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Interoperabilidade e confidencialidade: o próximo desafio da tokenização

Por que integrar redes e proteger dados ao mesmo tempo é crucial para o futuro dos ativos digitais?

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 8 de novembro de 2025 às 11h01.

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Por André Carneiro*

A tokenização consolidou-se como uma das forças centrais da transformação digital no sistema financeiro. O que começou como experimentação tecnológica tornou-se um vetor de reestruturação profunda dos mercados, com bancos, fintechs e infraestruturas de liquidação explorando o potencial de registrar ativos e obrigações em formato digital.

Contudo, à medida que esse movimento avança, dois desafios emergem com força: a interoperabilidade entre diferentes redes e a confidencialidade dos dados que nelas circulam. O primeiro é essencial para escalar a adoção; o segundo, indispensável para garantir a confiança institucional. Conciliar ambos é o próximo grande passo para que a tokenização alcance o status de infraestrutura global confiável e regulada.

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O problema da fragmentação digital

O ecossistema atual de tokenização ainda é marcado por uma fragmentação estrutural. Redes públicas, privadas e permissionadas convivem sem padrões consolidados de interoperabilidade, criando um mosaico de soluções que não conversam entre si.

Cada participante define seus próprios modelos de identidade digital, consenso, governança e compliance, o que gera ilhas de inovação isoladas. Na prática, isso resulta em ineficiência e perda de liquidez. Um ativo tokenizado em uma rede privada, por exemplo, não pode ser usado diretamente como colateral ou liquidado em outro ambiente sem a criação de pontes intermediárias, aumentando custos e riscos.

Essa desconexão anula parte dos benefícios prometidos pela tokenização: agilidade, rastreabilidade e automação. Além disso, a fragmentação eleva os custos de governança. Cada rede isolada precisa gerenciar seu próprio arcabouço de segurança, auditoria e compliance.

O resultado é duplicidade de esforços e vulnerabilidades crescentes. O Banco de Compensações Internacionais (BIS) já enfatizou em relatórios recentes que a interoperabilidade entre infraestruturas digitais é uma condição essencial para que a tokenização se torne um pilar sólido da arquitetura financeira global.

Confidencialidade: o outro lado da moeda

Se interoperar é crucial, proteger dados é imperativo. O blockchain foi concebido sobre o princípio da transparência total, e é exatamente essa característica que, em ambientes financeiros regulados, se torna um ponto sensível. Instituições financeiras operam sob regimes de confidencialidade que não permitem exposição pública de informações de clientes, portfólios ou contratos.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e normas equivalentes, como o GDPR europeu, impõe limites rigorosos sobre o tratamento e compartilhamento de informações. O dilema é técnico e regulatório: como manter auditoria e rastreabilidade sem violar o sigilo?

A solução vem de novas abordagens de arquitetura e criptografia. Tecnologias como zero-knowledge proofs (ZKP) permitem validar conformidade sem revelar o conteúdo das transações, enquanto modelos de multi-party computation (MPC) distribuem o processamento criptográfico entre várias partes, evitando que qualquer uma tenha acesso integral aos dados.

Essas técnicas inauguram um novo paradigma de governança de dados, o da transparência seletiva, onde cada agente tem acesso apenas ao que é necessário para cumprir seu papel, sem comprometer informações estratégicas ou sensíveis.

Casos e lições do mercado global

A busca por interoperabilidade com confidencialidade já pauta as principais iniciativas internacionais de tokenização. O projeto mBridge, conduzido por bancos centrais da China, Tailândia, Hong Kong e Emirados Árabes Unidos, criou uma infraestrutura multi-CBDC capaz de processar liquidações transfronteiriças com confidencialidade embutida em seu desenho.

A European Blockchain Services Infrastructure (EBSI), apoiada pela União Europeia, segue caminho semelhante: conectar diferentes redes públicas e privadas em um ecossistema de confiança compartilhada, preservando identidades e dados sensíveis. Esses exemplos mostram que o avanço da tokenização em escala global depende da capacidade de criar redes interconectadas, auditáveis e discretas ao mesmo tempo.

Não basta trocar tokens entre blockchains; é preciso assegurar que o intercâmbio de informações ocorra com segurança criptográfica e governança distribuída.

Caminhos tecnológicos e regulatórios para o futuro

Superar o dilema entre interoperabilidade e confidencialidade exige uma abordagem sistêmica que combine tecnologia, governança e regulação. Três elementos são centrais nessa construção: Padrões tecnológicos abertos: interfaces e APIs interoperáveis que evitem lock-in e garantam compatibilidade entre redes distintas. Frameworks de governança e privacidade: estruturas de compliance embutidas no design das soluções, com auditoria seletiva e controle de acesso criptográfico.

Infraestruturas neutras e auditáveis: ambientes operados sob governança compartilhada, capazes de unir agentes públicos e privados em torno de regras comuns. Esses pilares dão origem a uma nova geração de frameworks de interoperabilidade e privacidade capazes de conciliar requisitos regulatórios com inovação tecnológica.

Neles, a segurança dos dados e a transparência das transações deixam de ser opostos e passam a coexistir dentro de um mesmo modelo de confiança. Por fim, ao adotar padrões interoperáveis e confidenciais, o mercado reduz custos operacionais, aumenta eficiência e torna o compliance automatizado uma extensão natural da operação.

Esse é o caminho para transformar o blockchain corporativo de promessa em infraestrutura. A tokenização entrou em uma nova fase: deixou de ser prova de conceito para se tornar arquitetura crítica de sistemas financeiros modernos.

Agora, sua continuidade depende de resolver a tensão entre interoperabilidade e confidencialidade: sem interoperabilidade, não há escala e sem confidencialidade, não há confiança. As instituições que dominarem esse equilíbrio estarão na vanguarda da transformação digital regulada, operando em um ambiente que conecta eficiência tecnológica à segurança jurídica. O futuro da tokenização não será apenas sobre conectar redes, mas sim sobre conectar redes que confiam umas nas outras.

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