Discussão sobre fintechs sustentáveis evolui no Brasil (Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2022 às 10h00.
No começo de 2021 eu escrevi a respeito das Green Fintechs nessa coluna, uma nova vertente das startups financeiras que busca desenvolver soluções alinhadas com as premissas de ESG. De lá para cá, o conceito tem se transformado e evoluído globalmente, tornando-se mais amplo em sua definição. Como resultado disso, o mercado está adotando a nomenclatura “Sustainable Fintechs”, ou "fintechs sustentáveis", e diferentes partes interessadas têm desenvolvido estudos no intuito de fomentar esse espaço, direcionar investimentos em projetos e pesquisas e popularizar o conceito.
Globalmente, a Suíça tem se notabilizado como um importante polo desenvolvedor de pesquisas e ações voltadas para esse tema, em iniciativas envolvendo o governo, reguladores, empresas, investidores e a academia. O Brasil também começa a dar os primeiros passos no entendimento das Sustainable Fintechs – e o pontapé inicial em torno dessas discussões foi dado pelo Lab – Laboratório de inovação financeira, um fórum de interação multissetorial, criado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que, em parceria com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, reúne representantes do governo e da sociedade para promover as finanças sustentáveis no país.
A seguir, detalharei os avanços internacionais no segmento das fintechs sustentáveis e as conclusões, sobre a realidade brasileira, apontadas no relatório desenvolvido pelo Lab.
Um dos estudos mais completos que une finanças digitais e sustentabilidade foi desenvolvido na Suíça e se chama “Harnessing the Power of Digital Finance for Sustainable Financial Markets” – Algo como “Aproveitando o poder das finanças digitais para mercados financeiros sustentáveis” – Desenvolvido por um grupo intitulado Green Fintech Network, que reúne especialistas de diferentes setores. O material, publicado em abril de 2021, reúne 16 propostas para o mercado financeiro suíço, impulsionando a atividade financeira digital sustentável e o ecossistema de sustainable fintechs.
As propostas apresentadas nesse material abrangem ações que envolvem múltiplas partes interessadas (desde o governo até reguladores, universidades e a iniciativa privada) e foram agrupadas em 5 grandes temas:
• Fomentar o acesso a dados
• Cultivar novas startups
• Promover o acesso aos clientes
• Facilitar o acesso ao capital
• Impulsionar o ecossistema e a inovação
Assim, foi criado um verdadeiro plano de ação que tem como visão posicionar o país como líder global na geração de impactos positivos na sociedade, meio ambiente e economia até o ano de 2030, contribuindo efetivamente como a sustentabilidade global.
Além desse movimento, vimos também a criação de uma aliança entre a Universidade de Zurique e a Universidade de Stanford, dando origem ao “Global Center for Sustainable Digital Finance”, entidade que busca realizar pesquisas, promover ações educacionais e criar uma rede global com universidades e demais entidades para contribuir com a inovação em larga escala nesse setor – e tais pontes já começam a acontecer em diferentes países, inclusive no o Brasil.
Visando ampliar a discussão em torno das finanças sustentáveis, e inspirado pelas referências internacionais, o Lab – Laboratório de Inovação Financeira, criou um grupo de trabalho focado em fintechs dessa vertical. Seu principal objetivo é mapear esses atores no país e seus principais entraves e com isso propor recomendações para fomentar esse ecossistema no Brasil, viabilizando uma maior variedade de soluções relacionadas às finanças sustentáveis.
Como o tema ainda é novo, foi estabelecida uma definição para o termo que estivesse alinhada com conceito e entendimento visto em outras partes do mundo. Assim, vimos que as fintechs sustentáveis são negócios que utilizam tecnologias digitais para prover soluções relacionadas às finanças sustentáveis – sendo que esse último conceito se refere ao financiamento, bem como arranjos institucionais e de mercado relacionados que contribuam para a realização de um crescimento forte, sustentável, equilibrado e inclusivo, por meio do apoio direto e indireto à estrutura dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conforme definidos pelas Nações Unidas.
Os passos seguintes envolveram um mapeamento das fintechs locais que se enquadravam nessa categoria e o desenvolvimento de um relatório com estatísticas gerais sobre o tema. Tivemos, assim, alguns interessantes destaques:
• Perfil: fundação recente (após 2017), com estágios do negócio nas fases de implementação comercial e escala;
• A maioria atua nas áreas de Empréstimos, Créditos e financiamentos, meio de pagamentos e crowdfunding, mas com atividades bem diversas em cada área;
• 1 em cada 3 se autodeclarou uma agrifintech (possível especificidade do caso brasileiro frente a outros países, visto a representatividade do setor agro por aqui);
• Principais desafios e gargalos: atração de recursos financeiros e investidores, e atração de clientes;
• 1 em cada 3 empresas utilizam o arcabouço ESG (como referências, padronizações, informações e dados).
O próximo estágio, após um maior entendimento do cenário local, será a realização de uma maior aproximação junto às fintechs sustentáveis e a finalização das recomendações para impulsionamento do setor – nos moldes do que foi feito na Suíça. Outra importante ação, que já está em desenvolvimento, é uma aproximação junto ao “Global Center for Sustainable Digital Finance”, conectando os estudos e resultados obtidos por aqui com o resto do mundo.
O Brasil possui grande potencial e é um importante player global no campo das sustainable fintechs, sendo que foi dado um relevante passo nessa direção com os estudos desenvolvidos pelo Lab. Que essa iniciativa seja capaz de fazer com que mais fintechs possam se desenvolver nessa espaço e compreender os diferentes modelos de negócio, certificações e padronizações que possam ajudá-las nessa jornada.
Pelo ponto de vista do mercado como um todo, o avanço dessas discussões ajudará na fácil identificação dos players que, de fato, atuam nesse segmento (e seu nível de maturidade) – fugindo dos discursos vazios e encontrando evidências práticas e concretas, escapando de armadilhas como a do Greenwashing.
Além disso, facilitará a análise por parte de investidores que desejem alocar capital em iniciativas alinhadas com as premissas ESG e as agências de fomento na realização de seus processos de diligência, na destinação de recursos para essa vertical. Ainda há muito o que ser feito, mas é possível ver que já estamos no caminho certo.
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