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ETFs de bitcoin: o que não te contam

Por que o lançamento dos fundos negociados em bolsa de bitcoin à vista estão causando frisson no mercado? O que o investidor ganha? E as gestoras? Entenda

 (24K-Production/Getty Images)

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FP
Felippe Percigo

Especialista em criptoativos

Publicado em 24 de fevereiro de 2024 às 10h03.

Todo bull market se apoia em certas narrativas como importantes desencadeadores de alta. Podemos dizer que os ETFs à vista de bitcoin, sem dúvida, estão entre as mais influentes no novo e aguardado ciclo de valorizações.

Recentemente aprovados pela SEC, os fundos negociados em bolsa de bitcoin à vista estão, sim, no epicentro do hype, mas não representam um movimento passageiro. Eles se estabelecem como instrumentos de enorme importância para a cena cripto, em especial por sua capacidade de abrir as portas para uma ampla adoção e o poder de dar um boost na credibilidade dos ativos digitais.

Nesta coluna, vamos entender mais sobre a relevância dos ETFs e investigar aspectos desse mercado que não são comumente abordados.

A primeira grande vantagem, na minha opinião, é obter o respaldo de grandes players, incluindo gigantes do mercado tradicional.

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Quando embarquei na criptoesfera, bem lá atrás, todos os entusiastas como eu sonhavam com os momentos em que um país adotaria o bitcoin como moeda de curso legal, em que bancos se renderiam ao bitcoin e até ofertariam produtos financeiros baseados no ativo.

Vimos esses sonhos aos poucos virarem realidade, mas sempre em meio a inúmeras objeções, que eram construídas e, depois, felizmente, desconstruídas, para finalmente chegarmos ao patamar de avanço atual.

E que momento é esse?

É o momento em que titãs do mercado tradicional, como BlackRock, Fidelity e Vanguard, fazem aplicações junto à SEC, a CVM americana, para lançar seus ETFs de bitcoin à vista e têm êxito na aprovação pela reguladora.

Essa conquista renovou os ânimos do mercado. Especialmente nesta época pré-halving, que já é conhecido, historicamente, por ser um impulsionador de bull markets.

E qual é a importância do envolvimento dessas gigantes?

Precisamos, antes, entender a magnitude dessas corporações. A Vanguard, por exemplo, é uma gestora antiga, fundada em 1975, e tem sob gestão US$ 7 trilhões em ativos.

Para quem não conhece, o termo “sob gestão” quer dizer que todos os ativos dos clientes da gestora somados resultam em US$ 7 trilhões no caso da Vanguard.

Os dois maiores fundos de investimento do mundo são a BlackRock e o Vanguard Group. Juntos, possuem mais de US$15 trilhões em ativos sob gestão.

O que isso significa para os investidores?

Quando vemos gigantes do mercado tradicional querendo criar um ETF de bitcoin à vista para ofertar aos seus clientes, significa que essas corporações estão prontas para trazer toda a bagagem de sucesso que possuem nas finanças tradicionais para a criptoesfera.

Além de entregarem um produto descomplicado e com bom custo-benefício, elas acabam por chancelar o bitcoin como um ativo relevante para se investir. O respaldo cresce ainda mais quando pensamos que esses ETFs conseguiram prosperar em um ambiente regulatório tão rigoroso como o norte-americano.

Com os ETFs, portanto, os investidores ganham um instrumento simples e regulado para se expor ao bitcoin, o mercado de ativos digitais em si ganha relevância e, claro, as gestoras ganham muito também.

Quanto? Vamos fazer alguns cálculos juntos.

Vemos na imagem que a BlackRock cobra 0,25% de sponsor fee ao ano para fazer a gestão dos bitcoins de seu novo ETF.

Como mostra a tabela acima, o valor sob gestão no ETF de bitcoin da BlackRock soma US$ 6 bilhões. Se multiplicarmos US$ 6 bi pela taxa de 0,25%, encontramos que a gigante arrecada US$ 15 milhões por ano de taxas com a gestão do fundo.

Peguemos agora a Grayscale, que, como diz a tabela, tem mais de US$ 23 bilhões em bitcoin no seu ETF, ou seja, cerca de quatro vezes mais que a BlackRock. Assim, se multiplicarmos por 4 o que a BlackRock arrecada (US$ 15 milhões), podemos dizer que a Grayscale arrecadaria algo na casa dos US$ 60 milhões em taxas anuais.

As gestoras estão ganhando dinheiro com os ETFs, mas nada perto do que podem vir a ganhar com o tempo.

Vamos entender o potencial do ETF de bitcoin diante dos ETFs tradicionais que essas corporações ofertam.

A BlackRock comanda o famoso fundo negociado em bolsa IVV, também conhecido como iShares Core S&P 500 ETF. Como vocês conseguem checar na imagem acima, a expense ratio é 0,03%. Como vimos anteriormente, por outro lado, a taxa do ETF de bitcoin deles é 0,25%, o que significa um ganho 8 vezes maior em taxa com o produto de bitcoin.

Sob gestão no IVV, a BlackRock tem mais de US$ 443 bilhões (imagem a seguir). Assim, arrecada por ano com taxas o total de US$ 443 bilhões multiplicado pelo expense ratio de 0,03%, o que resulta em US$ 130 milhões anuais de ganhos em taxas.

Se a gente colocar na ponta do lápis, o ETF de bitcoin gera para a BlackRock hoje US$ 15 milhões com cerca de 10% do valor sob gestão no IVV.

Podemos entender, então, porque as gestoras se mostram tão otimistas com os fundos negociados em bolsa de bitcoin. Para concluir, suponhamos que a BlackRock atinja US$ 100 bilhões sob gestão no ETF de bitcoin, cobrando uma taxa de 0,25%: a gestora vai arrecadar praticamente o dobro do que arrecada com o seu maior ETF, que, como vimos, se soma quase US$ 500 bilhões em ativos.

Vocês devem ter lido na mídia esses dias a informação de que os ETFs de bitcoin tiveram a melhor estreia nos EUA em 30 anos. Os lançamentos foram muito positivos para o mercado.

Para fechar, um outro ponto que gostaria de destacar é que as gestoras não estão no negócio dos ETFs para brincar. Isso da mesma forma que você, que lê esse texto. Quem está aqui é porque leva seus investimentos a sério: quer entender para investir certo e lucrar.

Ao comprar bitcoin hoje, esses players estão acumulando e armazenando o ativo, e a tendência é que os clientes mantenham os seus investimentos sob a gestão dessas corporações durante anos. Desta forma, esse bitcoin dos ETFs é retirado de circulação do mercado e, com a redução da oferta, o preço do ativo vai aumentando. E, claro, a lucratividade das gestoras, proporcionalmente, vai se multiplicando.

Se você chegou aqui depois dessa matemática toda, parabéns! Agora, consegue entender como o movimento dos ETFs de bitcoin à vista não é apenas importante para a criptoesfera, mas tem impacto significativo para o mercado como um todo.

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