(Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 15h44.
Última atualização em 22 de dezembro de 2020 às 17h42.
Em mais uma entrevista exclusiva do especial "Perspectivas 2021" da EXAME, João Canhada, CEO da Foxbit, analisa e opina sobre o futuro do mercado de criptoativos no Brasil e no mundo.
Canhada é um dos pioneiros do setor no país: em 2014, quando tinha 23 anos, criou, junto com Felipe Trovão e Guto Schiavon, a Foxbit, exchange cripto que atualmente é uma das maiores do Brasil e da América Latina.
Nesses mais de seis anos atuando no mercado cripto, Canhada vivenciou os altos e baixos do bitcoin e outros projetos em blockchain e viu o mercado crescer e se desenvolver, o que o credencia como alguém com propriedade para falar sobre o assunto.
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Na entrevista, Canhada conta em qual altcoin "aposta" para 2021, falar sobre as suas perspectivas de crescimento do mercado e palpita sobre o preço do bitcoin — que, segundo ele, pode chegar a 200 mil dólares.
Confira o papo com o jovem executivo:
Future of Money: Qual é sua perspectiva para o mercado cripto em 2021?
João Canhada: Novos gigantes, como alguns investidores bilionários e grandes empresas fizeram esse ano, devem ceder e anunciar que estão trabalhando com bitcoin, ou adquirindo bitcoin, posicionando ainda mais esse ativo como reserva de valor. Isso definitivamente vai trazer impactos no preço. Nos últimos halvings (quando a oferta é cortada pela metade), o bitcoin sempre bitcoin teve alta histórica de preços no ano seguinte, superando em até 10 vezes os topos anteriores. Se isso se repetir, veremos o bitcoin a 200 mil dólares ainda em 2021.
FoM: Qual será a altcoin de maior destaque em 2021? Por quê?
JC: O ether (ETH) deve ser a altcoin mais empolgante do próximo ano. O preço deve buscar seu topo de 1.400 dólares [registrado em janeiro de 2018], e ela segue sendo a altcoin mais completa. Em que pese a tecnologia, é no ETH que praticamente todos os tokens de stablecoins são movimentados e nele que temos grandes investimentos e criação de tokens atrelados a tudo. O mundo está sendo tokenizado e ETH é o principal criptoativo utilizado para infra-estrutura nesse novo mundo de tokens. Neste mês, teve início ao stake do ETH, que é quando a rede paga prêmios aos detentores da rede por estes travarem os tokens em contratos de stake. diferente do PoW (proof-of-work, ou prova de trabalho) do bitcoin, onde o poder computacional da rede recebe recompensas, esse modelo dá recompensas de acordo com a posse dos ativos. É um modelo bem interessante, pois no ETH foi implementado de forma mista com o PoW. A rede deve continuar evoluindo em 2021.
FoM: Qual a melhor notícia que pode surgir para o bitcoin e para as criptos de modo geral em 2021?
JC: O Governo do Irã e da Venezuela estão trabalhando ativamente com bitcoin, porém são países pequenos e irrelevantes em relação ao tamanho do seu PIB, quando comparado aos 10 maiores PIBs do mundo. Mas a melhor notícia acredito que seria bancos centrais dos maiores países do mundo anunciarem reservas em bitcoin ao lado das reservas de ouro, o que consolidaria de vez o bitcoin e o seu papel no mundo cada vez mais digital.
FoM: Qual a pior notícia que pode surgir para o bitcoin e para as criptos de modo geral em 2021?
JC: Um hacking em alguma grande corretora de criptoativos apenas traria pânico por curto período de tempo, mas não atrapalharia os fundamentos do bitcoin no longo prazo. Por isso, acredito que a pior notícia seria algum problema desconhecido na tecnologia, alguma maneira de quebrar a criptografia, algo que não chegou perto de acontecer nesses primeiros 10 anos do bitcoin. Ou, então, uma proibição generalizada de criptoativos dos maiores países, pois atrapalharia a liquidez global do ativo.
FoM: Qual aplicação em blockchain se tornará mais popular no ano que vem?
JC: Em tempos de pandemia, não ter que sair de casa para ir ao cartório é bem importante, então acredito que a certificação digital utilizando blockchain deve ganhar força nesta próxima década. É uma tecnologia já pronta, não estamos falando de futurismo. Isso pode ser feito amanhã! Depende apenas da aceitação e do conhecimento geral sobre essa qualidade do blockchain — e definitivamente vai acontecer.
FoM: Qual startup blockchain brasileira tem maior potencial de inovação e impacto no mercado para 2021?
JC: A OriginalMy é, para mim, o melhor caso de uso de blockchain feito por brasileiros, e com um cara brilhante à frente — o Edilson Osorio. Esse ano testaram uma tecnologia proprietária usando blockchain para eleições, que permite votar pelo celular, o que deve ser um fato notável em breve, e tem uma chance enorme deles estarem por trás. Quem sabe em 2022 a gente não precise sair de casa pra votar?
FoM: O que passou despercebido para a maioria no mercado cripto em 2020?
JC: A evolução das corretoras de criptoativos foi notável, não houve relatos sequer parecidos com o que aconteceu em 2017. Temos hoje uma gama absurda de instrumentos financeiros à disposição, que não tínhamos em 2017, tudo ocorre com uma fluidez enorme, tudo automatizado, quem usa bitcoin hoje em dia pela primeira vez pode achar que foi sempre assim, mas é só comparar uma corretora de bitcoin com uma corretora de ações tradicionais e vai verificar que o mercado tradicional está ficando pra trás. Ainda tem muito a ser criado em nosso ecossistema, e sem dúvidas será mais um ano de grande evolução no mercado como um todo. Mas 2020 foi o ano que bitcoin se provou como reserva de valor e que tudo funcionou em seu ecossistema, poucas notícias foram ruins ao mercado cripto ao longo do ano, e mais uma vez o bitcoin provou sua resiliência. Para quem conheceu o bitcoin agora, pode parecer normal, mas foi um feito notável e um ano incrível.
FoM: Qual será o preço do bitcoin em dezembro de 2021?
JC: Definitivamente maior do que esse fechamento de 2020. Estamos em um momento ímpar na história da humanidade, e 2021 pode definir, entre todos os investidores, o bitcoin como o NOVO ativo de reserva financeira global. 20 mil dólares pode ser barato perto do que acontecerá no preço se essa frase se tornar verdade entre os principais fundos de investimentos globais.
O especial "Perspectivas 2021", da EXAME, pretende mostrar opiniões e análises de alguns dos nomes mais relevantes do mercado de criptoativos no Brasil e no mundo. A cada dia, um convidado diferente dá seus "pitacos" sobre o que esperar para o setor no ano que vem.
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