Selecione de forma inteligente seus investimentos em criptomoedas analisando seu tokenomics (metamorworks/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2022 às 09h37.
A criptoesfera é um mundo inteiro de oportunidades para os investidores. O número de criptomoedas e tokens já está na casa da dezena de milhares. Ao mesmo tempo, o setor também é um ímã da pirataria cibernética que arrecada bilhões anualmente com falcatruas.
No ano passado, um levantamento da Chainalysis mostrou que só via “rug pull” foram roubados US$ 2,8 bilhões. A “puxada de tapete” é um golpe relativamente novo e se baseia na criação de projetos falsos com aparência de verdadeiros. Os desenvolvedores atraem investidores basicamente com marketing, a demanda pelo token aumenta, o preço do token sobe e, quando está lá nas alturas, os desenvolvedores vendem tudo com muito lucro, pegam o dinheiro e “tchau tchau”.
Não só projetos falsos, mas outros esquemas e hackers, geralmente com muita destreza tecnológica, se aproveitam do desconhecimento alheio para se dar bem. Experientes também podem cair em armadilhas, claro. A probabilidade existe, mas é muito menor.
Sendo assim, quanto mais informação você conseguir reunir para ajudar na tomada de decisão de investimento, melhor.
Uma ferramenta que pode te dar uma excelente base é o tokenomics. Trata-se da estrutura econômica de um projeto, através da qual, por exemplo, é possível saber como a comunidade e os usuários estão sendo incentivados a manter o projeto forte e promissor.
Antes, no entanto, vamos abordar conceitos indispensáveis para falar de economia em blockchain.
Você sabe a diferença entre token e criptomoeda?
Pois bem. A criptomoeda é um ativo digital originado em blockchain própria. Bitcoin, Ether e Litecoin são exemplos de criptomoedas. Sendo moeda, servem para transações - neste caso, digitais - e valem como dinheiro.
O token, por sua vez, tem o papel de representar um ativo digital. É criado na camada 2 da blockchain e precisa se adaptar às regras da blockchain principal, também chamada de blockchain de primeira camada, como são o caso de Ethereum, Avalanche e do próprio Bitcoin. Eu falei dessas camadas na minha coluna anterior, clica aqui para entender.
Como é possível notar, tokens e criptomoedas estão relacionados, por isso é importante desenvolver uma visão mais abrangente desses vínculos.
Você já deve ter ouvido falar do padrão ERC-20. Esse padrão não passa de um conjunto de normas a serem atendidas para que um token seja aceito e possa interagir com outros tokens na rede da Ethereum.
As funcionalidades dos tokens são diversas. Pode credenciar um usuário a votar em decisões do projeto, servir como pagamento dentro do protocolo ou representar ativos do mundo real.
Ainda que não seja reconhecido como dinheiro em si, o valor do token vai depender da relevância que ele tem dentro do projeto.
Todos esses elementos fomentam uma economia digital própria dos projetos. Tokenomics é o nome que se dá à estrutura dessa economia. Qual investidor não precisa entender os mecanismos econômicos para fazer melhores escolhas?
Aprender a interpretar o tokenomics é essencial para averiguar a qualidade e o valor de um projeto, assim como suas chances de ter vida longa. Através da leitura do tokenomics, pode-se tomar decisões de compra e venda com muito mais assertividade.
Mas, antes de passar para a análise do tokenomics, alguns outros atributos precisam ficar claros para o investidor para que se tenha uma vista de drone da situação.
Como falamos acima, criptomoedas e tokens estão ligados. Isso significa que o ecossistema blockchain precisa funcionar através de relações simbióticas, ou seja, funcionais e harmônicas.
Desta forma: se a blockchain de camada 1 oferecer uma infraestrutura rápida, fácil de usar e segura, é capaz de atrair mais projetos de camada 2. Por outro lado, se os protocolos de camada 2 são bem-sucedidos, poderão gerar reflexos positivos na camada 1 e isso adiciona mais valor para a criptomoeda de primeira camada.
Outro ponto é atentar para a raiz da blockchain: ela é original ou resultado de um fork?
Um projeto que nasce de um fork, também chamado de bifurcação, é feito a partir de um código já existente. Vou dar um exemplo bem quente: o Ethereum PoW (ETHW).
Descontentes com a atualização The Merge, da rede Ethereum, alguns desenvolvedores resolveram pegar o código da rede original para criar uma versão dissidente, que ganhou o nome de Ethereum PoW.
O Bitcoin Cash foi gerado da mesma forma, como um fork do Bitcoin.
Os investidores precisam ficar de olho nessas bifurcações e entender o que está por trás delas. Apesar de serem inspiradas em criptomoedas de grande valor, podem entregar um valor que não chega nem próximo das originais.
Agora, passemos à investigação dos tokens.
Primeiro, é legal destacar as principais características dos tokens. Vamos a elas:
Quando um token é fungível, significa que ele não é único e pode ser tocado, como o Bitcoin e o Ether.
Já os não fungíveis, representam ativos únicos e não podem ser reproduzidos. Os macacos da coleção Bored Ape Yacht Club e os terrenos da Decentraland pertencem à categoria, assim como podem ser feitos NFTs de música, de identidade digital e registros acadêmicos, por exemplo.
Os utility tokens são aqueles que oferecem casos de uso aos tokens, como pagar taxas de transação, permitir acesso a produtos e serviços dentro da cadeia, participar da governança ou fazer staking.
Já os security tokens podem representar ativos financeiros tradicionais, como ações de uma empresa tokenizadas, e também digitais, ou seja, nativos da blockchain, como os gerados por staking ou mineração.
E onde entra o tokenomics nessa coisa toda? Pegue o seu caderninho e anote os passos seguintes para fazer uma boa investigação dos elementos fundamentais da economia dos tokens.
Existem três pontos a serem analisados nesta parte:
Fornecimento máximo - é a quantidade de tokens que existirá durante toda a vida de um protocolo. No caso do Bitcoin, a regra determina que devem existir 21 milhões de BTC no total e isso não pode ser alterado.
Fornecimento total - é o número total de tokens existentes no momento menos os tokens queimados (destruídos).
Fornecimento circulante: é o número aproximado de moedas que estão em circulação e nas mãos dos investidores. Este suprimento em circulação é uma informação importantíssima, porque influencia diretamente o valor de mercado de um token.
É o fornecimento circulante multiplicado pelo preço da criptomoeda no momento. A capitalização de mercado ou maket cap permite que os investidores analisem o valor relativo de uma criptomoeda em relação às outras.
Todo cuidado é pouco com essa métrica. Alguns projetos, por exemplo, buscam atrair investidores com tokens muito baratos, como US$ 0,00003. Muitos desavisados compram pelo preço de banana e esperam valorizações de mil, dez mil vezes.
Só não entenderam que, se o market cap do token já for muito grande, é improvável que o token venha a subir freneticamente de preço. Moedas como Shiba Inu e Dogelon Mars, apoiadas pelos fãs de Elon Musk, são alguns desses modelos.
A liberação dos tokens criados pode ser feita basicamente de duas formas:
Pré-mineração: vários tokens são gerados e distribuídos para um grupo seleto - como desenvolvedores e membros da equipe e até mesmo os investidores que apoiaram o projeto desde o início. Isso antes de se tornarem públicos.
Pré-lançamento: quando o token é gerado, possuído e regulado pela comunidade. Antes do token ser lançado para o público, diferentemente da pré-mineração, não existe distribuição seletiva nem alocações privadas.
Para fechar, algumas outras respostas que você também deve buscar:
Qual é o cronograma de liberação dos tokens?
Quanto mais tokens forem lançados ao mercado, mais afetado será o preço do token e seu market cap. Se o projeto desbloquear um grande número de tokens de uma só vez, é muito provável que o preço caia drasticamente.
O modelo do token é inflacionário ou deflacionário?
Se um token não tem suprimento máximo, ele pode ser inflacionário. Alguns protocolos, como o Ethereum, adotam um mecanismo de queima (destruição) das criptomoedas para controlar a inflação. O Bitcoin tem o halving, processo que reduz a emissão de moedas pela metade a cada quatro anos.
Queimar tokens não significa que haverá necessariamente uma valorização do ativo. Pode acontecer, mas o preço depende mesmo do valor que o token é capaz de gerar para o usuário.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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