Perspectivas 2021

Rumor de barreira dos EUA é "sinal amarelo" para criptos em 2021, diz diretor do MB

Apesar de otimista em relação ao futuro do mercado de criptoativos, Fabrício Tota, diretor do Mercado Bitcoin, faz ressalva sobre regulação

 (Mercado Bitcoin/Divulgação)

(Mercado Bitcoin/Divulgação)

GR

Gabriel Rubinsteinn

Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 15h03.

Última atualização em 23 de dezembro de 2020 às 16h13.

Com mais de duas décadas de experiência profissional e forte expertise no mercado financeiro, Fabrício Tota é diretor e líder de processos de inovação e tokenização de ativos no Mercado Bitcoin, uma das principais exchanges do Brasil. Por tudo isso, tem bagagem de sobra para analisar o futuro do mercado cripto no país.

Em entrevista à EXAME, Total se junta a outros nomes de peso do mercado cripto brasileiro e internacional no especial Perspectivas 2021, que pretende trazer opiniões e análises e ajudar a traçar um panoramo sobre o que esperar do setor no ano que vem.

Na conversa, Tota cita a "transformação" do bitcoin em 2020 como argumento para seu otimismo em relação ao mercado cripto em 2021, fala sobre os possíveis impactos — positivos e negativos — do lançamento do Ethereum 2.0, diz quais são as três startups de blockchain do Brasil que acredita que se destacarão no próximo ano, faz uma ressalva sobre o risco de eventual "perseguição" de governos às criptos e muito mais.

Confira a entrevista:

Future of Money: Qual é sua perspectiva para o mercado cripto em 2021?
Fabrício Tota:
A perspectiva, a julgar por 2020 e pelo cenário macroeconômico, é extremamente positiva para o bitcoin e para grande parte das criptomoedas. Foi um ano emblemático, no qual a resposta dos bancos centrais à pandemia fez com que o bitcoin fosse visto de outra óptica, como um ativo de proteção contra a inflação. Além disso, uma grande alta, como a que vivemos nesse ano, com o bitcoin se destacando, pode ser um bom gatilho para as altcoins terem um momento de glória e escalarem de preço com força em relação às moedas fiduciárias e até mesmo ao próprio bitcoin. Por fim, blockchain como infraestrutura para tokenização de ativos alternativos é uma tendência validada e que deve ganhar escala no próximo ano.

FoM: Qual será a altcoin de maior destaque em 2021? Por quê?
FT: 
É sempre complexo cravar uma altcoin, mas acredito que o ether (ETH), se cumprir o prazo de entrega da Ethereum 2.0 com todas as mudanças previstas para o primeiro momento, pode ter uma forte escalada de preços. Com ela, os tokens ERC-20 e dos outros padrões da rede Ethereum poderão se beneficiar também, por ter um ambiente, ao que se espera, mais robusto, escalável e descentralizado. Claro que esse cenário depende do sucesso da implementação da Ethereum 2.0, mas, se acontecer como esperamos, acho que o próprio ETH e os demais tokens poderão ser uma boa aposta para 2021. Parte desse efeito já pode ser visto no próprio ETH neste ano de 2020, com uma alta de praticamente 400% em dólares.

FoM: Qual a melhor notícia que pode surgir para o bitcoin e para as criptos de modo geral em 2021?
FT: 
O ano de 2020, por mais caótico que tenha sido, nos ensinou muito no mercado cripto. Ficou clara a visão que os grandes investidores começam a ter sobre o bitcoin, de ser um ativo descorrelacionado, antifrágil e anticrise. E, acima de tudo, um ativo escasso e para o longo prazo. Dito isso, o interesse institucional e de investidores até então tradicionais pode ser um catalisador para o surgimento de novos instrumentos facilitadores para que estes comprem bitcoin. Regulação cada vez mais clara, trazendo mais segurança, bem como novas formas de acesso aos ativos digitais, como a iniciativa do PayPal, são nossas apostas. Grandes empresas e investidores seguindo os passos da MicroStrategy, por exemplo, também estão em nosso radar.

FoM: Qual a pior notícia que pode surgir para o bitcoin e para as criptos de modo geral em 2021?
FT: 
Não vejo uma notícia possível que possa impactar diretamente o bitcoin de forma negativa. Apenas se algum país relevante para a economia global aplicar algum tipo de sanção à negociação ou custódia de criptomoedas em seu território. O rumor de que a administração Trump poderia, no apagar das luzes de 2020, colocar algumas barreiras às transferências de criptoativos é um sinal amarelo. Olhando especificamente para outros ativos, o Ethereum 2.0 é um divisor de águas que, se apresentar alguma falha crítica, pode gerar uma pancada nos preços no curto prazo. Vale ficar de olho também no setor de DeFi, de finanças descentralizadas, que viveu algumas semanas intensas neste ano. Importante acompanhar como evoluirá diante das fusões que estão ocorrendo.

FoM: Qual aplicação em blockchain se tornará mais popular no ano que vem?
FT: 
Um palpite um pouco mais ousado aqui, vai para um subnicho de um setor específico. Eu acredito que as aplicações de DeFi ligadas especificamente à negociação de derivativos possam explodir em 2021. Acho que todo o mercado de DeFi olha mais para as aplicações de empréstimos descentralizados, e isso acaba tirando um pouco dos holofotes desse outro setor. Não há, hoje, um player dominante e abrangente para derivativos. É um espaço a ser ocupado.

FoM: Qual startup blockchain brasileira tem maior potencial de inovação e impacto no mercado para 2021?
FT:
Para não ficar com somente uma, vou com três: MB Digital Assets, criando em maior escala estruturas de tokenização para o setor de precatórios, consórcios e futebol, além de trazer outras classes de tokens para negociação; Meubank dando um acesso mais simples a uma conta digital com negociação de criptoativos, com potencial de ter uma grande penetração de mercado; finalmente a Bitrust, trazendo um serviço de custódia qualificada que tem tudo para ser a mudança necessária para termos empresas brasileiras alocando em criptomoedas parte de sua tesouraria.

FoM: O que passou despercebido para a maioria no mercado cripto em 2020?
FT: 
Em primeiro lugar, eu diria que foram as aplicações de finanças descentralizadas voltadas para negociação de derivativos, na Ethereum. Como já citamos, pode ter uma explosão em 2021. Além disso, não diria que passou despercebido, mas quem está dentro do mercado pode ter mais dificuldade em perceber como os mercados tradicionais olham o mercado cripto. Por mais que o rally de 2020 seja bastante diferente do rally de 2017, muitos ainda veem essa indústria com ceticismo. Temos um longo caminho pela frente.

FoM: Qual será o preço do bitcoin em dezembro de 2021?
FT:
A pergunta mais difícil! Mas vamos lá: o que era topo vai se tornar piso, e me arrisco a dizer que o bitcoin termina 2021 sendo negociado por 250.000 reais.

Quer saber o que pensam outras grandes mentes por trás dos principais projetos cripto e blockchain do mundo, para reunir informações e opiniões, e chegar às próprias conclusões sobre o que 2021 reserva para esse mercado? Fique de olho no projeto Perspectivas 2021, do Future of Money, nos próximos dias!

Acompanhe tudo sobre:BitcoinCriptomoedasmercado-bitcoin

Mais de Perspectivas 2021