(Reprodução/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 19 de agosto de 2023 às 10h05.
O mercado de criptomoedas vem crescendo cada vez mais nos últimos anos. Somente no Brasil, os investidores saíram de 2% para 3% no ano passado e segundo pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 6,3 milhões de brasileiros declararam investir em ativos digitais no ano passado.
Ainda falta muito para atingirmos o 1 bilhão de pessoas investindo em cripto, mas isso é realmente possível?
Fiz uma defesa de que os players do universo cripto (incluindo desenvolvedores, usuários, comunidades, DAOs, empresas privadas etc.) devem se preocupar em expandir e democratizar esse universo especialmente por conta de três eixos/promessas, que definem o proveito a ser obtido pela população em geral das inovações oferecidas por esse novo ambiente: autonomia digital, prosperidade coletiva e participação comunitária.
Atualmente, parte significativa do cotidiano das pessoas é passado em ambientes digitais. Segundo pesquisa da WeAreSocial (Digital 2023, Global Overview), esse tempo chega a mais de 9h30, no caso do Brasil, com a média global em torno de seis horas diárias online.
No entanto, o uso da internet se resume, em maioria, a sites, dispositivos e aplicativos privados, controlados por grandes empresas de tecnologia que carecem de transparência de funcionamento (algoritmos de seleção/recomendação de conteúdo, gatilhos de conversão, exatidão sobre o volume e a categorização dos dados coletados dos usuários), de forma que o usuário médio não tem muita escolha senão se adaptar a essas empresas e disponibilizar seus dados gratuitamente em troca dos serviços utilizados.
A proposta das criptomoedas e das suas tecnologias vinculadas (blockchains, contratos inteligentes etc.) é mudar essa lógica: cada pessoa tem controle e propriedade sobre suas informações, e pode entender a fundo como cada rede/aplicação descentralizada/protocolo funciona, de forma a fazer decisões informadas sobre onde se conecta e por qual motivo.
Isso traz benefícios a curto e longo prazo, pois inibe agentes privados de se beneficiarem exclusivamente de serviços usados no dia a dia pelas pessoas (redes sociais, mensageiros, plataformas de streaming), aumenta a diversidade de soluções existentes (afinal, não haverá apenas um ou poucos players controlando sua atenção, e sim uma paisagem ampla de formas de se relacionar online de acordo com interesses, nível de educação tecnológica, oferta de serviços de acordo com demandas específicas), e pode mesmo elevar a qualidade do conteúdo e cultura online, escapando do paradigma do conteúdo “personalizado” hiper-específico de hoje (cujo foco é atingir e converter consumidores), na direção de experiências que fomentem discussão, colaboração e consumo crítico entre “netizens” de forma peer-to-peer.
À medida em que o mercado cripto amadurece, vemos novos projetos surgindo todos os dias, ligados a diferentes tipos de soluções: jogos, redes sociais, facilitadores de pagamento, Internet das Coisas, privacidade, emissão e distribuição de créditos de carbono - as possibilidades são virtualmente infinitas, especialmente levando em conta a integração da nossa rotina offline a aparelhos digitais; e todos podem tirar proveito das propostas que realmente causam impacto: investir em uma rede, ou um protocolo, ou uma aplicação específica, é mais fácil com cripto do que com qualquer outra modalidade financeira (private equity, ações).
Nesse sentido, o universo de tokens abre caminho para a democratização do mercado financeiro, não apenas na facilidade em comprar e vender tokens específicos, mas também na obtenção de serviços antes possíveis apenas via bancos e grandes corretoras: empréstimos, mercados futuros, derivativos. Além disso, qualquer pessoa pode fornecer capital para essas operações e obter lucro em cima disso, como é o caso dos AMMs (Automated Market Makers, que conectam pools de liquidez criadas por usuários do sistema a pessoas que querem fazer swap entre tokens, empréstimos ou outras operações correlatas).
A cultura de colaboração e horizontalidade é muito forte no universo cripto. Hoje vemos iniciativas descentralizadas de educação financeira (como Bankless), corretoras e AMMs geridas pela comunidade (Uniswap, Curve), entre outros exemplos. Além disso, há no horizonte dos principais proponentes do mercado que essa descentralização seja radicalizada; a rede Cardano, por exemplo, uma blockchain independente (“Camada 1”), tem em seu roadmap a criação de mecanismos que impeçam a concentração de poder entre poucos usuários.
Esses exemplos são importantes porque a paisagem do que será o futuro de cripto pode ser definida por essas comunidades, normalmente organizadas em torno de DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas), em que detentores de um token específico podem fazer propostas e votar nas que melhor definem seus interesses para o projeto. Essa abertura e esse nível de integração com a comunidade é algo nunca antes visto, tanto no que diz respeito ao mercado financeiro, quanto em relação a empresas e soluções de tecnologia (pode ser que o próximo Facebook da Web3 seja gerido pelos milhões de usuários que o utilizam, por exemplo).
Mas e depois que democratizarmos esse universo, ainda assim teremos 1 bilhão de pessoas em cripto? Creio que temos ainda muitos outros desafios pela frente, como por exemplo superar desafios como: usabilidade, credibilidade, educacional e comunidades.
São esses desafios que vão atrair mais investidores para as criptomoedas. Entendo também que o principal problema é de interface, isto é, de como o público tem acesso ao mercado, e esse problema se desdobra em duas dimensões: a interface tecnológica e a interface narrativa.
No que diz respeito à interface tecnológica, creio que a indústria precisa buscar esses usuários ativamente, construindo plataformas, aplicativos e ferramentas que se conectem com o nível de consciência da pessoa comum sobre o mercado, e também sejam experiências didáticas, agradáveis e informativas.
No que diz respeito à narrativa, ou seja, o norte simbólico que vai guiar as impressões e opiniões das pessoas sobre esse mercado (e então determinar se o consumidor opta ou não por participar desse universo), o desafio é mais complexo, e envolve os players do mercado, as empresas midiáticas e as comunidades de usuários no geral.
Acho que alinhando esses desafios, interfaces e, claro, interesse do público alvo, vamos atrair cada vez mais investidores e atingir, quem sabe, mais de 1 bilhão.
* Will Ou é CEO da token.com, app mobile que permite acesso à economia de tokens.
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