Drex tem previsão de lançamento para o público no fim de 2024 (Getty Images/Reprodução)
Repórter do Future of Money
Publicado em 7 de setembro de 2023 às 09h00.
O Drex, a versão digital do real, permitirá que o dinheiro usado pelos brasileiros se torne rastreável, mas isso não será algo negativo. É o que avalia Stephany Colantonio, superintendente de produto do Banco BS2, em uma entrevista exclusiva para a EXAME. A instituição, que é o primeiro banco digital voltado para pequenas e médias empresas, participa atualmente dos testes do piloto do projeto.
O BS2 ingressou na fase de testes da iniciativa por meio de um consórcio liderado pela Associação Brasileira de Bancos, a ABBC, que reúne outras oito instituições financeiras e empresas de outros segmentos. Na visão da executiva, o consórcio é o "mais diversificado" de todos os aprovados pelo Banco Central, e tem como vantagem o apoio da associação para as empresas, que precisam se adequar ao novo sistema.
"Da mesma forma que hoje a gente tem parceiros de Open Finance, a ideia é ter isso com o Drex. Nem todos os participantes que se inscreveram foram escolhidos, e no consórcio da ABBC a gente tinha mais chance", destaca Colantonio. Ao mesmo tempo, ela pontua que o processo de desenvolvimento da versão digital do real tem sido diferente que a do Pix.
Colantonio explica que, no processo de desenvolvimento, é essencial que as instituições financeiras "não fiquem paradas" e tentem se antecipar ao Banco Central, se preparando para a implementação da nova infraestrutura que acompanhará o Drex. Para isso, ela destaca que é preciso ter inovação e foco em desenvolvimento interno, se não "não consegue entregar um produto viável para o cliente final".
Para ela, o maior desafio no desenvolvimento da moeda digital de banco central (CBDC) tem sido "se adequar ao produto, estudar blockchain, o mercado, se adequar para não ficar para trás e entregar todos os produtos que o Drex vai trazer. A gente montou uma equipe de inovação para cuidar do Drex e conseguir fazer essa entrega com excelência".
A ideia é repetir o desempenho do BS2 no lançamento do Pix. O banco digital foi o primeiro do país a receber a autorização do Banco Central para iniciar a oferta da ferramenta de pagamentos instantâneos. Ao mesmo tempo, a executiva pontua que o processo de desenvolvimento da CBDC tem sido diferente que o observado com o Pix.
"Os bancos tentaram se adiantar à normativa do Pix. Ele foi lançado em 2020 e nesse dia, os bancos já estavam prontos para lançar o Pix junto com o BC, mas os bancos não tinham todas as informações necessárias para lançar com excelência, foi uma tentativa e erro que exigiu adaptações", explica.
Já no caso do Drex, "a gente sabe o que está acontecendo desde o começo, então consegue fazer uma adaptação correta desde o início. É algo em conjunto, você sabe qual é o próximo passo, entende a complexidade. Então consegue ter algo mais assertivo. Vamos sofrer mais agora para desenvolver para ser mais fácil no futuro, e é algo menos solitário do que foi com o Pix".
Apesar da proximidade e contato maior entre o Banco Central e as instituições financeiras, isso não significa que o projeto tem sido tranquilo. A autarquia anunciou recentemente um adiamento do fim da fase de testes citando desafios tecnológicos e de garantia de privacidade, mas manteve a projeção de que a CBDC será lançada para o público até o início de 2024.
Colantonio afirma que, como consórcio, há a perspectiva no momento de conseguir cumprir com toda a linha do tempo divulgada pelo Banco Central. Entretanto, "muitos dos bancos precisam de uma complexidade maior, desenvolvimento interno. Para os consórcios, tendo mais mentes pensantes juntas, fica mais fácil conseguir cumprir os prazos, mas não tenho certeza se todo mundo consegue cumprir o prazo de 2024 a 2025".
A executiva do BS2 avalia que, nesse caso, pode ser necessário criar uma "régua dos participantes que vão para frente para não ficar adiando por muito tempo o Drex. Foi igual com o Pix, nem todos estavam aptos a fazer o Pix, mas hoje quase todas as instituições já fazem. Acho que tende a ser algo semelhante, mas depende bastante da instituição fazer o processo de inovação, ligar o Drex à instituição, vai ser algo caso a caso".
"Uma grande parte do adiamento do piloto envolve a complexidade de entrar na rede blockchain, então o Banco Central deu esse tempo para os consórcios, bancos que ainda não estavam prontos para eles se preparem", ressalta.
Mesmo com os desafios, Colantonio está otimista em relação ao potencial transformador do Drex. No caso do BS2, um dos focos de estudo de aplicação da CBDC está no desenvolvimento das chamadas contas escrow, que permitem liberar movimentações financeiras apenas quando certas condições são cumpridas, uma função que deverá ser mais factível graças aos contratos inteligentes que poderão ser criados no sistema do Drex.
A executiva considera que a incorporação da versão digital do real também vai exigir um processo de explicar essas vantagens e funcionamento para os clientes. Ela lembra que esse processo já ocorreu com o Pix: "Tinha muita resistência, de que o dinheiro seria rastreável, e isso acontece com o Drex também. A gente vai ter um dinheiro rastreável, mas tento ver isso de forma positiva, porque tem um ganho anticorrupção muito grande".
E Colantonio acredita que o projeto conseguirá superar a dificuldade atual e garantir privacidade mesmo em uma rede blockchain. "Acho que vai ser possível conservar a privacidade, mas com rastreabilidade. Você pode ter vazamentos de dados, como tudo que pode acontecer hoje no mercado em cima de algo que é centralizado, mas acho que vai ser possível preservar a privacidade", projeta.
Além disso, ela acredita que o lançamento da CBDC também pode mudar algumas operações realizadas pelo BS2 hoje em dia. "Eu vejo um ganho nas intermediações complexas deixando de existir, podendo servir também como um incentivo para a consultoria em transações. Você consegue reduzir custos com a conta escrow, e com a tecnologia do Drex fazer a consultoria de como o cliente vai conseguir usar a plataforma. É uma perda de receita mas ganho via consultoria", projeta.
Porém, a executiva ainda evita ser categórica nas projeções, destacando que "muita coisa pode mudar". Em geral, a certeza é que o projeto deverá trazer "muito ganho na rastreabilidade e nos contratos inteligentes, mas ainda tem muita coisa para estudar, definir com o Banco Central".
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