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Real Digital é a troca do "motor" do sistema financeiro nacional, diz Febraban

Em entrevista à EXAME, diretor da federação explica os desafios e vantagens da versão digital da moeda brasileira

Febraban vai ajudar nos testes do piloto do Real Digital (alengo/Getty Images)

Febraban vai ajudar nos testes do piloto do Real Digital (alengo/Getty Images)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 26 de junho de 2023 às 17h01.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 11h22.

O projeto do Real Digital deve começar nas próximas semanas a etapa de testes de uma versão piloto, que ajudará a desenvolver e testar toda a infraestrutura necessária para o sucesso do projeto. E, para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a versão digital da moeda brasileira tem o potencial para gerar diversas mudanças na economia, representando a "troca do motor do sistema financeiro nacional".

É o que afirma Ivo Mósca, diretor-adjunto do grupo de trabalho CBDC da Febraban. O termo CBDC significa Central Bank Digital Currency, ou Moeda Digital de Banco Central, em tradução. Ele faz referência às novas versões de moedas fiduciárias que são criadas pelos próprios bancos centrais de cada economia a partir da integração dos seus sistemas a redes blockchain.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Mósca revelou quais potenciais a Febraban tem identificado para o Real Digital, os desafios que o projeto ainda vai precisar enfrentar e como a ferramenta deve alterar uma série de processos, serviços e produtos que existem atualmente no mercado financeiro brasileiro.

Entendendo o Real Digital

Mósca destaca que a tecnologia por trás da CBDC brasileira, de redes blockchains, não é nova, e que a Febraban e o mercado financeiro como um todo já vinham trabalhando com elas há alguns anos, com "alguns casos de uso aparecendo com alguns graus de intensidade". Desde então, a federação - que reúne os maiores bancos do Brasil - vem tentando "aprender os benefícios" da tecnologia.

O diretor ressalta que o sistema financeiro brasileiro já é avançado em relação a outros países graças a iniciativas como o Pix. Por isso, a aplicação do Real Digital deverá ser diferente da de outras CBDCs, em que o foco está na instantaneidade de pagamentos. No caso brasileiro, o principal potencial está ligado à chamada "economia tokenizada".

A tokenização representa um processo em que ativos tradicionais são inseridos em redes blockchain, ganhando versões digitais e criptografadas que podem ser negociadas de forma mais rápida, eficiente e segura. Nesse sentido, Mósca considera que o Real Digital "acaba trazendo soluções para potenciais problemas ainda não totalmente mapeados." ao "habilitar as possibilidades de evolução" dessa prática.

"Ele representa o despertar de uma economia tokenizada, que pode facilitar o acesso a uma série de produtos. É uma democratização de produtos financeiros, que hoje, dado o custo transacional, ficam disponíveis para poucos. Pela tokenização, você pode fracionar os ativos e entregar para o varejo", explica o diretor da Febraban.

Por mais que essa economia tokenizada já exista hoje, ela ainda tem pouca escala. A grande mudança que o Real Digital deve trazer é uma maior segurança jurídica e transacional, impulsionando esse segmento. Mósca afirma que a decisão do Banco Central, de criar uma CBDC de atacada para garantir reservas bancárias e depósitos tokenizados para serem usados no varejo, permite que a rede em desenvolvimento seja conectada com outras, garantindo a capacidade transacional necessária para a tokenização deslanchar.

Na visão dele, o Real Digital vai ser o "substituto perfeito" para as stablecoins, criptomoedas que são pareadas a outros ativos, incluindo moedas fiduciárias: "A questão de usar stablecoins é que elas estão ligadas a empresas privadas, então passa por questões de garantia, liquidez, segurança e de não ter uma total equiparidade com o real. O Real Digital resolve isso ao garantir que tenha, dentro da rede, uma moeda padronizada equiparável independente de quem é a instituição custodiante".

"Para ver uma economia totalmente tokenizada, o grande ponto é que hoje não tem uma ferramenta padrão, segura, para poder transacionar, e o Real Digital também resolve isso. Tendo esta segurança, habilita a entrada e democratização da utilização de transações no mundo tokenizado. Uma vez que tenha isso, vão aparecer outras redes e ativos tokenizados", explica o diretor.

Para Mósca, os primeiros ativos que serão tokenizados serão aqueles que "caibam" na rede em construção pelo próprio Banco Central, ou seja, os ativos regulados pela autarquia e pela CVM. "A partir daí, vai começar a trabalhar a conexão com outras redes, como do Detran pra documentos, bens imobiliários. Você vai começar a ver e pode ter outros acessórios, como garantia de crédito, produtos físicos. Começa pelos ativos financeiros, até para ter validação, teste da nova tecnologia, e depois evolui para entregar a titularidade do ativo conjuntamente com a transação", diz.

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Desafios e próximos passos

A visão da Febraban é que o Real Digital vai permitir uma desintermediação em relação a várias instituições que atuam hoje em trocas financeiras, evitando alguns processos centralizados e trazendo uma "economia em escala bastante grande". Para atingir isso, porém, ainda será preciso superar alguns desafios, um foco da etapa do piloto.

Para Mósca, o principal é a escolha da tecnologia e da infraestrutura para a CBDC. "O Banco Central, para o piloto, definiu o Hyperledger Besu, mas precisa testar, evoluir. Como está basicamente pavimentando um novo fluxo financeiro para substituir os fluxos antigos, precisa ser substituído com muito cuidado para garantir que não tenha problemas e esteja em uma tecnologia que continue avançando garantindo multiplicidade de casos de uso e garantindo privacidade e segurança".

Outros pontos que estão no radar da Febraban envolve a necessidade de expandir uma oferta de mão de obra qualificada, capaz de trabalhar com essa nova infraestrutura, e também de democratizar o acesso às informações sobre essa tecnologia e suas mudanças para a população.

Ao mesmo tempo, será preciso enfrentar essas questões levando em conta o cronograma do Banco Central para o Real Digital. A expectativa atual é que a fase do piloto termine no primeiro semestre de 2024 e, então, a CBDC seja liberada para o público no fim do mesmo ano.

Mósca diz que a primeira etapa para cumprir esse calendário é "entender o resultado do piloto, para o fim de 2023 realizando a transação de tokens de depósito e reservas bancárias e até fevereiro testar o piloto com o título público federal tokenizado. A partir dessa resposta, se entender que a tecnologia é ideal, tem resiliência e garante segurança, pode definir o cronograma para disponibilizar em 2024. Depende muito do sucesso do piloto".

Mesmo assim, o diretor da Febraban destaca que o tema exige cautela: "É um assunto altamente impactante. A gente está trocando o motor de todo o sistema financeiro nacional, e isso demanda prudência, cuidado. É o que o Banco Central vem fazendo".

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