Região pode liderar adoção de tecnologia blockchain (Blackdovfx/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de novembro de 2022 às 11h31.
A América Latina sofre com a crescente pressão social e financeira. Hoje, 70% da população da região permanece desbancarizada ou não-servida por instituições financeiras, e 58% das compras nos pontos de venda ainda são feitas em dinheiro.
A Venezuela sofreu com mais de 65.000% de inflação em 2018, 24% do PIB de El Salvador é baseado em remessas de dinheiro, e milhões no resto do continente não têm acesso a crédito. Ao examinar as necessidades específicas de cada país da região, começa-se a entender como a tecnologia já impactou a vida de milhões de pessoas, mas ainda existem novas aplicações pela frente.
Viajei para a Colômbia em outubro para a maior conferência de blockchain do mundo, a Devcon. Todos os anos, desde 2014, a Devcon reúne uma comunidade global de exploradores do Ethereum. Dada a natureza diversificada e internacional da conferência - com edições em Osaka, Praga, Cancún, Berlim e, este ano, Bogotá —, a Devcon não pode ser considerada uma conferência tecnológica.
É uma comunhão para builders de todos os tipos. As principais mentes da comunidade Ethereum, incluindo o próprio Vitalik Buterin, juntam-se à Devcon para divulgar as últimas pesquisas e os próximos desafios que a indústria enfrenta. Após 7 dias de intermináveis palestras informativas, hackathons, eventos paralelos e festas (sim, muitas festas) - nem uma única vez o preço do Ethereum foi mencionado. Nem uma única vez.
Como Venture Capitalist, meu objetivo na Devcon era muito claro. Eu queria encontrar e entender fundadores de alto nível construindo os próximos modelos de negócios disruptivos. Tolo da minha parte acreditar que todos os empreendedores estão dedicados apenas à criação de modelos de negócios para a entrada do próximo bilhão de usuários na Web3.
Concentrando-me nas empresas latino-americanas baseadas em blockchain, notei a grande diferença entre os empresários gringos e latino-americanos. Excluindo a LatAm, a comunidade blockchain está muito centrada em soluções de escalabilidade de “camadas 2” (layers 2), garantindo uma rede segura e descentralizada para a década vindoura.
Os latinos estão bastante focados nos problemas que cripto veio resolver - bancarizar os não-bancarizados, introduzir produtos financeiros às massas, proporcionar transparência de preço e governança aos consumidores, cobertura cambial, e muito mais.
Aproveitando a excelente infraestrutura construída pelos desenvolvedores do Ethereum e, ao mesmo tempo, resolvendo seus problemas em casa, o pote de ebulição dos novos produtos da Web 3 está sendo fomentado pela América Latina - não escrevo isto levianamente.
Sejam colombianos, venezuelanos, brasileiros, mexicanos e argentinos, os empreendedores latinos têm, em sua maioria, mergulhado em cripto para resolver os problemas estruturais dos respectivos países que têm sido terríveis de resolver desde o início.
A melhor parte é que há provas substanciais de que a região está na vanguarda da adoção. Vou citar alguns exemplos, alguns dos quais fazem parte do portfólio da Fuse Capital, para tornar isto mais claro. Em menos de 3 anos de lançamento, o ETF da Hashdex, HASH11, tornou-se o segundo mais negociado no Brasil.
O crescimento no varejo do número de usuários em cripto tem sido muito mais rápido do que no mercado de ações. A Credix, um protocolo de DeFi que direciona a captação descentralizada de recursos para fintechs em mercados emergentes, atingiu US$ 25 milhões em crédito total emitido - com uma meta de atingir US$ 100 milhões até o final de 2022.
De modo geral, dados on-chain e entrevistas com operadores na região mostram que a América Latina adotou as criptomoedas por diversas razões, dependendo das necessidades únicas de cada país. A América Latina recebeu BRL$2,9tn (US$560bn) em cripto entre julho de 2021 e julho de 2022, um aumento de 40% ao ano, tornando-a a região de mais rápida adoção no mundo. À medida que as criptomoedas evoluem e as necessidades dos usuários latino-americanos mudam, será interessante ver casos de uso surgirem.
O financiamento, no entanto, continua a ser escasso na região. De acordo com a CB Insights, no primeiro semestre de 2022, apenas US$ 47 milhões foram investidos na América Latina, em comparação com US$ 3,4 bilhões nos EUA e US$ 1,5 bilhão na Europa e Ásia.
Por incrível que pareça, até mesmo a Austrália recebeu mais recursos do que um continente inteiro! Estar na Devcon e ver como mexicanos, brasileiros, argentinos e outros estão construindo a próxima geração de produtos baseados em blockchain é um indicador de que soluções de altíssimo nível estão chegando ao continente.
*José Bernardes atualmente se concentra em criptográficos e verticais fintech na gestora de criptomoedas Fuse Capital. Ele liderou o processo STO do Fuse Capital Fund I, uma iniciativa sem precedentes na América Latina para um fundo VC. Antes da Fuse, ele trabalhou na divisão Sales & Trading na Barclay's e no IBD, na Brasil Plural. José é venezuelano e brasileiro e já viveu em seis países diferentes. Ele é formado em Economia pela New York University.
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