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Inteligência artificial usa posts nas redes sociais para fazer análise de crédito

Ferramenta lançada pela FIS busca ajudar na concessão de empréstimos e aumentar taxa de aceitação por instituições financeiras

Inteligência artificial reduziu taxa de reprovação de crédito (Reprodução/Reprodução)

Inteligência artificial reduziu taxa de reprovação de crédito (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 26 de junho de 2023 às 15h36.

A FIS, uma das principais empresas do mundo na área de tecnologia financeira, anunciou neste mês o lançamento para o mercado do Neener Analytics. A ferramenta usa inteligência artificial para analisar posts em redes sociais e traçar um perfil dos usuários, com foco no processo de tomada de decisões. A partir daí, esse perfil é usado para complementar as análises atuais de concessão de crédito por instituições financeiras.

Anderson Lucas, VP de Negócios para América Latina da FIS, explica que o principal objetivo da ferramenta é reduzir a taxa de rejeição nas solicitações de crédito no Brasil, que hoje ronda os 85%. Em entrevista à EXAME, ele destacou que os testes com o Neener Analytics já resultaram em um aumento das aprovações de análise de crédito.

Para o executivo, a inteligência artificial tem sido capaz de oferecer uma nova camada de análise que, atualmente, escapa das instituições financeiras. Com ela, é possível ir além do "passado" do cliente, em que o foco é conferir se ele possui um "nome sujo" ou não, e entender melhor os comportamentos e personalidade do solicitante, que efetivamente aumentam, ou diminuem, as chances dele conseguir pagar um empréstimo.

Usando a inteligência artificial

A nova ferramenta é uma parceria entre a FIS e a Neener, uma fintech que foi detectada por um programa mundial da empresa que busca avaliar e impulsionar novas soluções voltadas à modernização do setor financeiro. Ao considerar a tecnologia, a FIS também estudou o seu potencial impacto para o mercado de crédito brasileiro que, na visão de Lucas, passou por acontecimentos importantes a partir de 2022.

Os dois principais foram um efeito de restrição de crédito pela crise inflacionária global - que demandou uma série de elevações nas taxas de jurso no Brasil e no mundo - e, especificamente no caso brasileiro, um incremente substancial da Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) por parte dos bancos, que precisam ter perdas no balanço para compensar pessoas e empresas que deixaram de pagar suas dívidas, o que também gera uma restrição de crédito.

"Hoje, os bancos e entidades que dão crédito têm 85% da taxa da rejeição nas aprovações. Quando começa a olhar esse espectro, vê uma oportunidade de como contribuir para melhorar essas taxas. E não necessariamente só a taxa. Os clientes precisam também manter, ser um bom pagador do empréstimo. Daí a ideia da ferramenta para ter essa ajuda", comenta o executivo.

Para Lucas, a tecnologia tem um potencial disruptivo ao trabalhar em conjunto com os já famosos scores de crédito do mercado. O foco da atuação do Neener Analytics é exatamente nas 85% de solicitações que são rejeitadas. Ele ressalta que, enquanto as soluções tradicionais trabalham com big data, a ferramenta usa o small data, mais especificamente os posts de redes sociais feitos pelos solicitantes de crédito.

A ferramenta só funciona a partir da autorização do cliente para ter acesso aos seus posts em diferentes redes sociais, incluindo Twitter, Facebook, Instagram e LinkedIn. A inteligência artificial dela não foca em avaliar os posts em si, mas sim os perfis dos usuários, considerando questões como motivação e grau de animação.

Marcus Dantas, gerente de Vendas de Soluções para América Latina na FIS, afirma que a ferramenta atua como um "psicólogo super treinado, com muitos anos de experiência e alguns bilhões de pacientes. Ele olha o indivíduo, não agrega, e avalia como a pessoa toma decisões. Ele avalia, a partir disso, se aquele usuário é um bom pagador. É uma ferramenta que atua em conjunto com outros ecossistemas do banco. Ele olha personalidade, a maneira como o cérebro toam decisões, não olha capacidade financeira".

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Inclusão financeira

Segundo ele, os testes piloto realizados no Brasil e outros países mostraram que a inteligência artificial foi capaz de aumentar a taxa de aprovação de 15% a 35%. "Em meio de crédito, tem 3 grupos: o do 'claro que sim', que você com certeza empresta, o 'claro que não', pra quem você com certeza não empresta, e o 'talvez'. No caso do 'talvez', pode ter bancos mais agressivos no risco que topam, mas não são a maioria. O Neener tem valor nesse grupo".

Dantas acredita que a vantagem da ferramenta é oferecer "um indicador que falta para reduzir o risco tomado pelo banco, mostra que é um bom pagador". "O desafio é aumentar a taxa de aprovação sem expor os bancos ao risco. O PDD está cada vez mais sério, os bancos têm trabalhando muito nisso. E os testes mostram que é possível aumentar taxa, manter o risco e conseguir reduzir inadimplência, porque analisa a pessoa, então consegue entender melhor a chance da pessoa ser boa ou má pagadora, independente da questão financeira".

Ele pontua ainda que, além da questão do consentimento de cada pessoa que fornecerá seus posts para análise, a inteligência artificial também segue as políticas de privacidade de cada plataforma, que aderiram à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): "Os dados analisados são os que podem ser compartilhados. Nada é guardado no Neener, o dado entra e é expurgado depois".

"Hoje, os bancos olham muito o relacionamento transacional, o histórico, mas teve pandemia, inflação alta, as pessoas perdendo emprego, ficando com nome sujo e saindo de uma economia em crescimento para um momento de dívida. Como você recoloca essas pessoas no mercado financeiro? E com um custo de capital tão alto? O Neener pode ser um mar azul, revolucionar esse ponto ao trazer pessoas então invisíveis de volta para a economia", observa Dantas.

Já Anderson Lucas pontua que a ferramenta de inteligência artificial também deve ser benéfica para dois grandes grupos: de um lado, os desbancarizados, que não possuem acesso ao crédito e nem um histórico para ser analisado, e, do outro, a geração Z, que também não possui um histórico financeiro robusto mas são usuários frequentes de redes sociais.

Por isso, ele vê uma convergência no uso da ferramenta para essas operações, com vantagem tanto para a pessoa que pede o crédito quanto para a instituição que o concede. "É uma democratização de acesso ao crédito e uma inclusão financeira", resume o executivo da FIS.

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