Digital generated image of data space. (Getty Images/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 16h00.
Grandes empresas já estão divulgando as previsões e cenários tecnológicos para o futuro e a maioria aponta transformações significativas em múltiplos setores.
Com mais de duas décadas no mercado de tecnologia, vivi esta trajetória desde seu início. Participei da revolução da internet, da ascensão dos smartfones e início da computação móvel, das redes sociais e da comunicação digital. Vi de perto a explosão do ecommerce, a internet das coisas (IoT) e a evolução da conectividade, a computação em nuvem viabilizando o armazenamento e processamento de dados em larga escala, e a chegada da inteligência artificial.
Tema onipresente em 2024, a inteligência artificial permanece uma unanimidade entre todas as tendências, e com certeza seguirá transformando o cenário tecnológico cada vez mais complexo e em constante evolução sob diversos aspectos.
Mas o verdadeiro desafio para 2025 não está apenas no desenvolvimento de novas ferramentas ou no avanço de algoritmos computacionais, mas no uso consciente da tecnologia para enfrentar os problemas criados pela própria sociedade. É fundamental reconhecer que a tecnologia não é neutra, mas um reflexo direto de nossos valores, intenções.
Com base na minha experiência, algumas previsões do Dr. Werner Vogels, VP e CTO da Amazon, chamaram minha atenção. A mais marcante é o uso da tecnologia para promover o bem. Entre as tendências, destaco três que mostram como a tecnologia pode amplificar a engenhosidade humana de forma inspiradora.
Enquanto o mundo enfrenta desafios urgentes como sustentabilidade, equidade social, segurança alimentar e econômica, além do uso responsável da IA, uma revolução silenciosa ocorre no mercado de trabalho.
Está surgindo uma força de trabalho voltada para um propósito, mais ansiosa para resolver problemas humanos difíceis do que para perseguir o resultado final. Nos próximos anos, o uso da tecnologia para causar impacto positivo não será apenas possível - ele redefinirá a maneira como pensamos sobre o sucesso.
A nova geração de profissionais busca, além do resultado financeiro, a oportunidade de criar um impacto positivo na sociedade. Como nativos digitais, e conscientes dos desafios globais, esses indivíduos buscam carreiras que aliem propósito e profissionalismo, e que priorizem questões como saúde mental, mudanças climáticas e equidade social.
Essa mudança de valores impulsiona a criação de novas profissões híbridas, que combinam conhecimentos técnicos com uma profunda compreensão dos desafios sociais e ambientais. As organizações e empresas que reconhecerem essa mudança e adotarem o trabalho orientado por objetivos estarão preparadas para o sucesso a longo prazo. A força de trabalho do amanhã não será apenas eficiente, mas também engajada e comprometida com um mundo mais justo e sustentável.
Passamos rapidamente de uma era de ciclos prolongados de notícias que duravam semanas ou meses, para um fluxo constante de atualizações que surgem na velocidade de um clique. As plataformas de mídia social se tornaram a principal fonte de divulgação e consumo de notícias, e nunca foi tão difícil distinguir entre o que é verdadeiro e o que é falso.
A confiança do público na mídia tradicional e nos veículos de notícias e as implicações são profundas: 52% da população tem dificuldades para identificar informações genuínas, o que leva a um ceticismo generalizado e ao compartilhamento de informações incorretas.
No entanto, se a tecnologia ajudou a alimentar a crise, ela também é a chave para solucioná-la. Uma nova onda de ferramentas baseadas em IA surgirá para capacitar jornalistas, pesquisadores e cidadãos engajados em sua busca pela verdade.
Essa revolução tecnológica irá democratizar os recursos de investigação, acelerará a verificação de fatos e começará a fechar a lacuna entre a disseminação da desinformação e seu desmascaramento. Até 2028, o Gartner prevê que 50% das empresas começarão a adotar produtos, serviços ou recursos especificamente projetados para lidar com casos de uso de segurança contra desinformação, em comparação com menos de 5% hoje.
A tecnologia tem desempenhado um papel importante na prevenção de catástrofes e vem fazendo uma grande diferença na resposta a desastres. Nem sempre é possível prever o tamanho exato de fenômenos naturais, mas é possível evitar que as ameaças, como secas ou furacões, se transformem em desastres com medidas apropriadas. Em muitos países, sensores, drones, satélites e outras técnicas já estão sendo usados para monitorar o clima, as condições do solo e para avisar a população sobre riscos iminentes por meio de sistemas de alerta.
A resiliência a desastres será fundamentalmente transformada pelo poder dos dados hiperlocais de origem comunitária. Embora os esforços de socorro de cima para baixo tenham vantagens, como a mobilização de recursos em grande escala, eles geralmente não têm a agilidade e o dinamismo necessários para uma resposta rápida.
Estamos testemunhando uma mudança em direção a plataformas centradas na comunidade que capacitam os indivíduos a assumir o controle de sua segurança. Com a onipresença dos telefones celulares, as comunidades têm o poder de coletar diversas informações no local. Essa mudança redefinirá o gerenciamento de desastres de um modelo reativo e de cima para baixo para um modelo proativo, descentralizado e voltado para a comunidade.
Na minha jornada, percebi que propósito não é apenas um conceito inspirador — é uma energia poderosa, capaz de transformar desafios em oportunidades, conectar pessoas em torno de um ideal maior e gerar mudanças significativas.
A tecnologia em 2025 será um espelho de nossas decisões como sociedade, e irá refletir os valores e prioridades que escolhemos adotar. O surgimento de tecnologias orientadas por intenções está remodelando nosso relacionamento com o mundo digital, e cada escolha que fazemos hoje moldará o impacto que essas inovações terão no futuro.
Acompanhar as tendências nos ajuda a moldar o futuro com inovação responsável e ética – ou como diz o Dr. Werner Vogels, “Para prever o futuro, devemos observar o presente”.
Todas as previsões estão disponíveis na íntegra no blog do Dr. Werner.
*Fernanda Spinardi é líder de Gestão de Soluções para Clientes na Amazon Web Services (AWS) e desde 2018 também atua como embaixadora de programas de desenvolvimento de jovens talentos para posições técnicas da AWS, como o AWS SA Internship e AWS SA TechU, e embaixadora do programa de Inclusão, Diversidade e Equidade da Amazon no Brasil. Executiva com mais de 20 anos de experiência em papéis técnicos e gerenciais em empresas de tecnologia, é graduada em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), com MBA em Redes de Computadores pelo Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (LARC) da USP.
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