma prática de bloqueio de unidades da criptomoeda em blockchain, com recebimento de receita periódica.
Outro ativo de destaque para reservas corporativas é a Solana. "Se o bitcoin consolidou o modelo e o ether sofisticou, a Solana parece ser a próxima", avalia o analista. Com o surgimento das primeiras reservas da criptomoeda, Parizotto diz que "ainda é cedo, mas a lógica do comprador permanente tende a alcançar outros líderes do mercado".
Apesar das reservas corporativas trazerem bons ganhos para as criptomoedas adotadas, os impactos nas empresas são ainda mais profundos, assim como os riscos. O analista da Mynt destaca que "a estratégia funciona melhor quando há acesso recorrente e barato a capital e comunicação disciplinada com investidores".
Ao mesmo tempo, o risco é conhecido: "Volatilidade no resultado e diluição dos investidores se a execução for mal calibrada". "Um ponto contábil ajuda nos EUA: a nova regra do FASB permite marcar cripto a mercado no resultado, o que simplifica a vida de CFOs. Fora dos EUA, sob normas que ainda tratam cripto como intangível, o incentivo é menor, o que cria vantagem competitiva para companhias americanas."
Parizotto também alerta que a disseminação das reservas para outros criptoativos exige cautela dos investidores, já que a maioria dessas criptomoedas "não tem liquidez suficiente e contam com uma governança mais frágil e menor previsibilidade regulatória e contábil".
"Muitos 'rendimentos' dependem de emissões de tokens que se diluem com o tempo, em uma dinâmica altamente inflacionária. Para uma tesouraria de companhia aberta, que precisa de execução garantida, auditoria tranquila e comunicação simples, esse universo, pelo menos por enquanto, parece mais um campo de experimentos do que uma alternativa para alocação de capital a longo prazo", ressalta.
Não à toa, empresas que adotaram criptomoedas meme como ativos de reserva viram suas ações despencarem, indicando que o mercado ainda não está convencido do potencial e das vantagens desses ativos para as reservas corporativas.
A visão do analista é que "o bitcoin consolidou o modelo, o ether adiciona produtividade e a Solana desponta como próxima fronteira, mas o resto [das criptomoedas] ainda precisa provar que tem profundidade, regras e escala para ocupar este mesmo espaço".
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