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Oliveira Trust: por que gestora de R$ 150 bilhões decidiu investir em tokenização?

Em entrevista à EXAME, o CEO da empresa falou sobre vantagens e potencial que a tokenização apresenta no Brasil

Tokenização ainda enfrenta desafios, mas traz vantagens que favorecem crescimento (Reprodução/Reprodução)

Tokenização ainda enfrenta desafios, mas traz vantagens que favorecem crescimento (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 17 de julho de 2023 às 18h47.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 18h57.

A tokenização é vista por especialistas como uma das principais tendências para o mercado financeiro nos próximos anos, com potencial de criar um segmento trilionário. Entretanto, a área ainda é majoritariamente associada a startups e empresas mais novas. Isso não significa, porém, que companhias mais antigas não estejam ingressando e investindo nessa área, pelo contrário.

Um exemplo é o Oliveira Trust. O grupo financeiro foi criado há 32 anos como uma distribuidora de títulos e valores mobiliários (DTVM) com foco em intermediação, e cresceu no segmento de representação de credores e administração de fundos. Hoje, o grupo é formado por cinco empresas, tem R$ 150 bilhões de patrimônio administrado, abriu o capital na CVM em 2021 e está com um IPO no radar, possivelmente para 2024.

E, além disso, já realizou dois investimentos em empresas ligadas à tokenização. Os alvos foram duas tokenizadoras — que são responsáveis por organizar e realizar o processo de criar uma cópia digital e inserida em um blockchain de ativos reais —, a Liqi e a Bee4. E em entrevista exclusiva à EXAME, o CEO do Oliveira Trust, Alexandre Freitas, destacou que novos investimentos já estão nos planos da empresa.

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As vantagens da tokenização

Freitas explica que a escolha de investir na tokenização está diretamente ligada às vantagens da prática que foram identificadas pelo Oliveira Trust. A empresa acredita que a tecnologia vai mudar e melhorar tanto as operações de debêntures estruturadas quanto as de fundos de investimento, podendo "aumentar o universo de clientes e as empresas atendidas".

"Hoje, uma debênture está muito limitada a empresas de capital aberto, e fundos de investimento têm um universo maior. A gente vê a tokenização como uma terceira via, uma evolução das operações de securitização para o mercado que vai permitir que atinja um número muito maior de empresas interessadas em vender ativos e um universo muito maior de investidores", comenta.

Ele acredita que a tokenização vai ser bem-sucedida em especial com uma geração mais nova de investidores, que "têm um hábito maior de lidar com ativos digitais e serão os grandes investidores desses produtos". Mesmo assim, a tendência é que a prática se dissemine pelo mercado, exatamente pelas vantagens que ela traz em relação às operações tradicionais.

A principal é a redução de custos. O CEO do Oliveira Trust explica que "quando você pensa em uma emissão de debêntures, de um fundo estruturado, tem um custo alto que contempla todos os participantes da estrutura e o cumprimento regulatório que exige. Esse custo mais elevado inviabiliza a entrada de empresas e operações de pequeno e médio porte. Tem o custo bancário também para distribuir esses valores mobiliários".

"Quando vai para a tokenização, a venda ocorre até em minutos, de forma direta entre a empresa emissora e o investidor final, com valores muito mais variáveis. É muito rápido, direto, com custos menores, conseguindo atender o cliente de pequeno e médio", destaca. Por isso, essas operações tendem a trazer ganhos de eficiência e redução de custos que permitirão democratizar diversos tipos de investimento, ajudando na expansão do segmento.

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Desafios

Apesar das vantagens, Freitas também vê riscos para o segmento. O principal é que ainda há uma ausência de clareza regulatória para o mercado de tokens, apesar de iniciativas recentes da CVM para tentar criar orientações nesse sentido. "A gente acha que a ausência regulatória para o mercado de token é um mau negócio do ponto de vista de segurança, mas bom no sentido de atrair novos players, porque tem velocidade maior, mais vantagens de um ambiente em desenvolvimento", pontua.

Mesmo assim, "não ter a regulação, as normas específicas, gera uma insegurança que afasta grandes investidores". Ele acredita que o tema "está na cabeça da CVM" e que o regulador vai buscar "não pesar a mão na regulação para não matar o produto". Com a aprovação do Marco Legal das Criptomoedas, a competência da CVM foi reforçada, o que vai viabilizar a criação de normas específicas.

"O desafio é tentar levar para o público em geral, os investidores, todas as visões de risco. O retorno não é garantido, a duplicata precisa ser paga, são coisas do mundo real. A inadimplência para execução afeta em torno de 3% das operações, então 96%, 97% das operações vão conseguir rodar em dia, liquidando, sem intervenção humana, rodando no blockchain. Mas precisa informar o risco, é o que está faltando", destaca.

Ao mesmo tempo, o CEO do Oliveira Trust também vê um cenário de "enxurrada de emissões de tokens, com várias tokenziadores surgindo e oferecendo diferentes retornos mas sem informar o lastro". Para ele, esses empreendimentos "passaram um pouco do nível do razoável. Prometer rentabilidade garantida em uma mercado pulverizado é temerário, o setor não está maduro a esse ponto".

A tendência, segundo Freitas, é que a regulação reduza essas questões e, ao mesmo tempo, viabilize a entrada de grandes empresas no setor. O próprio Oliveira Trust, afirma, já está analisando operações de tokens com grandes players, incluindo bancos, e espera lançá-las para o público até o fim desse ano. "São operações pequenas em números, mas inovadoras, abrindo uma parta. A ideia é ter um token tão seguro quanto uma debênture, mas com custo menor", explica.

Outro movimento que deverá impulsionar ainda mais a tokenização é o avanço do projeto do Real Digital. Freitas diz que a iniciativa é "fantástica" e vai "ajudar demais" o segmento. A principal mudança positiva, na visão dele, vai ser a inserção no mercado de uma moeda digital segura e regulada que poderá ser usada nas operações. Hoje, esse papel cabe às stablecoins, criptomoedas de emissão privada que são pareadas a moedas fiduciárias, mas com riscos.

"Quem emite a stablecoin é a tokenizadora, elas têm um risco. O Real Digital elimina isso. Você já tem um valor em uma conta, transforma em Real Digital e aí compra qualquer ativo digital, em qualquer corretora, com o selo do Banco Central. Isso elimina riscos e cria uma segurança muito grande para o mercado, então o Real Digital é muito esperado, vai trazer grandes investidores", projeta.

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