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Quer investir no bitcoin? Após recordes, veja vantagens, riscos e melhores estratégias

Maior criptomoeda do mundo voltou a disparar e tem se consolidado no mercado como opção estratégica de investimento

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 25 de novembro de 2024 às 09h30.

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O bitcoin voltou a disparar em novembro de 2024, engatando um novo ciclo de alta e firmando uma sequência de recordes de preço até rondar os US$ 100 mil. Como em momentos anteriores de grandes disparadas da criptomoeda, investidores que optaram por não investir no ativo começam a se questionar, em meio aos grandes lucros e comemorações, se deveriam ter entrado nesse mercado.

Diferente de anos anteriores, a própria adoção da criptomoeda no mercado institucional cresceu. A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, é um dos melhores exemplos: em poucos anos, a gestora e seu CEO foram de críticos do bitcoin a defensores do potencial do ativo em portfólios de investimento, quando alocado em uma proporção correta.

Enquanto isso, figuras como o futuro CEO da gestora trilionária Schwab compartilham o arrependimento por não ter investido na criptomoeda ou por tê-la vendida antes dos novos recordes, perdendo oportunidades interessantes de lucro.

Mas afinal, ainda é o momento para investir no bitcoin? E quais são as melhores estratégias para quem se interessou agora no ativo? À EXAME, especialistas respondem a essas e outras perguntas, incluindo os potenciais riscos e vantagens da criptomoeda.

O que é o bitcoin?

O bitcoin é a primeira criptomoeda do mercado financeiro. Ele foi criado e lançado em 2009 por Satoshi Nakamoto, uma figura misteriosa que desapareceu há mais de 10 anos. O objetivo de Nakamoto era criar um ativo digital que fosse independente do mercado tradicional e de bancos centrais, servindo portanto como uma proteção em momentos de crise generalizada, como a de 2008.

Uma das principais características do ativo é a ligação com a tecnologia blockchain, uma espécie de banco de dados descentralizada e que armazena informações em sequências de blocos. Desde então, a tecnologia deu origem a mais de 15 mil criptomoedas e novas funcionalidades, mas o bitcoin segue sendo a maior.

Ao criar o bitcoin, Nakamoto definiu que existiriam apenas 21 milhões de unidades do ativo. Elas são liberadas para o mercado por meio de um processo conhecido como mineração, sendo que a quantidade liberada diminui pela metade a cada quatro anos, no chamado halving. O último halving foi em 2024.

A lógica do projeto é que a criptomoeda é usada como uma espécie de recompensa para os mineradores, que na prática resolvem complexos problemas matemáticos para atuarem como validadores das informações que ficam registradas na rede blockchain, garantindo a veracidade.

No momento, a criptomoeda possui uma capitalização de mercado de quase US$ 2 trilhões e firmou um novo recorde de preço próximo da casa dos US$ 100 mil. Sozinha, ela representa cerca de 60% de todo o mercado de criptomoedas. No ano, a valorização é de mais de 130%, mas o ativo foi lançado sem nenhum valor em 2009, ou seja, apenas valorizou desde então.

Por que investir no bitcoin?

Em geral, os defensores do bitcoin afirmam que o principal motivo para investir no ativo é o seu potencial de ser um "ouro digital", ou seja, uma versão mais moderna, atualizada e tecnológica da reserva de valor mais antiga e popular do mercado. Na prática, isso significaria que ele seria um ativo de proteção de patrimônio em momentos de crise.

Ao mesmo tempo, a criptomoeda atraiu muitos investidores pelo caráter especulativo, em especial no chamado day trade, e suas valorizações expressivas de preço em curtos períodos de tempo reforçam essa atratividade. Paula Zogbi, head de Conteúdo e Research da Nomad, explica qual é a tese atual e futura por trás do ativo.

"A gente vê os movimentos do bitcoin muito em função de ser um bem escasso, finito, e a gente vai se aproximando lentamente do momento em que ele de fato será escasso. Alguns motivos sustentam as altas recentes, alguns são de médio e longo prazo, o que já sustentaria altas no futuro, mas o grande fator no longo e médio prazo é quando ele deixar de ser minerado e virar um ativo finito com potencial de ser uma reserva de valor", explica.

No momento, porém, ela lembra que ele é "super especulativo. Por hora, ele não é usado como meio de pagamento, uma moeda para comprar coisas, até por ser muito volátil. Enquanto nada disso ocorre, só podemos imaginar que as altas ocorrem devido a uma expectativa do mercado de que ele vire uma reserva de valor".

"Essa lógica do ouro digital vem da história de que o bitcoin vai deixar de ser minerado quando esgotar suas unidades disponíveis. É por isso que o halving, por exemplo, sempre ajuda na valorização do bitcoin. É uma lógica de que ele vai ser finito, e que seria até mais escasso que o ouro porque você ainda pode achar outras reservas de ouro", explica.

"Existem algumas novidades no mercado que podem fazer com que ele se comporte mais como o ouro. No fundo, é algo semelhante ao próprio ouro. Ele em si não se transforma em reserva, é preciso que muitos países o usem como reserva, e aí sim faz sentido começar a pensar no bitcoin passando a se comportar dessa maneira", comenta a executiva.

Já João Marco Cunha, diretor de Gestão na Hashdex, avalia que a tese de que o bitcoin será o ouro digital "está se confirmando, e os números estão mostrando isso. Lá atrás, em 2019, a volatilidade ficava na casa dos 70%, 80%. Hoje, está em 40%, 50%, o que já é uma redução significativa. A tendência é que a queda continue".

"O bitcoin vai chegar no nível de volatilidade do ouro, em uns 20%? Eu acho possível. Não tem como olhar para essa tendencia e dizer que daqui a X anos vai parar nos 20%, mas o bitcoin tem os elementos necessários do ponto de vista técnico para se consolidar como uma reserva de valor relevante, e é um processo que se retroalimenta", argumenta.

É tarde demais?

"É tarde demais para investir no bitcoin?". Essa é uma pergunta natural para investidores que se interessaram apenas agora pelo ativo, após todas as altas recentes, mas especialistas acreditam que a resposta é não.

Zogbi pontua que, considerando tanto fatores macroeconômicos de curto prazo quanto aspectos técnicos de médio e longo prazo específicos do ativo, tudo indica que a criptomoeda "não chegou no seu limite". Tudo dependerá, porém, da continuidade do crescimento da demanda dos investidores.

Cunha comenta que essa pergunta não é novidade para ele. "Me perguntaram isso há 4 anos, quando o bitcoin saltou de US$ 4 mil para US$ 12 mil. Agora, ele vale sete vezes mais. Então a minha resposta é simples e objetiva: não. Um dos erros que as pessoas tendem a ter ao investir no bitcoin é tentar acertar essa janela de investimento".

"As pessoas pensam o quanto teriam ganhado se tivessem investido antes, mas é impossível acertar esse timing. Por ser uma classe de ativos muito volátil, a gente sempre recomenda que o investimento seja feito com um prazo de anos, até de quatro anos ou mais, porque tradicionalmente o ciclo do bitcoin ocorre a cada quatro anos. O investimento pode ir mal em três anos, mas nunca teve janela de quatro anos com o bitcoin apresentado perda de capital para quem investiu", pontua.

O executivo da Hashdex comenta que o investidor novato no setor "teria tido mais lucratividade se tivesse entrado antes, mas o bitcoin historicamente recompensa muito bem os investidores que têm uma visão de longo prazo".

Cunha ressalta que "muita gente fica assustada com o retorno passado do bitcoin e acha que talvez já tenha perdido o bonde, mas se elas olharem para o passado, vão ver que teriam essa mesma sensação em vários momentos. A gente não acha que estamos perto do fim do ciclo de alta, mas sim que agora é que começa a fase de alta verdadeira, tanto pela junção de fatores cíclicos do bitcoin quanto fatores externos, como a eleição do Trump".

Ainda não há um consenso sobre quanto o bitcoin vai valer no futuro. Críticos da criptomoeda ainda afirmam que, em algum momento, a "bolha" em torno do ativo vai estourar e ele perderá todo o valor. Por outro lado, defensores da criptomoeda não descartam seu potencial de chegar na casa dos US$ 1,5 milhão por unidade até o ano de 2030.

Quais os riscos?

Cunha, da Hashdex, defende que o erro "mais comum e que mais causa prejuízo" para investidores é escolher não investir no bitcoin. Na visão dele, "é um erro muito grande que priva as pessoas de se beneficiarem, tendo a proporção adequada, com horizonte de longo prazo. Poderiam estar usufruindo dessa rentabilidade que só a classe de criptoativos traz".

Pensando em investidores que já entraram nesse mercado, ele acredita que o erro mais comum surge na hora de escolher a forma de investir: "As pessoas várias vezes investem através de um esquema de um conhecido com uma gestão quase amadora e várias vezes têm problemas com isso, até de ser só uma pirâmide sem cripto por trás".

Outro caso frequente envolve a opção pela autocustódia, em que o investidor deixa seus ativos adquiridos em uma carteira digital própria. Em muitos casos, porém, a perda das chaves de acesso a essas carteiras faz com que os ativos fiquem inacessíveis para sempre.

"Do ponto de vista do investimento em si, um erro muito comum é um ter investimento maior que o recomendável, de tal forma que, pela volatilidade, ao chegar em um momento de perda, não consegue manter essa posição e acaba encerrando o investimento", pontua.

Ele cita ainda outro deslize comum em investidores: "A pessoa investe em um ciclo de baixa, perde dinheiro, segura essa posição, até por ter um tamanho adequado de alocação, e quando bitcoin volta empata de novo e está com um lucro e aí vende. E isso acontece muitas vezes quando ia começar o ciclo de alta, então ela ficou só com a dor, sem o lado bom. Não dá para querer acertar o timing do mercado, de ficar saindo e entrando na hora certa, é muito difícil".

Zogbi, da Nomad, acredita que um dos principais erros dos investidores é o chamado "viés de preço". "A pessoa pensa que comprou em um preço e aí qualquer coisa acima dele é boa e qualquer coisa abaixo é ruim. São vieses psicológicos que ganham mais força porque é um ativo com análise fundamentalista menos clara, e isso leva a decisões que podem ser ruins".

Quais as melhores estratégias?

João Marco Cunha explica que a posição da Hashdex é que os investidores busquem ir além do bitcoin e montem uma "cesta de criptoativos". O ideal, reforça, é que a alocação no setor seja sempre pequena, em um dígito percentual, e em geral com um dígito baixo, até os 5% em relação ao portfólio total de investimentos.

Outra recomendação que ele dá aos investidores é a busca por produtos regulados de investimento, que dão uma "camada de proteção maior". É o caso de ETFs, fundos e corretoras de criptomoedas estabelecidas. Muitos bancos tradicionais também oferecem investimento no bitcoin e outros ativos digitais.

Por fim, ele pontua que "é fundamental ter um profissional de confiança, que vai fazer um trabalho alinhado aos seus objetivos, e ele tem que ter um conhecimento aprofundado sobre o mercado, as criptomoedas e suas dinâmicas e ser capaz de montar um portfólio adequado para você".

Paula Zogbi defende que é preciso que o investidor não comece a investir no bitcoin "tratando ele como uma reserva de valor efetiva no momento. Ele ainda não se comporta dessa maneira, é um ativo volátil, que tende a se movimentar bastante. Portanto, essa exposição ao risco tem que ser condizente com o nível de risco que você está disposto a tomar".

"Por mais que você leia sobre, compreenda, não tem como calcular um preço justo a partir dos fluxos de caixa, como se fosse uma ação, ou a partir de produção de bens, como se fosse uma commodity. Ainda é uma especulação de oferta e demanda, e aí precisa acompanhar as notícias com essa perspectiva", ressalta.

O ideal, explica, é não investir um dinheiro que pode ser necessário no curto prazo e sempre ter um grau de exposição em linha com seu perfil, ou seja, o quanto de risco você realmente é capaz de aguentar. É ideal ainda "evitar se ancorar em um preço, levar em consideração a volatilidade do mercado e não acompanhar o noticiário como uma forma de tomada de decisão. O noticiário pode trazer volatilidade, pânico, e aí precisa ter essa cautela. Ou acredita no potencial de longo prazo e deixa ele quieto, ou quer especular e aí precisa olhar bem quais noticias de fato mexem com o preço do criptoativo".

Se o foco for de longo prazo, Zogbi pontua que uma estratégia eficiente é a chamada DCA, ou dollar-cost average, em que o investidor realiza pequenos investimentos no ativo diariamente, gerando uma média de investimento positiva em relação às flutuações de preço do ativo.

Tomada a decisão de investir e definida a estratégia, "o primeiro passo é garantir que está investindo em um ativo idônio. Existem criptoativos criados para serem golpes. A regulação do mercado ainda está avançando, então esse conhecimento é importante. O bitcoin demanda conhecer a instituição que vai investir, escolher uma exchange de confiança, usar instrumentos já definidos na bolsa".

"A construção de patrimônio deve ser sempre de longo prazo, mesmo que seja com um ativo volátil", destaca.

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