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Desconfiança da população pode prejudicar moedas digitais de bancos centrais

Pesquisa divulgada com exclusividade pela EXAME mostra potencial e desafios na adoção do Drex e outras CBDCs ao redor do mundo

CBDCs estão se tornando prioridade de países ao redor do mundo (Reprodução/Reprodução)

CBDCs estão se tornando prioridade de países ao redor do mundo (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 19 de setembro de 2023 às 11h50.

Última atualização em 19 de setembro de 2023 às 15h12.

As moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) possuem um grande potencial de adoção ao redor do mundo, mas ainda precisarão enfrentar algumas barreiras, em especial a falta de confiança da população. É o que aponta um estudo compartilhado com a EXAME com exclusividade e realizado pela consultoria inglesa RBR a pedido da TecBan.

Responsável pelo estudo, Alex Maple, da RBR, destacou em entrevista para a EXAME que o avanço das CBDCs ocorre porque "a utilização de pagamentos eletrônicos tem crescido em todo o mundo, mas eles estão sendo fornecidos por terceiros globais não estatais, como redes de cartões, carteiras digitais e criptomoedas".

Esse movimento "corrói" o poder e influência dos bancos centrais sobre os sistemas financeiros de cada país. Nesse cenário, as CBDCs surgem como uma "nova alternativa digital nacional que permite que os bancos centrais, governos e reguladores de um determinado país reafirmem a sua capacidade de controlar e regular os meios de pagamento".

"Além disso, as CBDCs serão baseadas na tecnologia mais recente [blockchain] e também podem ser integradas com outros aspectos dos sistemas de pagamentos, administrativos e jurídicos de um determinado país. Isto não só abre novas formas de efetuar pagamentos entre as partes, mas também significa que um país estaria mais apto a prescrever a forma como as transações podem ser feitas entre as partes", destaca.

Na visão de Maple, "ainda estamos nas fases iniciais da criação de CBDCs na grande maioria dos países, por isso é difícil dizer hoje exatamente como isso irá afetar os pagamentos, o sistema financeiro, a inclusão financeira ou a economia de forma mais ampla". No Brasil, a previsão é que o Drex, a CBDC brasileira, seja lançado até o início de 2025.

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Desafios e implementação

Maple afirma que a pesquisa apontou alguns desafios que os bancos centrais já enfrentam ou vão enfrentar no processo de implementação e desenvolvimento de CBDCs e que ainda "precisam ser superadas antes que as CBDCs possam ser totalmente adotadas". Entre eles, estão desafios técnicos que envolvem uma adaptação da infraestrutura existente a uma nova tecnologia.

"Dado que as CBDCs teriam de ser 'preparadas para o futuro' para incorporar novas tendências no desenvolvimento tecnológico, pode levar muito tempo até que funcionalidades sejam adicionadas e testadas de forma abrangente", comenta Maple.

Por outro lado, a percepção do público sobre o tema também tende a ser um desafio. A pesquisa apontou que ainda há uma forte desconfiança da população em relação às CBDCs, em especial em torno do grau de segurança dos seus dados ao usar essa nova alternativa para operações no dia a dia. Por isso, Maple acredita que será necessário que "as preocupações com a privacidade sejam abordadas".

Um outro tema que precisará ser discutido é a real necessidade dessas CBDCs em alguns países: "As pessoas também querem ter certeza de que há necessidade disso – muitas pessoas em países com mercados de pagamentos eletrônicos maduros perguntam legitimamente qual seria o benefício de usar um novo sistema". No caso do Brasil, por exemplo, o Drex não terá um foco no varejo exatamente pelo fato do Pix já resolver os problemas na área.

Na visão de Maple, porém, é "muito improvável que o papel-moeda tal como o entendemos hoje seja eliminado. Por exemplo, como vimos nos desastres naturais, que podem afecar a tecnologia, sempre haverá lugar para a utilização de um instrumento baseado em papel para a troca de bens e serviços".

"Podemos imaginar um futuro em que o dinheiro físico contenha algum tipo de elemento digital, como um chip muito pequeno ou um recurso que emita ou contenha informações digitais. A coexistência entre dinheiro físico e digital é o futuro do dinheiro", aposta.

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