Atualização vai eliminar a mineração da rede (SOPA Images/Getty Images)
Criado em 2015, o blockchain Ethereum utiliza a mineração para validar suas transações, assim como o Bitcoin, seu predecessor. No entanto, desde 2020 espera-se que a rede troque o seu mecanismo de consenso para uma versão mais sustentável: a prova de participação (PoS). Com o anúncio da mudança para 15 de setembro, empresas e projetos agora se dividem e levantam dúvidas sobre uma das maiores atualizações da história da Ethereum.
A mineração funciona por meio do mecanismo chamado prova de trabalho (PoW) e utiliza poder computacional para validar as transações na rede, consumindo assim uma quantidade expressiva de energia elétrica.
Já a prova de participação seleciona seus validadores por meio da quantidade de tokens que eles possuem bloqueados na rede, reduzindo o consumo de energia elétrica em aproximadamente 99% e se destacando como um método sustentável.
E após anos de especulação, uma atualização deve finalmente acontecer na rede Ethereum para adotar o método “verde” de verificar transações. Anunciada em julho deste ano, a “The Merge”, como ficou conhecida, vem dividindo opiniões entre os principais players do mercado de criptomoedas.
Enquanto alguns acreditam em uma nova era para a Ethereum, outros prevêem uma resistência por parte de mineradores e daqueles que acreditam que o modelo prova de trabalho proporciona mais segurança.
Em um ambiente descentralizado como o blockchain, a divisão de opiniões pode gerar impacto na rede. É possível que, caso uma quantidade relevante de pessoas esteja insatisfeita com a migração, seja criada uma nova rede a partir da original, em um processo conhecido como hard fork ou bifurcação, onde a prova de trabalho seja mantida como o mecanismo de consenso.
Para Kevin Zhou, cofundador da Galois Capital, haverão “pelo menos” três hard forks da Ethereum após a atualização. As corretoras BitMEX e Huobi também anunciaram que listarão os tokens originários de possíveis bifurcações na rede, caso eles venham a existir.
Apesar disso, a “The Merge” conta com apoiadores de peso. A Chainlink, uma rede que opera com oráculos descentralizados permitindo a interação entre blockchains e que possui quase US$ 4 bilhões em valor de mercado, já anunciou que oferecerá suporte apenas para a rede principal da Ethereum. A rede descartará quaisquer outros hard forks que possam surgir após a atualização.
O segundo maior pool de mineração, o F2Pool, também afirmou que não participará de um eventual hard fork da Ethereum. De acordo com o pool, “a era da prova de trabalho acabou”.
A DeBank, empresa focada em soluções de finanças descentralizadas (DeFi) também afirmou que um eventual hard fork “será um desastre” e que nenhum de seus produtos oferecerá suporte para tokens originários de uma eventual bifurcação da Ethereum.
O Digital Currency Group, controlador da Grayscale, publicou uma carta aberta explicando que uma eventual bifurcação da Ethereum traria “dificuldade substancial em relação ao hard fork de 2016 e não funcionará”.
Em 2016, um ataque hacker gerou a necessidade de que a rede Ethereum passasse por uma bifurcação, que originou a rede Ethereum Classic, onde os hackers ficaram enquanto os investidores puderam escolher migrar para a rede Ethereum como conhecemos hoje.
Apesar de ter sido “esquecida” por muitos investidores, a Ethereum Classic voltou ao destaque nas últimas semanas, já que permanecerá utilizando a prova de trabalho como mecanismo de consenso para suas atualizações.
O próprio criador da rede, Vitalik Buterin, declarou seu apoio à Ethereum Classic durante a EthCC, conferência anual da Ethereum. Segundo ele, aqueles que preferirem a prova de trabalho se darão bem na Ethereum Classic, e sugeriu a sua utilização ao invés da realização de uma nova bifurcação na Ethereum.
Não por acaso, a ETC, criptomoeda nativa da rede Ethereum Classic, disparou no último mês. De acordo com dados do CoinMarketCap, ainda que tenha recuado um pouco, a ETC subiu mais de 100% nos últimos 30 dias. Enquanto isso o ether, nativo da rede Ethereum, subiu quase 40% no mesmo período.
Segundo Buterin, a rede estaria ameaçada caso grandes players como Tether e Circle optassem por utilizar a rede adjacente.
“Acho que no futuro, isso definitivamente se torna mais uma preocupação. Basicamente, o fato de que a decisão do USDC de qual cadeia considerar como Ethereum pode se tornar um decisor significativo em futuros hard forks contenciosos”, disse ele.
A USDC foi criada pela Circle e é a maior stablecoin – criptomoeda estável - lastreada em dólar emitida na Ethereum, com mais de US$ 53 bilhões em valor de mercado. Já a USDT, da Tether, é a maior stablecoin lastreada em dólar do mundo, superando a USDC com US$ 67 bilhões de valor de mercado.
Ambas as stablecoins têm uma quantidade significativa de sua oferta circulante no atual blockchain da Ethereum, com USDT em US$ 32,3 bilhões e USDC ocupando o primeiro lugar em US$ 45,1 bilhões, aproximadamente.
Não demorou para que as empresas responsáveis pela USDC e USDT se pronunciassem sobre a atualização. As duas declararam “total apoio” à The Merge.
“O USDC tornou-se um bloco de construção central para a inovação DeFi da Ethereum. Ele facilitou a adoção de soluções de camada 2 e ajudou a ampliar o conjunto de casos de uso que hoje dependem do vasto conjunto de recursos da Ethereum. Entendemos a responsabilidade que temos pelo ecossistema Ethereum e negócios, desenvolvedores e usuários finais que dependem do USDC, e pretendemos fazer a coisa certa”, declarou a Circle.
A opinião da “rival” Tether, foi bastante semelhante. “A Tether acredita que, para evitar qualquer interrupção na comunidade, especialmente ao usar nossos tokens em projetos e plataformas DeFi, é importante que a transição para a PoS não seja utilizada como arma para causar confusão e danos ao ecossistema”, afirmou a empresa em um comunicado.
“O Tether acompanhará de perto o progresso e os preparativos para este evento e apoiará o POS Ethereum de acordo com o cronograma oficial. Acreditamos que uma transição suave é essencial para a saúde de longo prazo do ecossistema DeFi e suas plataformas, incluindo aquelas que usam nossos tokens”, concluiu a Tether.
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