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Organização cripto que arrecadou doações para a Ucrânia é acusada de fraude

Investigação de jornal ucraniano aponta que a UkraineDAO não enviou para o país parte dos fundos que obteve em 2022

UkraineDAO realizou leilões de NFTs para arrecadar doações (shapecharge/Getty Images)

UkraineDAO realizou leilões de NFTs para arrecadar doações (shapecharge/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 27 de abril de 2023 às 10h17.

A crise humanitária causada pela guerra da Ucrânia fez com que diversas organizações e iniciativas surgissem para arrecadar doações e ajudar os afetados pelo conflito. Entretanto, uma delas é agora acusada de fraude. Em uma investigação, o jornal ucraniano Kyiv Post mostrou problemas nas operações da UkraineDAO.

Como o nome sugere, o projeto era uma organização autônoma descentralizada (DAO, na sigla em inglês), um tipo de organização comum no mundo das criptomoedas, que não costuma contar com autoridades centrais de gerenciamento e que opera a partir de contratos inteligentes, buscando ter maior transparência.

Em uma reportagem sobre a UkraineDAO, o jornal destacou que a iniciativa ganhou o apoio de nomes famosos, incluindo Nadia Tolokonnikova, da banda russa Pussy Riot, e Vitalik Buterin, um dos fundadores do blockchain Ethereum. Entre 26 de fevereiro e 2 de março, ela leiloou tokens não-fungíveis (NFTs) da bandeira da Ucrânia, arrecadando US$ 6,8 milhões.

Mas o Kyiv Post afirma que nem todo valor arrecadado foi destinado para ajudar os ucranianos. Registros de transferências em blockchain mostram que 52 ethers, cerca de US$ 134 mil, foram transferidos do endereço do UkraineDAO para uma carteira desconhecida em 14 de março.

Outra transferência de 60 ethers, cerca de US$ 155 mil, foi realizada para uma carteira na agora falida corretora FTX. Um dos cofundadores da organização, Matthew Bundy, teria recebido cerca de US$ 34 mil enviados pela UkraineDAO a uma de suas carteiras digitais.

Além disso, dias após o leilão de NFTs, a cantora Nadia Tolokonnikova retirou seu apoio à UkraineDAO. Ela alegou que havia sido convencida a participar da iniciativa porque "100%" das doações seriam destinadas à Ucrânia. Na prática, porém, alguns desses fundos não foram enviados, e foram usados para pagar um salário de US$ 5 mil por mês para Alona Shevchenko, criadora da organização.

Indícios de golpe

A UkraineDAO também afirmou que recebeu apoio do Ministério de Transformação Digital da Ucrânia. Entretanto, em entrevista ao Kyiv Post, o vice-ministro responsável pela pasta negou essa informação. A investigação do jornal também se voltou sobre o token lançado pelo projeto.

Batizado de LOVE, ele foi divulgado pela organização como um souvenir para presentear as pessoas que realizaram doações, sem ter qualquer tipo de valor ou objetivo de ser usado em negociações e investimentos especulativos. Desde então, porém, ele registrou movimentações na casa dos US$ 20 milhões.

Especialistas consultados pelo jornal afirmaram que diversas transações envolvendo o criptoativo tinham "a aparência de serem ilícitas". Em um único dia, mais de US$ 40 mil em unidades do token foram compradas e vendidas, sem uma razão óbvia para a movimentação. Em 20 de outubro, foram US$ 4,1 milhões em transações.

O jornal revelou ainda que a UkraineDAO, Shevchenko e a PleasrDAO - outra organização autônoma que deu origem à iniciativa de doações - foram denunciados para as autoridades financeiras do Reino Unido, que afirmaram que a organização "pode ser um golpe", já que não possui registro junto ao órgão.

O Kyiv Post afirmou que tentou entrar em contato com a PleasrDAO e com os cofundadores da UkraineDAO para falar sobre o caso, mas não recebeu uma resposta até o momento.

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