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Real Digital: estudo aponta para que a moeda será usada e os desafios do projeto

Para a empresa de consultoria Oliver Wyman, moeda digital traz oportunidades para economia brasileira

Real Digital tem previsão de lançamento para o público no fim de 2024 (Reprodução/Reprodução)

Real Digital tem previsão de lançamento para o público no fim de 2024 (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 29 de junho de 2023 às 14h40.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 11h21.

O Real Digital é considerado o último elemento de um tripé desenvolvido pelo Banco Central para acelerar a digitalização da economia brasileira. E um estudo divulgado pela consultoria Oliver Wyman nesta semana apresenta todos os potenciais usos do projeto, mas também os desafios e os limites que a iniciativa precisará enfrentar no futuro.

No relatório, a consultoria destaca que moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) como o Real Digital buscam atender à necessidade de ter "pagamentos mais rápidos, baratos, resilientes e sustentáveis", além de enfrentar dores como uma expansão de moedas digitais privadas, aumento de fraudes e uma oportunidade de melhorar os pagamentos transfronteiriços.

Nesse sentido, a adoção dessas ferramentas traz consequências para o mercado financeiro, incluindo "potencial redução do volume de recursos disponíveis para operações de crédito, redução no volume de depósitos à vista, utilizado em políticas de recursos destinados, maior volatilidade nas corridas bancárias devido à facilitação na movimentação de recursos e desafio em manter a privacidade financeira".

"As CBDCs têm potencial para endereçar dores latentes no mercado global (como pagamentos e FX), no entanto, deve-se considerar cuidadosamente as possíveis consequências da implementação", defende o relatório. A Oliver Wyman destaca que, atualmente, apenas quatro CBDCs estão ativas em todo o mundo, com o Brasil avançado na análise de uma moeda digital para o atacado.

Aplicações

Para o relatório, o Real Digital e outras CBDCs não são uma "bala de prata", mas possuem diversos casos de uso potenciais. Eles inclume promover um dinheiro mais seguro e preservar o domínio das moedas nacionais, competindo nessas áreas com as stablecoins - criptomoedas privadas pareadas a outros ativos.

As CBDCs também podem melhor o sistema de pagamentos em cada país e aumentar a inclusão financeira, sem necessidade de bancarização para acessar diversos serviços financeiros. Além disso, a Oliver Wyman vê um potencial de prevenir o declínio do dinheiro em relação às moedas digitais privadas.

No caso brasileiro, a implementação do Real Digital deverá ser focada no atacado, voltada para reservas bancárias e contas de liquidação. Já o Real Tokenizado seria usado no varejo, englobando a tokenização de depósitos bancários e fundos em conta de bancos e instituições de pagamentos.

Atualmente, o projeto está em sua fase piloto para testar e desenvolver a infraestrutura em que a versão digital do real vai operar. Entretanto, o relatório aponta que "os casos de uso no mundo real utilizarão de funcionalidades ainda não englobadas no piloto", como conexão com outras plataformas de CBDCs, testes de estresse e escalabilidade e contratos inteligentes criados por instituições financeiras.

A Oliver Wyman também defende que o piloto precisa definir quais serão suas métricas-chave de sucesso, entender como a tecnologia de infraestrutura blockchain escolhida vai comportar a expansão da rede e novos casos de uso e incentivar uma curva de aprendizado mais acelerada em torno dessa tecnologia.

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Para que o Real Digital será usado?

Ao todo, o relatório 14 casos de uso potenciais para as CBDCs, considerando aplicações no varejo, atacado e por instituições financeiras:

  1. Direito de posse de ativos não financeiros;
  2. Pagamentos offline;
  3. Inclusão financeira;
  4. Micropagamentos;
  5. Gestão de múltiplas contrapartes;
  6. Tokenização de faturas/contas;
  7. Arrecadação tributária;
  8. Seguro digital;
  9. Micropagamentos;
  10. Negociação de ativos financeiros;
  11. Negociação de ativos de baixa liquidez;
  12. Gestão de colateral no mercado de capitas;
  13. FX (pagamentos transfronteiriços);
  14. Securitização de empréstimos

Especificamente no caso do Real Digital, a Oliver Wyman considera que o projeto viabiliza principalmente os casos de uso no varejo de direito de posse de ativos não financeiros e micropagamentos, mas não o de inclusão financeira, já que a custódia dele será feita por instituições financeiras. O relatório vê um potencial, menor, na área de pagamentos offline, já que ela ainda não é um foco do Banco Central.

Para as instituições financeiras, os casos de uso mais favoráveis seriam os de negociação de ativos financeiros, negociação de ativos de baixa liquidez, gestão de colateral e securitização. No caso dos pagamentos transfronteiriços, ainda há a necessidade de trabalhar a interoperabilidade com outras redes. O relatório mostra que todos os casos de uso para o atacado serão viabilizados com o Real Digital: gestão de múltiplas contrapartes, tokenização, arrecadação tributária, seguro digital e micropagamentos.

Combinando esses potenciais com as "dores" atuais do mercado, a Oliver Wyman acredita que os casos de uso com mais potencial de adoção no Brasil seriam os de direito de posse de ativos, micropagamentos, gestão de múltiplas contrapartes, negociação de ativos de baixa liquidez, gestão de colateral e securitização.

Entretanto, o relatório destaca que "há uma grande expectativa em torno do piloto do Real Digital, conduzido pelo Banco Central – no entanto, o Brasil ainda tem pouca visibilidade de casos de uso e possibilidades de monetização. A experiência internacional nos mostra oportunidades disruptivas via CBDC, quer seja para endereçar uma dor do cliente PF e PJ, ou para melhoria de processos internos das instituições".

"Frente ao potencial de disrupção viabilizado pelo CBDC, é fundamental que as instituições se aprofundem no tema e se preparem, identificando possibilidades de monetização/otimização e potenciais ameaças ao modelo de negócio atual", afirma a consultoria.

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