Repórter do Future of Money
Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 09h30.
Se em janeiro de 2024 alguém dissesse que os Estados Unidos poderiam criar uma reserva estratégica de bitcoin, muitos diriam que a pessoa era uma grande otimista, mas que a ideia não tinha conexão com a realidade. Agora, porém, essa possibilidade passou a ser tratada com seriedade por analistas, investidores e empresas.
Por trás desse movimento está o mais importante evento de 2024: a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Ao longo da campanha, o bilionário e político decidiu adotar uma postura pró-cripto, abandonando críticas que fez ao setor no passado e se tornando um grande apoiador, prometendo transformar o país na "capital mundial de cripto".
Durante a campanha, Trump não descartou a possibilidade de criar uma reserva estratégica de bitcoin. E, mais de um mês após sair vitorioso das eleições, ele reforçou a intenção de transformar a proposta em realidade: "Nós vamos fazer alguma coisa grande com cripto porque nós não queremos a China ou outro país [fazendo alguma coisa]. Não apenas a China, mas outros países estão abraçando cripto, e nós queremos estar na liderança".
Mas, afinal, os Estados Unidos realmente terão uma reserva da criptomoeda?
Uma reserva estratégica de bitcoin é formada a partir da aquisição de unidades da criptomoeda que, então, passam a ser armazenadas pelo governo. A ideia não é que o ativo seja vendido no curto prazo buscando lucros, mas sim que ele seja guardado com foco no médio e no longo prazo, projetando valorizações da criptomoeda.
A ideia é que a construção de reservas da moeda digital tragam uma vantagem estratégica para os Estados Unidos devido à expectativa de mais valorizações. Na prática, portanto, ela seria usada como uma forma de garantir e reforçar o valor do dólar em relação a outras moedas ao redor do mundo.
Os Estados Unidos já possuem reservas estratégicas de outros ativos. A mais famosa é a de petróleo, que historicamente é usada pelo governo para evitar a escassez da commodity no país e para influenciar nos preços internacionais.
A criação de uma reserva estratégica de bitcoin precisaria, primeiro, ser aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos. Um projeto de lei sobre o tema já foi enviado ao Congresso por uma senadora do mesmo partido de Trump, mas está nos estágios iniciais de análise.
Pela proposta, o governo do país compraria 200 mil unidades da criptomoeda nos cinco anos seguintes à aprovação da proposta, resultando em uma reserva de 1 milhão de unidades. O valor ultrapassa a casa dos US$ 80 bilhões, considerando a cotação atual do ativo.
Os defensores da proposta argumentam que seria possível financiar as aquisições a partir de uma reorganização das reservas que o Federal Reserve já possui, na casa dos US$ 7 trilhões, criando uma reserva de valor semelhante à reserva em ouro que o governo norte-americano possui há décadas.
Entretanto, ainda não está claro exatamente se o governo compraria unidades de bitcoin. No seu primeiro decreto presidencial sobre o mercado de criptomoedas, Trump usou o termo "estoque" nacional de criptomoedas, e não reserva. Na prática, especialistas apontam que isso pode levar a uma estratégia diferente.
O cenário mais provável é que a reserva seja inicialmente composta apenas por unidades da criptomoeda que o governo do país já possui, apreendidas em operações policiais. Dados mais recentes apontam que o montante equivale a pouco mais de 198 mil unidades do ativo.
O impacto para o preço do bitcoin dependeria da estratégia que o governo do país adotasse. Se a reserva tiver as características de um estoque, sem novas compras da criptomoeda, especialistas acreditam que o impacto no preço seria menor, já que não haveria a criação de uma nova pressão compradora.
Entretanto, a criação do estoque garantiria que o governo dos Estados Unidos não realizará vendas das unidades que já possui, o que na prática reduziria temores dos investidores sobre os impactos de possíveis vendas. Em 2024, o ativo chegou a ter fortes quedas após vendas realizadas pelo governo da Alemanha.
Se os Estados Unidos realmente começarem a comprar unidades de bitcoin, especialistas acreditam que o ciclo atual de alta do ativo ganharia ainda mais fôlego. O impacto no preço, porém, dependeria da quantidade efetiva que o país passaria a comprar. De qualquer modo, o bitcoin seria beneficiado pelo movimento, com potenciais novos recordes à vista.
O decreto do presidente Trump sobre criptomoedas criou a possibilidade de que a reserva estratégica dos Estados Unidos não terá apenas bitcoin, reunindo uma cesta de criptomoedas. No texto, o governo não cita o bitcoin, estabelecendo que será avaliada a possibilidade, vantagens e desafios da criação de um "estoque nacional de criptomoedas".
Entre os ativos cotados para fazer parte do estoque está o XRP, que atualmente é a terceira maior criptomoeda do mercado. A tendência, segundo a imprensa norte-americana, é que a reserva reúna criptomoedas criadas nos Estados Unidos, como a Solana.
Entretanto, o tema ainda está cercado de especulações no momento. A tendência é que os planos do governo Trump ganhem mais clareza ao longo dos próximos meses, incluindo o potencial impacto no preço do bitcoin e de outras criptomoedas.