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Em 2022, criptos perdem para ações, mas perspectiva anima especialistas

Principal ETF do setor, HASH11 acumula 30% de perdas em um ano, enquanto Ibovespa caiu 10% no mesmo período, mas especialistas acreditam em "reviravolta"

Bitcoin tem sofrido perdas em 2022, assim como todo o mercado cripto (JUN2/Getty Images)

Bitcoin tem sofrido perdas em 2022, assim como todo o mercado cripto (JUN2/Getty Images)

O ano de 2022 não tem sido bom para os ativos de risco. Com menor apetite por parte dos investidores, a maioria dos investimentos desse tipo perdeu valor desde o início de janeiro. O setor de criptoativos é um dos principais exemplos, com forte queda ao longo do ano. E números piores do que muitos "concorrentes": enquanto a bolsa brasileira opera com queda de 10% no ano, o HASH11, segundo ETF mais negociado da bolsa brasileira, segundo dados do ano passado, que busca ser uma referência do mercado cripto como um todo, perdeu quase 30% no mesmo período.

A principal razão para esse movimento, chamado no mercado de “sell-off” (aumento da pressão vendedora), é a economia norte-americana. A inflação no país atingiu a marca de 8,5% em 2021, o maior patamar em mais de 40 anos. Com isso, o Fed iniciou o movimento de aumento nas taxas de juro, pela primeira vez desde 2018, fazendo com que a conta para chegar no valor justo das ações, principalmente as de tecnologia, ficasse mais apertada. Com a correlação entre o índice Nasdaq e as criptomoedas, essas sofrem também. No entanto, segundo especialistas ouvidos pela EXAME, a perspectiva para ambos os mercados é boa, principalmente para cripto.

(Mynt/Divulgação)

A Hashdex, criadora do HASH11, que é o primeiro ETF cripto do país, é uma das casas que compartilha desta visão. Segundo Carlos Eduardo Gomes, head de research da gestora, a empresa entende “ser questão de tempo até que cripto se torne uma tecnologia efetivamente de massa, fazendo parte de um mercado endereçável múltiplas vezes superior ao atual”.

A performance ruim de seu principal produto é muito afetada pelo momento do seu lançamento, no ano passado, poucos dias depois do anúncio de que a Tesla havia comprado US$ 1,5 bilhão em bitcoin, marcando a alta histórica da criptomoeda na época. Isso fez com que o HASH11 chegasse ao mercado com cotas a um preço elevado, acompanhando a alta do mercado. Com a queda dos últimos meses, a rentabilidade do produto ficou bastante negativa.

O objetivo do HASH11 é acompanhar o Nasdaq Crypto Index, índice criado em parceria com a bolsa norte-americana, que também acumula perdas de 20% no ano. A sua composição tenta emular o mercado cripto como um todo – 66,98% da posição é em bitcoin e 29,59% em ether. As outras posições são muito menores, como 0,44% em bitcoin cash e 0,64% em litecoin, por exemplo. “O movimento de curto prazo pode ser explicado por dois fatores: a redução do apetite a risco dos mercados globais e o impacto do câmbio”, explica Gomes. “Isso levou a queda do HASH11 em 2022, dos quais cerca de 10% são explicados pelo efeito cambial entre o dólar e o real, que se valorizou nos últimos meses”, completou.

A maior criptomoeda do mundo, o bitcoin, negociava a quase US$ 60.000 um ano atrás, após um forte rali entre os meses de janeiro e fevereiro de 2021, que duplicou seu preço. Ao longo de maio, seu preço atingiu a casa dos US$ 30.000 e continuou sua trajetória de queda até negociar a US$ 29.000 em julho. No entanto, depois disso, inciou uma trajetória de alta que culminou na máxima histórica de US$ 67.000 em novembro. Enquanto isso, o Ibovespa se manteve entre os 100.000 pontos e a sua máxima histórica de 130.000, atingida no meio do ano passado. Atualmente, negocia estagnado nos 105.000 pontos, após atingir novamente o 120.000 no início de abril.

“Entendemos ser um movimento muito mais conjuntural de curto prazo do que algo inerente à classe de ativos cripto. Analisando o cenário macro, percebemos um ambiente desafiador, com os conflitos no Leste Europeu, restrição nas cadeias de suprimento globais e expansão dos balanços dos bancos centrais, fatores que levaram a um acentuado aumento da inflação global, exigindo maior restrição fiscal e aumento das taxas de juros. Esse cenário usualmente leva, momentaneamente, a uma redução da exposição a ativos de risco em busca de ativos considerados mais seguros.”, acrescenta.

O cenário para os criptoativos, no entanto, é extremamente promissor, segundo Carlos Eduardo. E, ao mesmo tempo em que diversos especialistas alertam para o preço relativamente barato da bolsa brasileira, quando comparada às suas máximas históricas, a mudança que deve acontecer com cripto é muito mais estrutural.

De acordo com Felipe Simões, diretor de investimentos da WIT Asset, gestora de fundos de investimentos e carteiras, a empresa acredita “em uma forte recuperação da bolsa brasileira, com um ciclo de alta após o mercado ter sido penalizado nos últimos meses, e aposta em ações voltadas ao setor interno da economia”. “Todas as últimas vezes que os Estados Unidos elevaram a taxa de juros de forma relevante, houve uma alta bastante expressiva na bolsa brasileira dolarizada”, completou o analista.

“Quando analisamos as perspectivas de médio e longo prazos do mercado de criptoativos, os fundamentos seguem bastante robustos. A adoção dessa nova tecnologia segue aumentando de forma acelerada, com volumes crescentes de capital entrando no setor e levando a uma evolução constante dos produtos e serviços oferecidos nesse mercado. Grandes empresas estão cada vez mais buscando fazer parte desse ecossistema e as propostas de regulação são promissoras”, finalizou Carlos.

A volatilidade acompanha os criptoativos desde o princípio. Todas as grandes quedas nesse mercado foram seguidas por altas consideráveis, como visto no ano passado. Enquanto o ano de 2022 não está nem na metade, é difícil afirmar que se tratou de um ano ruim para os ativos digitais, e com a crescente adoção e entusiasmo institucional, os fundamentos de cripto estão mais fortes do que nunca.

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