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Entenda como a tecnologia blockchain é estudada em renomadas universidades

Instituições tradicionais podem continuar céticas quanto às criptomoedas, mas professores de grandes universidades continuam contribuindo para o desenvolvimento de suas tecnologias

Acadêmicos foram essenciais para a criação da criptografia (Eduardo Moreira/Stanford/Divulgação)

Acadêmicos foram essenciais para a criação da criptografia (Eduardo Moreira/Stanford/Divulgação)

Coindesk

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Publicado em 6 de outubro de 2021 às 19h02.

Por que será que professores de universidades estão tão interessados em criptomoedas, que as vezes até constroem seus próprios blockchains? Essa não é uma piada pronta. No universo cripto, há um tipo particular de figura pública que é geralmente conhecida por suas conquistas acadêmicas, e não por ser um programador supremo.

Pense em Emin Gün Sirer da Universidade de Cornell e um dos fundadores da Avalanche, blockchain de primeira camada que busca complementar e concorrer com a Ethereum. Também temos Dawn Song da Universidade de Berkeley na Califórnia e do blockchain focado em privacidade Oasis. David Mazieres, professor titular da Universidade de Stanford, ajudou a construir Ripple e Stellar. Como representante brasileiro, temos Alex Nascimento,que dá aulas na UCLA, onde fundou o Blockchain@UCLA Lab, além de ser sócio da 7CC Blockchain Investments.

“Se você quer desenvolver novas capacidades, então você precisa trabalhar dentro dessas limitações, como a escalabilidade ou problemas culturais dos blockchains pré-existentes, ou então criar o seu do zero”, disse Song. É mais uma questão de expertise do que de ego.

A razão para que a questão anterior soe como uma piada é por conta da notória mentalidade contra o sistema que existe no mundo cripto. Pessoas que constroem protocolos e ferramentas de código aberto podem ser influenciadas a se manter céticas quanto às instituições centralizadas – incluindo bancos, governos e a mídia.

Explicando de outra forma, se “uma carteira é o seu currículo”, então credenciais valem ainda menos. Não importa se você se formou em uma renomada universidade norte-americana da Ivy League, trabalhou no Goldman Sachs ou é um desempregado, você pode participar do universo cripto desde que contribua com alguma coisa.

Song, de 46 anos, ex-membro da MacArthur Foundation, é o tipo de pessoa que ouviu: “Aqueles que podem, fazem, e aqueles que não podem, ensinam”, e decidiu fazer os dois. Após levar um tempo para focar no Oasis, ela voltou em tempo integral para a Berkeley, dando aulas para um gigantesco curso online sobre blockchain e proteção de dados.

“Gasto meu tempo fazendo pesquisa, escrevendo artigos, aperfeiçoando a teoria da privacidade de dados e ainda dou aulas”, afirmou. É difícil saber como ela e outros “empreendedores da educação em cripto” encontram tempo para tudo isso. Ou então a força de vontade.

A universidade, ainda mais quando o assunto é cripto, é classificada geralmente como uma instituição “fora do nosso alcance”. Por mais que os acadêmicos, financiados pelo governo, tenham sido essenciais para a construção dos primórdios da criptografia, onde a internet atual se baseia, o mundo cripto está mostrando como a próxima geração da internet pode acabar surgindo fora dos portões das universidades.

“Quer dizer, eu acho que a academia é contra o sistema”, disse Mazieres, da Stellar. Hoje em dia, grandes companhias de tecnologia como Apple, Google e Facebook representam os “jardins fechados” da computação. “Se você quiser fazer algo que é diferente do que essas companhias fazem, ou que não é bom para as diretrizes deles, então você vai ter que fazer isso na academia”, disse ele.

É na universidade ou em uma startup, ele adicionou, “mas as universidades não têm o mesmo tipo de limitação que ocorre quando você precisa agir visando lucros”.

É claro, o mundo cripto tem suas próprias fundações econômicas que encorajam a pesquisa e o desenvolvimento. Lançar uma “commodity” – como o bitcoin ou ether, utilizado para garantir a segurança e pagar pela computação do blockchain – é como emitir seu próprio subsídio. Protocolos cripto como Zcash encontraram formas de implementar e integrar técnicas de computação como zk-snarks que um dia foram apenas teoria, e ter dinheiro para avançar essa pesquisa. Da mesma forma, empresas que hospedam carteiras digitais têm feito uso comercial de uma computação multipartidária (MPC) experimental semelhante.

Para Mazieres, a academia representa outro caminho para construtores que buscam reinventar o mundo através das criptomoedas. O processo de peer-review pode ser lento, mas a cadeira de professor promove o isolamento da volatilidade do mercado, a garantia de trabalho e o benefício de estar cercado de algumas das pessoas mais inteligentes do planeta.

“Pra mim é muito difícil imaginar a possibilidade de deixar Stanford antes de me aposentar”, disse Mazieres. Na verdade, é o mesmo interesse em “tecnologias igualitárias” que o mantém no mundo privado das criptomoedas e no sistema pseudo-democrático da universidade. “Certamente um dos motivos é o fato de que eu posso fazer qualquer coisa em código aberto e publicar tudo”, disse ele.

Mas a motivação pelo lucro é forte.

Avalanche, o blockchain de smart contracts, é um negócio de quase 50 bilhões de dólares. Empresas de Venture Capital notáveis como a Three Arrows Capital e Polychain Capital lideraram recentemente uma rodada de investimentos de 230 milhões de dólares na Avalanche Foundation, uma grande organização que constrói e mantém o blockchain.

No último mês, Gun Sirer, o fundador da Ava Labs, revelou que está saindo da Cornell, onde deu aulas pelos últimos 20 anos, local onde ele conduziu suas primeiras investigações sobre a economia blockchain – descobrindo o “ataque da mineração egoísta” na rede Bitcoin e outros bugs na rede Ethereum.

Somando à situação não muito ideal de ter que dar aulas durante a pandemia, Gun Sirer notou a proposta de valor que poderia ter ao passar seus dias inteiros programando e construindo a Avalanche. “Estou dando um passo para trás, para poder dar dois para a frente”, disse ele.

“Minha pele está em jogo e então eu decidi: Ei, se alguém vai pegar nossas ideias e comercializá-las, então essa pessoa deveria ser eu”, disse ele.

Ele não foi o único a tirar uma pausa sabática para trabalhar mais tempo em cripto. O fundador da OpenLaw, Aaron Wright, também está deixando a sala de aula na Escola de Direito de Cardozo para focar em sua incubadora de organizações autônomas descentralizadas (DAOs).

Wright afirmou que uma das razões para sua saída é porque pensa que pode ser o momento de monetizar a The LAO, que foi “essencialmente pesquisa e desenvolvimento” no último ano. Apesar da existência de regras claras que buscam prevenir conflitos de interesse entre professores e seus negócios enquanto eles ainda dão aula, algumas vezes, a melhor decisão é se retirar da instituição de ensino.

As regras de conflito de interesses podem variar de instituição para instituição, mas em geral tentam prevenir que professores explorem o trabalho de seus alunos ou tenham qualquer tipo de favoritismo. Gun Sirer pensa que tais regras foram “longe demais” e geralmente impedem que duas pessoas trabalhem juntas.

“Existe um conflito inerente sempre que você vai comercializar coisas”, disse ele. E espaço para o abuso. Mas prover uma oportunidade para que os estudantes trabalhem em um projeto “de verdade”, construam seu portfólio e publiquem suas próprias pesquisas em um ambiente de código aberto é um ótimo benefício, disse ele.

Song, da Oasis, notou que essa experiência “mão na massa” é um pouco como um estágio, mas sob a perspectiva ideal.

“É isso que torna as universidades especiais”, disse Wright. “Elas não estão ligadas à empresas e não estão protegendo o público como se fossem o governo”.

Para Wright, “existe um espaço enorme para explorar e tentar surgir com a resposta correta”, incluindo construir novos blockchains.

Texto traduzido por Mariana Maria Silva e republicado com autorização da Coindesk

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