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ETFs de bitcoin têm "números ridículos" e valerão US$ 100 bilhões, diz analista famoso da Bloomberg

Em entrevista exclusiva para a EXAME, Eric Balchunas avalia que ETFs tiveram estreia "incrível", mas saídas no fundo da Grayscale ofuscaram o lançamento

SEC aprovou pedidos para lançamentos de ETFs de bitcoin nos EUA (Reprodução/Reprodução)

SEC aprovou pedidos para lançamentos de ETFs de bitcoin nos EUA (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 30 de janeiro de 2024 às 10h30.

Os ETFs de bitcoin acumulam "números ridículos" desde a estreia no mercado dos Estados Unidos. É o que avalia Eric Balchunas, analista de ETFs da Bloomberg e referência no segmento, em entrevista exclusiva à EXAME. Mas, ao invés de muitos investidores do mundo cripto, o especialista não acredita que os produtos têm um desempenho negativo, pelo contrário.

Antes da aprovação dos 11 pedidos de lançamento de ETFs pela SEC, investidores que apostavam na aprovação fizeram o bitcoin valorizar mais de 70% em seis meses, rondar os US$ 50 mil e estimularam projeções de que os novos produtos teriam estreias significativas, batendo recordes no mercado. Muitos, porém, acabaram decepcionados com o desempenho.

Para Balchunas, "as expectativas dos investidores estavam um pouco doidas", traçando cenários irrealistas para o próprio mercado de ações dos Estados Unidos. Nesse sentido, ele avalia que os fundos estão com um desempenho muito melhor que o percebido pelos investidores, com números "ridículos" e uma "grande estreia, com um sucesso incrível".

O analista afirma que os ETFs de bitcoin já estão entre os "2% ou 3%" melhores do mercado e têm feito um "grande trabalho" para cumprir sua missão central: acompanhar o preço do ativo do fundo. Ou seja, a desvalorização do bitcoin após a aprovação não indica que os fundos falharam, já que eles continuam tendo "centenas de milhões de dólares em negociação diária e taxas muito baixas".

O problema, diz Balchunas, é que o fluxo de retirada de investimentos do ETF da Grayscale acabou ofuscando a estreia positiva dos outros produtos. No caso da Grayscale, a empresa obteve permissão para converter seu fundo em um ETF, mas isso criou uma "porta de saída" para investidores, que já retiraram mais de US$ 5 bilhões em investimentos do fundo, um dos principais fatores para a queda da criptomoeda.

"A situação do ETF da Grayscale é realmente muito incomum. Mas a tendência é que o fluxo de saída pare em alguns meses. Aí sim os ETFs estarão em um cenário normal, com volumes mais normais", diz Balchunas. Por isso, ele mantém a projeção da Bloomberg de que esse mercado vai valer US$ 100 bilhões em cerca de cinco anos.

Já sobre a decepção do mercado com a queda do bitcoin, o analista pontua que muitos investidores "parecem ter esquecido do fato de que o bitcoin subiu 70% apenas com a antecipação da aprovação. É natural que ocorra um movimento de venda da notícia", se referindo a um comportamento comum no mercado de realização de lucros quando um evento esperado ocorre.

Efeito no preço e novos ETFS

Após a aprovação dos ETFs de bitcoin, o mercado se voltou agora para as especulações sobre a aprovação de ETFs de ether. Balchunas mantém a projeção de que a liberação pela SEC tem "mais de 70% de chance" de ocorrer até maio, pontuando que a probabilidade subiu recentemente.

A tendência, porém, é que a SEC não libere no futuro próximo ETFs de outras criptomoedas. Conforme o ether receber a liberação, ele também espera que as gestoras criem "todo tido de ETF" envolvendo a criptomoeda e o bitcoin, com múltiplas estratégias de exposição e composição de ativos. Um cenário mais próximo ao já observado no Brasil.

Já sobre os efeitos dos ETFs no preço do bitcoin, Balchunas acredita que os impactos no curto prazo já foram precificados e devem abrir espaço para outros catalisadores de preço, tanto de alta quanto de queda. No médio e longo prazo, porém, ele acredita que os fundos terão "um efeito positivo", ajudando na valorização ao criar "um novo canal para que as pessoas possam entrar" no ativo.

Futuro dos ETFs de bitcoin

Balchunas pondera que a tendência é que o volume diário negociado nos ETFs "diminua um pouco com o passar do tempo". O ETF da BlackRock, por exemplo, já chegou a ultrapassar os US$ 400 milhões. "São números muito grandes, é difícil saber se eles vão conseguir manter. Os volumes deverão continuar saudáveis, mas não tão altos. Mesmo assim, é um desempenho muito bom para uma categoria tão nova".

O analista da Bloomberg destaca que os ETFs de bitcoin têm as duas características necessárias para manterem uma trajetória de ascensão: alto volume negociado e taxas baixas. "Qualquer pessoa remotamente interessada no bitcoin vai responder bem a isso. As pessoas vão entrar nos ETFs constantemente, e o volume vai se dividir entre os fundos", projeta.

Ao mesmo tempo, ele acredita que os ETFs ainda não estão conseguindo atrair investidores institucionais, uma grande expectativa em torno dos produtos. O motivo, explica, é que o tamanho das operações de compra e venda é pequena, indicando que as movimentações têm sido feitas por investidores menores.

Ele diz que a tendência é que "uma das grandes gestoras vai ter um volume muito maior que as outras, vai decolar e aí vai atrair as instituições. Isso deve ocorrer nos próximos 12 meses, lentamente. O mesmo vai acontecer com os advisors, mas aí depende mais dos ETFs terem taxas baixas".

"As condições [para atrair investidores institucionais] já existem, mas é algo que demora um certo tempo", afirma. Mesmo assim, Balchunas reconhece a importância da aprovação dos fundos: "é um momento equivalente à chegada na Lua para o setor. Abre margem para que o bitcoin chegue a investidores mais velhos, que amam e confiam nos ETFs, mas isso ocorrerá lentamente. É o primeiro passo de uma maratona".

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