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Stock market analysis on digital tablet (leungchopan/Envato/Reprodução)
Especialista em criptoativos
Publicado em 23 de novembro de 2025 às 11h00.
Última atualização em 24 de novembro de 2025 às 10h02.
Quedas sucessivas do bitcoin aumentaram a tensão no mercado cripto, mas ainda é cedo para cravar que entramos em um "bear market", nome em inglês para uma fase prolongada de queda. Até porque, na prática, só reconhecemos um bear market quando já estamos nele.
O que já dá para enxergar com clareza é um humor mais pesado no curto prazo. O Índice de Medo e Ganância, que mede o sentimento do mercado, caiu para 11 em 100, nível de Extremo Medo não visto desde meados de 2023, segundo o CoinMarketCap.
A semana registrou uma perda de US$ 2,7 trilhões no mercado acionário dos EUA, contaminando todos os ativos de risco. Na criptoesfera, isso se traduziu em liquidações em cadeia: US$ 829 milhões em liquidações totais e mais de US$ 1 trilhão varridos em capitalização de mercado.
Na sexta-feira, 21, o bitcoin aprofundou a queda e chegou a ser cotado perto dos US$ 80,5 mil. No início da tarde houve uma recuperação leve, com o preço girando entre US$ 84 mil e US$ 85 mil. O ether e outras criptomoedas de maior capitalização também registraram perdas de até 15%.
O movimento resume o clima dos últimos dias: volatilidade intensa, fluxo instável e investidores tentando entender se o piso já foi encontrado ou se ainda há espaço para queda.
O cenário combinou uma fuga institucional inédita, a persistência das incertezas macroeconômicas e o rompimento de suportes técnicos importantes.
Será que tem melhora à vista ou mais correção? Vamos entender o contexto e as perspectivas.
Os ETFs de bitcoin, que vinham sustentando a demanda institucional, se transformaram no principal canal de venda.
Dados da SoSoValue mostram que os 11 ETFs spot de bitcoin listados nos EUA acumularam saídas líquidas de US$ 3,79 bilhões, superando o recorde anterior de fevereiro. O IBIT da BlackRock, o maior fundo, registrou mais de US$ 2 bilhões em resgates em novembro, incluindo um dia com saída de US$ 523 milhões.
Os ETFs de Ether também tiveram saídas recordes, somando US$ 1,79 bilhão. Esse padrão sugere que o investidor tradicional está reduzindo exposição aos ativos principais. Mas tem um detalhe interessante: nesse período, os ETFs de Solana (SOL) e XRP registraram entradas positivas, de US$ 300 milhões e US$ 410 milhões, respectivamente, sugerindo uma rotação de capital para narrativas alternativas.
Além disso, os ETFs de bitcoin chegaram a registrar um respiro na quarta (19), com entradas somando US$ 75,47 milhões. Ainda assim, é importante manter a perspectiva, pois o volume ainda é modesto perto da saída geral.
Enquanto os ETFs registravam saídas, indicadores on-chain mostraram estresse real no mercado.
O Glassnode apontou que as perdas realizadas do bitcoin alcançaram níveis próximos aos do colapso da FTX em 2022.
“Perdas realizadas” são os prejuízos concretos quando investidores vendem abaixo do preço de compra. Esse movimento foi impulsionado sobretudo por holders de curto prazo, que compraram perto do topo e liquidaram posições na queda.
Esse tipo de capitulação indica uma “limpeza" de quem comprou na alta e agora se desfaz das posições com prejuízo, e pode anteceder um fundo local se o preço se recuperar rápido. Por outro lado, se essa recuperação falhar, pode indicar uma tendência de baixa mais prolongada.
O ambiente macro ajudou a aumentar a pressão de venda. A chance de um corte de juros pelo Fed em dezembro chegou a recuar para cerca de 35%, segundo o FedWatch da CME.
A última reunião do FOMC mostrou um banco central dividido, com a inflação perto de 3% de um lado e o receio de reduzir juros cedo demais do outro, o que poderia comprometer a estabilidade que o próprio Fed tenta sustentar.
Juros mantidos por mais tempo tornam ativos de renda fixa relativamente mais atraentes e reduzem a liquidez disponível para investimentos mais arriscados.
A expectativa em torno dos dados de emprego de novembro nos EUA, que só saem em 16 de dezembro, também contribuiu para deixar o clima mais tenso, pois qualquer surpresa pode complicar ainda mais o cenário.
Na sexta-feira, 21, porém, uma fala do presidente do Fed de Nova York, John Williams, trouxe um pouco de alívio. Ele disse que existe espaço para ajustes na política monetária e reacendeu parte da expectativa por corte, ajudando o bitcoin a se recuperar para cerca de US$ 85 mil no início da tarde.
Com a queda atual, o bitcoin acumula 30% de correção desde o topo, algo que aconteceu outras vezes neste bull market.
Por outro lado, um fato inédito no ciclo foi a moeda ceder abaixo da sua linha de tendência de longo prazo, nível que vinha sendo respeitado até nas correções mais intensas desde novembro de 2022. Perder as médias de 100 e 200 dias também sinaliza enfraquecimento do momentum.
Vale lembrar ainda que estamos negociando abaixo do ponto de custo dos investidores ativos (US$ 88,6k), ou seja, do preço médio pago por quem movimentou moedas recentemente.
Se o mercado se firmar nesse patamar mais fraco, será a primeira vez neste ciclo que o preço cai para níveis inferiores ao custo médio desses investidores, um sinal evidente de que a pressão vendedora ganhou força.
Minha recomendação é reavaliar posições agora. Eu mesmo estou ajustando as minhas.
A formação de um fundo com viés de alta só ganha força se o bitcoin se mantiver na zona de suporte entre US$ 82 mil e US$ 75 mil. Se essa faixa se sustentar, há caminho para reversão.
Caso contrário, aí poderemos falar com mais segurança em bear market. Esses US$ 75 mil formaram uma base de suporte muito grande e também serviram de resistência, lá atrás, em abril de 2024.
Os contratos futuros, que são apostas na alta ou na baixa no curto prazo, seguem encolhendo. Em vez de aumentar posição quando o preço caiu, muitos fecharam operações. Isso deixa o mercado com menos impulso comprador para sustentar qualquer recuperação.
As taxas cobradas de posições alavancadas (funding) estão em níveis muito baixos ou negativos. Isso mostra menos disposição a assumir risco extra agora. Sem alavancagem, o mercado perde uma parte importante da demanda que costuma aparecer em momentos de queda.
Na ponta “real”, a compra à vista também não apareceu com força. Os ETFs, que trazem dinheiro institucional, tiveram saídas em dias críticos e não voltaram a entrar de forma consistente. Sem dinheiro novo, o preço fica mais vulnerável a continuar corrigindo.
Investidores que querem se proteger (por exemplo com opções) estão pagando mais. Isso é um sinal de que muita gente teme nova baixa e prefere comprar proteção em vez de correr risco. Quando o seguro sobe, confirma que o mercado está mais nervoso.
Por ora, falta comprador. Sem a volta de entrada de dinheiro, seja por ETFs, seja por traders voltando a aumentar posição, qualquer recuperação tende a ser frágil. Se a demanda não reaparecer perto dos níveis de custo dos investidores recentes, o risco é de uma correção maior.
Não dá para dizer que estamos no bear market, mas o momento é de cautela total. Por isso, antes de fazer qualquer movimento, confira os dados on-chain, acompanhe as variáveis macro e entenda o sentimento do mercado.
Importante também é evitar aqueles extremos narrativos que aparecem nessa época: não acredite em manchetes de “é o fim” nem se agarre automaticamente a previsões de “rali de fim de ano”. No ano passado, o rali teve relação direta com o ciclo eleitoral nos EUA. Baseie suas decisões em dados, não em manchetes.
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