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Dona de "dólar digital" vê falta de regulação como "barreira para adoção em massa" de criptomoedas

Em entrevista à EXAME, líder global da Circle falou sobre planos da empresa para expansão no Brasil e expectativas com eleições nos EUA

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 9 de outubro de 2024 às 17h46.

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A regulamentação do mercado de criptomoedas é a "última barreira" que o setor precisa superar para atingir uma "adoção em massa" junto à população. É o que avalia Dante Disparte, CIO e head global de regulação da Circle em entrevista exclusiva à EXAME. A Circle é a emissora da USDC, a segunda maior stablecoin pareada ao dólar do mundo.

Disparte também falou sobre os planos da empresa para a expansão da sua base de usuários no Brasil. Recentemente, a Circle anunciou parcerias com o Nubank e com o BTG Pactual com esse objetivo, uma estratégia que também foi detalhada à EXAME pelo CEO da companhia, Jeremy Allaire.

Para o executivo da empresa, um dos elementos mais importantes para o mercado cripto nos próximos meses é a eleição presidencial nos Estados Unidos, que, independente do resultado, pode ter criado uma janela de oportunidade importante para a regulação do setor.

Planos para o Brasil

Disparte destacou que o mercado brasileiro é um dos "mais competitivos no mundo em termos de promoção da atuação de agentes bancários e não-bancários no sistema de pagamentos", em um movimento "estimulado pelo próprio ambiente regulatório" do país e pela atuação do Banco Central.

Nesse objetivo, a Circle tem um "modelo de negócios baseado em uma cadeia de valor única para o Brasil". O executivo diz que a empresa "não quer ser um elemento financeiro marginal no mercado, mas sim central. As parcerias com o BTG e o Nubank fazem parte desse modelo para localizarmos nossas atividades e ter liquidez, além de respeitarmos o conjunto de regras que estão surgindo na região".

Segundo Disparte, a Circle está focada em apresentar casos de uso de reserva de valor com a USDC, além de reduzir os custos de realização de comércio exterior. Agora, a empresa pretende intensificar a parceria com o BTG para "equipar os negócios locais brasileiros com um acesso direto à USDC".

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"A USDC é um pilar central da Circle, mas também temos outras tecnologias que oferecemos para o mercado, como nosso protocolo crosschain [comunicação entre blockchain]. A ideia é permitir que as empresas construam seus modelos de negócio a partir disso, dessas finanças abertas, e temos visto um interesse crescente de desenvolvedores no Brasil. Queremos facilitar esse uso", diz.

Para o executivo, o ambiente regulatório do Brasil tem ajudado a "definir o futuro" da inovação financeira, promovendo fintechs, empreendedorismo e "casos de uso único", como na área de micropagamentos.

Stablecoins e CBDCs

Apesar de representar uma das empresas mais importantes no mundo das stablecoins, Disparte acredita que essas criptomoedas e as chamadas CBDCs (moedas digitais de bancos centrais) - caso do Drex no Brasil - podem "coexistir muito bem". Ele lembra que "inicialmente, as pessoas não gostavam de bitcoin e queriam blockchain. Depois deixaram de gostar de blockchain e queriam DLTs. Agora dizem que preferem CBDCs a stablecoins".

Entretanto, todas essas áreas "preteridas" segue existindo e crescendo. A tendência, aposta, é em uma convergência entre as stablecoins e as CBDCs, com modelos de negócios que abarquem os dois tipos de moedas.

Para isso, ele destaca que será preciso ter ferramentas de comunicação entre múltiplos blockchains, o que favoreceria soluções como a da Circle: "Não queremos escolher vencedores e perdedores, queremos ser um denominador comum no ambiente blockchain. Queremos ter a mesma escala da Visa".

A tendência, afirma, é que o mercado passa a ter uma "infraestrutura digital financeira constantemente atualizável", o que abre margem para possibilidades que "as finanças tradicionais e os sistemas fechados não tornariam possíveis".

Eleições nos EUA e regulação

As eleições nos Estados Unidos se tornaram um dos eventos mais importantes para o mercado de criptomoedas. Apenas neste ano, tanto Donald Trump quanto Kamala Harris compartilharam declarações favoráveis ao setor, criando um contraste com duras ações promovidas pela SEC contra empresa de cripto.

Disparte acredita que esse cenário foi consequência de uma mentalidade "que existiu durante muito tempo na indústria de cripto de que seria possível ignorar Washington D.C. Até que o Congresso passou uma lei de infraestrutura que seria financiada, em parte, com a taxação de cripto. E muitos ficaram surpresos".

Entretanto, o executivo acredita que é um erro associar uma postura pró-cripto apenas ao Partido Republicano ou ao Democrata. "Nós vemos uma oportunidade roxa [misturando as cores dos dois partidos] em temas como IA, computação em nuvem, ciberesiliência e cripto. Os EUA precisam promover a competitividade na área de tecnologia, ao invés de deixar o tema alinhado a um partido ou outro", diz.

"Independentemente de quem ganhar, existe um ímpeto bipartidário no Senado e na Câmara. A regulação de stablecoins vai avançar independente do vencedor", projeta.

Ele defende ainda que "se o país não faz nada, pelo menos evita causar algum dano. É diferente do modelo europeu, em eles dedicaram cincos anos tentando criar 'regras perfeitas'. Os Estados Unidos  tiveram uma regulação imperfeita, mas que abriu muito a competição".

"A regulação é a barreira que falta para a adoção em massa de cripto. Na última década, o setor não estava pronto para ter essa adoção, a experiência de usuário era ruim, as transações lentas, estávamos longe pensando na tecnologia. E teve muita atividade ruim também, o risco reputacional era muito alto para que cripto pudesse ser considerado como algo do dia a dia", afirma.

Mas, agora, é a "regulação que precisa correr atrás". Disparte vê um alinhamento desses aspectos, com uma tecnologia que já funciona em escala e mostrou sua capacidade de se adequar à regulação. E a Circle "quer ser a primeira da fila em qualquer conformidade regulatória, porque é o que nos vai permitir chegar ao primeiro bilhão de usuários".

No caso do Brasil, ele defende que o país precisa "definir seu papel e pensar em como vai localizar as inovações. É preciso pensar em uma harmonização regulatória, garantindo que bons produtos possam ter um lugar no Brasil e parceiros brasileiros".

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