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Não há "venda de olho" e não ficamos com dados de íris, diz líder do World no Brasil

Em entrevista à EXAME, Rodrigo Tozzi explicou que projeto tem auditorias externas e está em contato com autoridades para garantir privacidade de dados

World: projeto foi criado por Alex Blania e Sam Altman (Worldcoin/Divulgação)

World: projeto foi criado por Alex Blania e Sam Altman (Worldcoin/Divulgação)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 09h30.

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O projeto World tem chamado a atenção neste início de 2025 após usuários compartilharem vídeos mostrando o processo de escaneamento de íris. Com isso, também ganharam forças questionamentos sobre a iniciativa, seus objetivos e o tratamento dos dados do público.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Rodrigo Tozzi, gerente de operações da Tools for Humanity no Brasil, nega diversas afirmações feitas por usuários na internet. Ele destaca que não há nenhuma "venda de olho" e que, na prática, a companhia — criadora do World — não fica com nenhum dado de íris dos usuários.

O tema atrai atenção principalmente devido à alta sensibilidade de dados biométricos de íris, que não podem ser alterados. Também por isso, a ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados) já abriu um procedimento para apurar o funcionamento do projeto e a forma como ele lida com dados de usuários no Brasil.

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Como funciona o World?

Tozzi destaca que o World não se baseia em uma venda de olho. Segundo ele, a ideia de vender dados iria diretamente contra os objetivos dos criadores do projeto, Alex Blania e Sam Altman, CEO da OpenAI: "A privacidade é um pilar fundamental do projeto, ele foi desenvolvido pensando nela e em como comprovar a humanidade de alguém sem coletar dados e proteger usuários. É o oposto de comprar dados".

"Se você avalia o processo, não tem como chamar de venda. Se fosse venda, o World deveria estar ficando com alguma coisa, e não fica com nenhuma informação da pessoa. É um processo anônimo e com as pessoas tendo autocustódia da informação", afirma.

Tozzi comenta que a única informação mantida pela empresa é um código correspondente à íris escaneada do usuário. Esse código é mantido em nuvem em servidores de instituições parcerias, incluindo universidades na Alemanha e nos Estados Unidos.

Além disso, ele diz que o código de verificação de íris é "fragmentado em diversos pedaços e cada um é armazenado, espalhado em servidores diferentes, impedindo a reconstrução". O código é exagerado depois do escaneamento pelo Orb, definido por Tozzi como uma "câmera digital de alta definição".

O processo começa com a captura de três fotos do usuário, uma do rosto e uma de cada olho. As imagens são processadas em um software próprio do Orb, que então "valida se o indivíduo é um humano e se ele é único, nunca fez um processo de verificação em outra Orb".

"Feito isso, a Orb empacota a informação, criptografa e manda para o celular do usuário. Aí apaga os dados da Orb e o usuário tem autocustódia da informação e cria-se um o código. É um processo seguro, privado e anônimo. O World não pede outras informações do usuário", assegura.

Ele ressalta ainda que, mesmo que os pedaços do código fossem obtidos e reunidos, ele "não significaria nada" para outras pessoas e empresas. "O que tem na nuvem são códigos de 0 e 1 que identificam a íris. O sistema pega a imagem da íris, mapeia ela, gera pontos na íris e atribui um valor, gerando então esse código", diz.

Seria diferente, portanto, do vazamento de um registro direto da facial de um usuário, que poderia ser usado para acesso em contas e aplicativos. Nesse caso, o código segue um padrão específico do World, sem validade para outras companhias.

Venda de olho?

Tozzi afirma ainda que a comercialização de dados exigiria um "pagamento ao final do processo", que ele diz não ocorrer. Um dos elementos que mais chamaram atenção da iniciativa é que, depois do registro, o usuário recebe uma quantidade de criptomoedas do projeto, a Worldcoin, que valem mais de R$ 600.

Entretanto, Tozzi comenta que "o usuário pode optar por não receber" as unidades, e que, portanto, não configuraria um pagamento pelo procedimento. Ele diz que o envio de tokens faz parte da "característica descentralizada" do projeto, buscando fazer com os usuários tenham um senso de pertencimento em relação à iniciativa.

Por outro lado, o World também enfrenta diversos problemas jurídicos ao redor do mundo, sendo proibido em países como Espanha, Portugal e Coreia do Sul e multado na Argentina exatamente por possíveis problemas de privacidade de dados.

Para Tozzi, o problema com os reguladores "é de entendimento". "É um projeto super disruptivo, inovador. Uma forma de avaliar se é inovação é a quantidade de dúvidas que gera na população. É natural um projeto como esse gerar dúvidas. É normal, e é normal perguntas serem feitas. E é isso que o World tem feito, um diálogo constante com a sociedade e reguladores, dando respostas e transparência".

"Conforme o tempo passa, a população vai aprendendo, matérias vão saindo na imprensa, mais conhecimento vai sendo compartilhado e as pessoas vão ficando mais confortáveis", projeta.

Ele destaca ainda que o Orb passa por auditorias externas de instituições independentes com relatórios disponíveis para o público e que o protocolo que determina o funcionamento do projeto é de código aberto, podendo ser verificado por qualquer interessado.

Tozzi diz ainda que os questionamentos recentes não devem impedir um avanço do World no Brasil. "Sempre iniciamos localmente com mentalidade de expansão. Queremos criar ferramentas e a maior rede de humanos, então, no limite, tem que ficar disponível a todos os humanos com mais de 18 anos. A expansão sempre está em mente, a gente vai sim expandir no Brasil".

Apesar de não dar mais detalhes no momento, ele ressalta que essa expansão deve ser "nacional" no médio prazo. Hoje, os Orbs de escaneamento estão disponíveis apenas na cidade de São Paulo. Mesmo assim, ele vê a adoção do projeto como "positiva", já ultrapassando os 150 mil brasileiros verificados.

"A gente já imaginava e contava com o potencial do Brasil. Tem mais de 200 milhões de habitantes e uma população extremamente tecnológica, é só ver a penetração de linhas de celular, adoção de smartphones, o uso de ferramentas como o Pix. Tem pouca barreira de compreensão tecnológica, então é uma grande harmonia para escalar um projeto como o World", avalia.

Ele comenta ainda que o projeto tende a expandir seu contato com o público. "A comunicação tem sido feita pelos centros de verificação, que é por onde os usuários vão passar, é onde a gente sabe que consegue compartilhar as informações da melhor forma, com folhetos, vídeos, equipe treinada, mas uma tecnologia como essa exige uma comunicação maior, a gente tem olhado para isso e pretende cada vez mais evoluir a comunicação".

Tozzi também acredita que o interesse e questionamentos em torno do World ilustram a "a grande discussão daqui pra frente, enquanto humanidade: a IA vai colocar a humanidade em outro patamar, transformar a internet de hoje em algo muito diferente, e a privacidade, a forma como distribui os dados, é um pilar fundamental disso".

"A quantidade de dados que as pessoas compartilham de forma até ingênua em muitos casos torna muito fácil a IA se passar por qualquer um de nós. A privacidade vai ser um grande assunto, e algo que precisa urgentemente ser debatido e ensinado para a população, porque como proteger a nossa informação vai ser um dos grandes desafios da era da IA", afirma.

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