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Drex sem blockchain: um retrocesso estratégico para o Brasil?

O Banco Central do Brasil anunciou recentemente que a próxima fase do Drex, a versão digital do Real, será lançada sem o uso de blockchain ou de tecnologias de registro distribuído (DLT)

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Da Redação
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Publicado em 23 de agosto de 2025 às 10h00.

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Por Gustavo Jopert Massena*

O Banco Central do Brasil anunciou recentemente que a próxima fase do Drex, a versão digital do Real, será lançada sem o uso de blockchain ou de tecnologias de registro distribuído (DLT).

A justificativa é técnica: os testes realizados com soluções de privacidade e escalabilidade não atenderam às exigências da instituição. Contudo, por trás dessa decisão aparentemente pragmática, esconde-se um conjunto de consequências negativas que podem comprometer o papel do país como referência em inovação financeira.

O Brasil vinha sendo apontado como um dos líderes globais na agenda de inovações financeiras. O Pix revolucionou pagamentos instantâneos; o Open Finance abriu novos horizontes para a competição bancária; e o Drex prometia colocar o país na linha de frente da revolução das moedas digitais de bancos centrais (CBDCs).

Ao abandonar temporariamente a blockchain, porém, o projeto perde parte desse brilho inovador e assume uma postura conservadora, mais próxima de sistemas centralizados tradicionais. Essa mudança pode desestimular investimentos e reduzir o interesse de players internacionais que viam no Drex um exemplo avançado de aplicação de DLT.

Além disso, um dos maiores diferenciais do blockchain estava na descentralização, que reduz pontos únicos de falha e fortalece a resiliência contra ataques cibernéticos. Ao optar por uma infraestrutura totalmente centralizada, o Banco Central concentra poder e responsabilidade em suas próprias mãos.

O sistema se torna dependente de uma única entidade, vulnerável a falhas técnicas, problemas operacionais e até a riscos de confiança. Em vez de distribuir segurança, o Drex passa a depender da promessa de infalibilidade de um único ator, o que pode ser uma aposta arriscada em um cenário de crescente sofisticação de ameaças digitais.

A imutabilidade e auditabilidade pública são marcas da blockchain. Registros distribuídos permitem verificações independentes, reforçando a credibilidade das operações. Ao abrir mão dessa camada de transparência, o Drex perde uma oportunidade de oferecer um sistema financeiro mais confiável e auditável. Isso pode comprometer sua aceitação, sobretudo em ecossistemas internacionais onde a confi ança em infraestruturas digitais é um pré-requisito para cooperação e integração.

O setor privado já vinha se mobilizando para criar soluções de tokenização de ativos reais (RWA) baseadas na infraestrutura prevista para o Drex. Startups, bancos digitais e fi ntechs enxergavam na combinação entre blockchain e regulação estatal uma base segura para inovação. Com a mudança, projetos precisam ser redesenhados, gerando custos adicionais, incertezas e, possivelmente, desmotivação.

O risco é claro: que o mercado privado migre para stablecoins não reguladas e para redes públicas, deixando o Drex em segundo plano.

Enquanto várias iniciativas de CBDCs em andamento pelo mundo, inclusive testes do Banco de Compensações Internacionais (BIS), exploram modelos baseados em DLT para garantir interoperabilidade transfronteiriça, o Brasil pode estar se isolando ao escolher uma arquitetura mais tradicional.

Essa decisão pode dificultar a integração do Drex em sistemas globais de pagamentos digitais, reduzindo o alcance internacional da moeda digital brasileira.

É compreensível que o Banco Central queira entregar resultados rápidos, priorizando segurança e estabilidade. No entanto, ao abrir mão da blockchain, existe o risco de transformar o Drex em apenas mais uma moeda digital centralizada, sem diferenciais de inovação ou competitividade internacional.

O Brasil perde a chance de liderar a construção de uma infraestrutura financeira do futuro e arrisca diluir o legado conquistado com o Pix e o Open Finance. A decisão pode parecer pragmática, mas pode ser lembrada no futuro como uma oportunidade perdida. O Drex nasceu para transformar. Sem blockchain, pode acabar apenas reproduzindo o que já existe.

*Gustavo Jopert Massena é business developer na Polkadot.

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