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Regulação de criptomoedas nos EUA pode levar à competição geopolítica

Desdobramentos regulatórios recentes poderiam levar à competição pelo controle de parte vital da indústria de criptoativos

 (iStockphoto/iStockphoto)

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Coindesk

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Publicado em 2 de agosto de 2021 às 18h41.

As criptomoedas foram criadas para se tornar um sistema financeiro independente do monopólio das nações. Tendências como as finanças descentralizadas (DeFi) surgiram como novos e robustos ramos de uma indústria que, até dois anos atrás, oferecia principalmente a possibilidade de negociar, investir e realizar transações. Agora, existe uma gama de serviços acerca de pagamentos, serviços financeiros digitalmente nativos e a inclusão financeira que estão saindo do abstrato para se tornarem reais no plano dos criptoativos. Com o sistema fiduciário atual fundamentado pelo Federal Reserve (o Fed, banco central dos EUA) e o dólar americano, as criptomoedas começaram a separar estado e dinheiro.

No entanto, os desdobramentos regulatórios recentes poderiam empurrar as stablecoins para mais perto do sistema fiduciário, levando à uma competição entre países pelo controle de uma parte vital da indústria de criptoativos.

O valor de mercado das stablecoins ultrapassou 108 bilhões de dólares a partir de julho, representando 7% do valor de mercado total das criptomoedas. Os provedores de stablecoins estão indo além do serviço de negociação de criptomoedas. Os seus principais benefícios – velocidade mais rápida de transações, pagamentos sem barreiras, em geral, taxas menores e eventualmente dinheiro programável – já permitem uma grande variedade de outras utilidades atualmente: transferências, micropagamentos, pagamentos comerciais, depósitos de banco e saques, salários, contratos de depósito, armazenamento de valor, liquidação, empréstimos, gestão de riquezas, comércio de divisas e dar energia para dapps (aplicativos descentralizados).

Sendo centrais para o desenvolvimento das aplicações de DeFi, as stablecoins lastreadas pelo sistema de bancos centrais, como tether e USDC, dominam a maior parte das operações entre pares e mercados de empréstimo de corretoras descentralizadas (DEX). Além disso, plataformas de empréstimo e outros aplicativos de DeFi dependem de stablecoins como a dai e USDC para migrar a volatilidade em mercados de criptoativos e atrair mais investidores.

A importância que as stablecoins têm na economia de criptoativos não poderia ser mais subestimada. Se alguns investimentos em stablecoins começarem a perder sua estabilidade ou valor, isso poderia causar danos consideráveis ao mercado. Nós não sabemos se as stablecoins seriam capazes de liquidar investimentos o suficiente de forma rápida para atender a demanda desfavorável se um grande grupo de detentores de repente decidirem vender seus tokens. Uma súbita falta de fé nas stablecoins e seus emissores poderia fazer o mercado experienciar um choque catastrófico na liquidez.

A atividade regulatória sobre as stablecoins se intensificou. Em 2020, o GAFI, Grupo de Ação Financeira Internacional, disse que as stablecoins compartilham do mesmo potencial para lavagem de dinheiro e financiamento de grupos terroristas que outras criptomoedas e solicitou que cumpram as normas da AML/CFT contra tais práticas. No final de 2020, o congresso americano solicitou que os emissores de stablecoins se tornassem membros licenciados da Federal Reserve e seguissem os regulamentos bancários.

O PWG, Grupo de Trabalho do Presidente sobre Mercados Financeiros também se reuniu neste mês para discutir as stablecoins – incluindo seu rápido crescimento, potenciais usos como forma de pagamento e riscos ao usuário final, o sistema financeiro, e a segurança nacional dos EUA, resultando na decisão da Secretária do Tesouro, Janet Yellen, solicitando urgência às autoridades reguladoras para a regulação das stablecoins.

Medidas políticas sendo consideradas para tal regulação irá deixar as stablecoins firmes sob o controle monetário da Federal Reserve. No começo do mês, o sistema de bancos centrais dos EUA foi coautor de uma pesquisa com a Universidade de Yale propondo dois métodos para a regulação das stablecoins. O primeiro consistia em convertê-las para sua equivalente em dinheiro público ao emití-las via FDIC- garantido pelos bancos americanos ou compor o lastro em medida 1:1 com vínculos ao tesouro do país. Esse é um sistema similar aos depósitos de banco nos EUA. Outra alternativa sugerida pelo estudo seria apresentar uma CBDC (moeda digital emitida por bancos centrais) americana e taxar as stablecoins, até que as chamadas “moedas privadas” deixem de existir. Isso poderia essencialmente fazer com que a CBDC se tornasse as nova stablecoin do mundo das criptomoedas.

Ambas as medidas constituiriam uma “dolarização” das stablecoins, especialmente as moedas sem algoritmo como tether e USDC, que dominam o espaço. Mesmo que as stablecoins sempre tenham sido medidas em dólares, reservas vinculadas e compliances irão efetivamente amarrar esses instrumentos globais à supervisão monetária dos EUA. Isso poderia reduzir o ecossistema de criptomoedas à uma sombra do sistema fiduciário global de hoje em dia. Stablecoins com algoritmo e DeFi devem se manter fora do circuito regulatório por um tempo, mas não para sempre. Resta saber se elas irão ganhar a confiança do consumidor final médio. O colapso na paridade cambial de moedas com algoritmo como a fei e iron criaram dúvidas quanto a isso nos últimos tempos.

Se houver retaliação de outros países, as stablecoins provavelmente não irão se reduzir à um monopólio da Federal Reserve. China, Rússia e a União Européia se posicionaram ou expressaram interesse em ultrapassar o sistema financeiro atualmente dominado pelo dólar. Os três também experimentaram ativamente e regularizaram criptomoedas, ou até mesmo criaram suas próprias moedas digitais. É bastante provável que se surgirem stablecoins com lastro em bancos ou no tesouro dos EUA, esses países emitam stablecoins lastreadas por suas próprias moedas no mercado. CBDCs, moedas privadas e stablecoins públicas-privadas denominadas em moedas diferentes poderiam emergir como um contragolpe à regulação centralizada das stablecoins por parte dos Estados Unidos.

O elemento crítico do ecossistema de criptomoedas poderia ou se tornar uma sombra do sistema pré-existente, ou um campo de batalha de intensa guerra geopolítica e monetária. Em qualquer um dos casos, as stablecoins terão um desafio considerável em se manter um pilar de um sistema financeiro independente.

Texto traduzido e republicado com autorização da Coindesk
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