Maior criptomoeda do mundo já caiu mais de 30% na última semana (JUN2/Getty Images)
O mercado de criptomoedas se encontra em um mau momento desde o início de 2022. No entanto, depois de ter passado pelo aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e o estouro de uma guerra, é nesta semana que as principais moedas do mercado despencam de forma mais significativa.
O movimento de queda expressivo levantou dúvidas entre os investidores, que reagem elevando o pessimismo do mercado para seu menor nível no ano, de acordo com o Índice de Medo e Ganância. Com 8 pontos nesta terça-feira, 14, o índice funciona da seguinte forma: quanto menor o número, maior o medo de investidores.
As duas principais moedas do mercado despencaram. O bitcoin, mais de 30%, e o ether 36% nos últimos 7 dias, de acordo com dados do CoinMarketCap. A capitalização de todas as criptomoedas caiu abaixo dos US$ 1 trilhão pela primeira vez desde o final de 2020.
Quatro especialistas brasileiros revelaram à EXAME seus pensamentos sobre o cenário atual das criptomoedas e quais as possíveis razões para uma queda tão acentuada do bitcoin.
De acordo com André Portilho, head de Digital Assets no BTG Pactual, a expectativa de que o banco central norte-americano possa voltar a elevar as taxas de juros no país e a correlação das criptomoedas com o mercado tradicional podem estar influenciando negativamente o preço do bitcoin.
“Cripto está sofrendo junto com as outras classes de ativos por conta da expectativa de aceleração na velocidade de aumento da taxa de juros por parte do Fed, o Banco Central americano. Desde o início do ano, cripto está muito correlacionado com as ações de tecnologia, que também tem sofrido muito recentemente. Uma taxa de juros mais alta nos EUA afeta todos os ativos de risco e cripto ainda é um ativo de risco”, comentou Portilho em entrevista à EXAME.
Felipe Medeiros, analista e sócio da Quantzed Criptos, concorda que há uma forte sinalização de que o Fed possa voltar a elevar as taxas de juros em até 0,75%, um aumento ainda maior que os 0,5% em maio. A inflação bate recordes nos Estados Unidos, e o banco central do país pode precisar recorrer à medida para tentar contê-la.
“O mercado se assustou com a forte sinalização do Fed de que subirá os juros em pelo menos 0,75%, em função da inflação, que é a mais alta dos últimos 40 anos”, disse Felipe Medeiros.
No entanto, este não seria o único motivo para a queda de quase 30% do bitcoin. Nos últimos dias, a plataforma Celsius virou o assunto do momento, mas de forma negativa. Para tentar evitar a insolvência, a Celsius precisou bloquear os saques em sua plataforma, que atuava diretamente com o staking de criptomoedas, gerando pânico no mercado que já anda “calejado” desde a queda de mais de 99,9% da LUNA.
O fenômeno de insolvência ocorre quando uma plataforma ou instituição não consegue honrar uma grande quantidade de saques realizados ao mesmo tempo. Já o staking de criptomoedas é uma forma de geração de renda passiva por meio do bloqueio da movimentação de suas criptomoedas.
“A situação em cripto foi agravada pela situação de insolvência da terceira maior plataforma de empréstimos da cripto. A Celsius bloqueou os saques de todos os clientes, para tentar evitar uma liquidação da maioria dos seus fundos”, relatou o analista e sócio da empresa de tecnologia e educação financeira para investidores de criptomoedas.
Falando no caso LUNA, a criptomoeda que “morreu” após ter despencado mais 99,9% em maio ainda pode colaborar para a tensão entre investidores, de acordo com João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex.
“O bitcoin, assim como os outros criptoativos, tem sofrido com a deterioração do cenário macroeconômico que vem afetando, também, os ativos de risco tradicionais. Além disso, há eventos internos ao segmento de cripto, catalisados por esse cenário geral, como os problemas com o sistema Terra/Luna em maio e com a Celsius há poucos dias, que aumentam a tensão dos investidores”, afirmou Cunha à EXAME.
Neste sentido, o bloqueio de saques da plataforma Celsius apenas agrava o sentimento geral o mercado. Apesar disso, o especialista da gestora de um dos principais ETFs de criptomoedas do Brasil mantém o otimismo de que o bitcoin, a principal criptomoeda, possa se recuperar do momento negativo.
“A despeito do período ruim que vivemos agora e, provavelmente, viveremos no curto prazo, acreditamos que o cenário atual tem pouco impacto sobre os fundamentemos dos criptoativos e os potenciais da tecnologia blockchain. Assim sendo, seguimos otimistas com as perspectivas de longo prazo”, concluiu João Marco Cunha.
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