Repórter do Future of Money
Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 09h30.
O avanço da inteligência artificial generativa tem atraído muito entusiasmo em diferentes setores do mercado, mas já está claro que ela possui uma série de limitações que dificultam sua adoção no setor financeiro. É o que avalia Wayne Barlow, head global da equipe de Core Product da Bloomberg, em uma entrevista exclusiva para a EXAME.
O executivo afirma que "apesar do entusiasmo gerado por outros provedores de tecnologia em diferentes setores, a GenAI tem limitações no domínio financeiro, e estamos muito atentos a isso". A estratégia da gigante de dados e tecnologia na área de finanças gira em torno de "mitigar" essas limitações.
"Os modelos de IA generativa podem apresentar alucinações, ficar rapidamente desatualizados e, sozinhos, não conseguem raciocinar ou realizar cálculos básicos. Algumas dessas questões têm um impacto significativo no setor financeiro, onde muito está em jogo. Não há dúvidas de que preocupações com a segurança da IA impulsionarão controles regulatórios em mercados globais", comenta.
Apesar do hype recente em torno da IA generativa, Barlow lembra que a inteligência artificial já existe e é usada há muitos anos pelo mercado. A Bloomberg, por exemplo, começou a usá-la há mais de 15 anos. Mas projetos como o ChatGPT, apoiados pelos Grandes Modelos de Linguagem (LLMs), trouxeram algumas novidades para o setor.
"A IA generativa é importante para profissionais de investimento porque eles precisam de novas experiências de usuário e maneiras intuitivas de interagir com dados e análises. Esses profissionais também enfrentam constantemente o equilíbrio entre o 'excesso de informações' e o 'medo de perder algo importante'", destaca.
Nesse sentido, o executivo vê vantagens em adotar a IA como uma forma de facilitar e otimizar o consumo de notícias. Para isso, porém, é necessário que os produtos que usam a tecnologia sejam "práticos e especificamente voltados aos profissionais de investimento".
Recentemente, a Bloomberg lançou projetos como um resumo de notícias feitos por IA para investidores, em que a inteligência artificial generativa cria os resumos que, então, são avaliados por especialistas para que sejam refinados. Barlow comenta que "a solução é simples, mas economiza tempo dos investidores", o que ajuda na sua adoção.
"Os investidores precisam de ajuda para processar e organizar um volume crescente de informações e tomar decisões de negócios e investimentos mais rápidas e informadas", pontua.
Para ele, a tecnologia precisa ajudar a desenvolver fluxos de trabalho que "conectam dados e conteúdo não estruturado, como documentos longos, em três áreas principais: ajudar no processamento de dados de novas formas, criar insights e transformar como os usuários interagem com os nossos produtos".
Barlow acredita que analistas de pesquisa voltados a segmentos de ações e créditos e gestores de portfólio tendem a ser os mais beneficiados pela nova tecnologia. A inteligência artificial generativa "expande os limites, oferecendo descobertas amplas, explorações profundas e síntese multifuncional de informações".
O avanço de tecnologias como a inteligência artificial também tem fomentado projetos de automação de operações no mercado financeiro. E cresceram também os debates sobre o tema, incluindo as vantagens e possíveis problemas. O executiva da Bloomberg acredita que, no momento, não há como realizar uma automação completa.
"Certas tarefas sempre exigirão intervenção humana para lidar com decisões críticas de investimento. Isso já foi comprovado durante a última onda de tecnologia da informação, quando os mercados se tornaram mais eletrônicos nos últimos 20 anos", ressalta.
Mesmo assim, ele acredita que a IA generativa deve ser especialmente útil para automatizar quatro áreas: análise e visualização dados, reunião e síntese de insights, criação e publicação conteúdo e gerenciamento e análise de comunicações.
Outra vertente que deve ganhar mais espaço em 2025 reúne os chamados agentes de IA, que podem realizar uma série de funções sem a necessidade de supervisão ou interação humana.
Barlow comenta que "é interessante pensar em milhares de agentes e superinteligências enquanto o setor discute se os agentes de IA, múltiplos e com expertises em diferentes domínios trabalhando juntos para resolver problemas complexos, ganharão força em 2025".
No caso da Bloomberg, ele compartilha que "ao avaliarmos os agentes de IA no setor financeiro, aprendemos algumas lições. Às vezes, ele não se comunica como um humano faria com seus agentes subjacentes. Quando agentes de IA abordam uma questão de um usuário, o sistema subjacente deve ser treinado em sistemas de IA relacionados. Além disso, nem todos os agentes subjacentes são totalmente baseados em IA generativa". Por isso, a área ainda deve enfrentar algumas incertezas antes de crescer.