Inteligência artificial pode ser divisor de águas no mercado de NFTs (Getty Images/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 18 de fevereiro de 2023 às 09h00.
Até pouco tempo atrás, inteligência artificial não era um conceito muito bem digerido pela maioria, ficava bastante restrito à turma da Ciência. Estava mais para tema de filme de ficção científica, com suas inteligências geralmente dominando o mundo, o que tornava a ideia um tanto aterrorizante.
Até que as redes sociais e plataformas como Netflix e Spotify trouxeram a tecnologia para mais perto de nós. Quando a Netflix te mostra uma sugestão de filme com a frase “você também pode gostar disso”, é a IA atuando a partir dos dados gerados por seu comportamento de consumo de mídia no streaming.
Mas muita gente nem se dá conta disso. A interação direta com a IA que vem sendo, de fato, percebida pelos usuários é a proposta por ferramentas como o ChatGPT, de geração de texto, o DALL-E, de imagens, e algumas outras das mesmas categorias. Mesmo com pouco tempo de existência, esses recursos passaram a fazer parte da rotina de muitas pessoas no trabalho e na vida pessoal.
No mundo dos ativos digitais, a IA é a nova fronteira. Em coluna que escrevi no fim de janeiro para a “EXAME”, falei sobre como a tecnologia está transformando o mercado de criptomoedas. Você pode ler aqui.
Já nesta coluna, o foco será o movimento que a inteligência artificial está desencadeando no mercado de NFTs.
A inteligência artificial está ajudando a alçar a criatividade humana ao próximo nível. E não apenas artistas. Qualquer pessoa - mesmo as desprovidas de habilidades artísticas - agora é capaz de virar um criador na Web3.
Qualquer usuário pode criar obras de arte digitais usando IA e registrá-las como NFTs em marketplaces como o Open Sea. A arte gerada por IA, também chamada de arte generativa, se apoia em algoritmos para criar atributos exclusivos, como temas visuais, um esquema de cores próprio e até mesmo o humor em cada imagem. Esses atributos são únicos para cada NFT, o que permite criar níveis de raridade nas artes e gerar mais valor para o ativo.
No momento em que escrevo esse texto, a arte generativa está presente tanto nos trendings da OpenSea como no Top 10. É realmente um fenômeno dos nossos dias.
Se essa ideia ainda soa abstrata para você, aqui vai um passo a passo rapidinho que pode te ajudar a exercitar a criação e cunhagem da sua própria arte generativa.
Passo 1: criar a arte em plataformas de IA
Arte sempre foi um segmento bastante restrito, tanto em termos de criadores quanto de consumidores. A tecnologia tem feito um trabalho incrível de acessibilidade à arte e a IA chegou para elevar esse movimento à milésima potência.
Existem muitas ferramentas interessantes, divertidas e super simples de gerar arte. Estão em destaque hoje a DreamStudio, da Stability AI, o MidJourney e o DALLE-2, da OpenAI, empresa criadora do ChatGPT.
Para usar o Midjourney, você precisa executá-lo no Discord, ainda em versão beta.
Já o DreamStudio e o DALLE-2 têm interfaces de usuário amigáveis que permitem a qualquer pessoa gerar facilmente imagens a partir de texto.
Passo 2: criar os NFTs das artes geradas
Aqui, o usuário vai pegar a arte gerada por IA e baixá-la para, em seguida, registrá-la como NFTs.
Existem inúmeros marketplaces onde cunhar um NFT. O mais popular é o Open Sea, que pode ser uma boa opção para você começar. Além de ter a oportunidade de exibir os seus NFTs em uma das maiores plataformas do mundo, você pode até vendê-los. No entanto, caso decida mesmo negociá-los, fique atento ao acordo de licença proposto pelo software de IA que irá usar. De qualquer forma, para efeitos de exercício, apenas a exibição já é suficiente.
O que você vai precisar para cunhar o seu NFT é uma hot wallet, uma carteira que armazena criptomoedas conectada diretamente na internet. A Metamask é a mais conhecida do mercado, mas existem diversas outras em que você pode se cadastrar gratuitamente em poucos passos e são muito fáceis de usar.
Após se registrar, você terá que conectar a carteira no marketplace e já pode começar a cunhagem.
Existe a possibilidade de cunhar NFTs gratuitamente em plataformas como a OpenSea e Rarible. Por isso, você não vai precisar necessariamente ter criptomoedas na carteira. Esse tipo de cunhagem gratuita é chamada de “Preguiçosa”, na qual o NFT é criado, mas seus dados definitivos só serão publicados na blockchain quando e se ele for vendido. Ou seja, a criação do token permanece gratuita até que um usuário queira comprá-lo. As redes Polygon e Ethereum suportam cunhagens preguiçosas. Informe-se.
Passo 3: monte uma galeria com os seus NFTs
Um exemplo de plataforma bacana para montar uma galeria é a Spatial. Ela funciona como um metaverso social e colaborativo com funcionalidades gratuitas como
hospedar galerias, exposições e fazer eventos ao vivo. Aqui, você também vai precisar da carteira digital para se conectar ao aplicativo.
O Spatial é compatível com diferentes dispositivos. É preciso criar uma conta, o seu avatar, selecionar um modelo de galeria e expor os seus NFTs.
Outra maneira de a IA encontrar os NFTs é através dos iNFTs.
Os iNFTs permitem a criação de NFTs integrados com animação AI. Ou seja, os tokens não fungíveis inteligentes são alimentados por Inteligência Artificial para ter sua própria personalidade e propriedade baseadas em blockchain.
Essa combinação de tecnologias pode criar NFTs animados e interativos, com um certo nível de autonomia. Os NFTs “vivos”, como também são chamados, terão um papel essencial nas atividades do metaverso. Por exemplo: avatares falantes com a capacidade de responder perguntas em tempo real.
A empresa Alethea AI lidera o desenvolvimento dos iNFTs. Uma de suas mais famosas criações é Alice, peça vendida por quase US$ 500 mil pela casa de leilão Sotheby’s.
Vou passar rápido por algumas explicações mais técnicas.
Qualquer NFT pode ser convertido em iNFT por meio do protocolo iNFT. Isso é feito ao combinar o NFT com outro ativo ERC-721 chamado Personality Pod. O ERC-721 é um padrão de token que permite que as pessoas cunhem NFTs. A partir da integração do NFT com o Personality Pod, o token adquire uma personalidade única alimentada por IA.
Vou descomplicar um pouco a seguir, vocês vão entender. O iNFT é dividido em três partes:
A Alethea AI está construindo uma infraestrutura de Inteligência Artificial escalável para NFT por meio da tecnologia GPT-3, o famoso modelo de linguagem da OpenAI.
Principais características dos iNFTs:
A empresa recebeu recentemente US$ 16 milhões em financiamento e aplicou os recursos no desenvolvimento de um metaverso próprio, batizado de Arca de Noé.
No metaverso idealizado pela Alethea AI, será praticado o “train-to-earn”, a exemplo do play-to-earn do universo dos games. No “train-to-earn”, os jogadores treinam seus iNFTs para se tornarem mais inteligentes e recebem recompensas em tokens por isso.
Os iNFTs podem ser treinados para executar tarefas com diversos níveis de dificuldade, como responder perguntas ou criar uma poesia, tudo vai depender de seu nível de amadurecimento, que tem a ver com a quantidade de tokens bloqueada no Pod.
Hoje, os iNFTs já podem ser criados usando avatares de projetos como Bored Ape Yacht Club e Pudgy Penguins.
A Alethea AI lançou recentemente o CharacterGPT, que gera personagens de IA interativos, com aparências, vozes, inteligências, personalidades e identidades únicas, a partir de texto.
Esses personagens podem funcionar como assistentes pessoais, guias digitais, companhias digitais ou gêmeos digitais. Ao serem tokenizados via blockchain, podem ser customizados pelo usuário, ter sua inteligência treinada e ser usados em outros dApps no AI Protocol, da própria Alethea AI.
Outro protocolo seguindo a trilha de NFTs de inteligência artificial é o Humans AI, baseado na blockchain Cosmos. Ele coleta uma espécie de DNA digital, representado por voz, rosto, postura, personalidade ou outros dados biométricos, que permite sua utilização como blocos de construção para o desenvolvimento de novas mídias sintéticas e personagens.
A inteligência artificial tem tudo para se tornar um divisor de águas no mercado de NFTs. Em especial por conta do metaverso e da Web3, que devem ter sua adoção acelerada nos próximos anos.
A IA foi capaz não só de democratizar a arte para criadores e consumidores, ao quebrar um mercado anteriormente muito segmentado e pouco acessível, mas também dará mais vida às nossas interações nos mundos virtuais já existentes e nos que estão por vir, além de proporciona um poder de personalização sem precedentes.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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