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Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 10h56.
Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 19h29.
Quem costuma ler sobre o universo das criptomoedas já deve ter ouvido o nome de Peter Schiff antes, mas vale uma apresentação: estrategista-chefe da Alliance Global Partners, ficou conhecido por ter previsto a crise do subprime de 2009, mas também por sua aversão ao bitcoin e outras moedas digitais, e por sua paixão pelo ouro físico.
Recentemente ele apareceu na mídia após perder a custódia de seus bitcoins e publicou, no Twitter:
“Eu acabei de perder todos os bitcoins que possuía. Minha carteira foi corrompida de alguma forma e minha senha não é mais válida. Então não apenas eu perdi meus bitcoins intrinsecamente sem valor; eles também não têm valor de mercado. Eu sabia que possuir bitcoins era uma má ideia, eu só não sabia que era tão ruim assim.”
Depois do acontecido, ele entendeu o que houve realmente: o aplicativo de sua wallet foi atualizado e na hora de acessá-lo ele confundiu o pin com a senha e não tinha em mãos a cópia da seed, ou frase inicial (outro método para resgatar o acesso a uma wallet).
Essa não é a primeira vez que alguém perde a senha de uma wallet e nem será a última. Além disso, ler uma mensagem dessas de uma pessoa reconhecidamente cética com relação ao potencial do bitcoin e outras criptomoedas também não surpreende.
Mas por que falar desse caso aqui no Future of Money? Bom, esse é um dos casos que ficaram mais conhecidos por envolver um grande nome do setor financeiro, e é importante para retratar como o assunto “custódia de criptomoedas” ainda gera confusão, mesmo entre pessoas envolvidas com o mercado financeiro.
O incidente levantou uma discussão na comunidade cripto que faz sentido: como a falta de facilidade e praticidade das soluções desse ecossistema pode resultar em chaves perdidas e consequentemente, fundos perdidos.
É claro que a segurança digital é um ponto extremamente importante desse ecossistema e esses métodos de segurança não são utilizados por mera burocracia, mas o caso de Schiff mostra um ponto importante: para a maioria dos investidores – pelo menos os iniciantes – talvez seja mais seguro manter as criptomoedas e outros ativos digitais em uma exchange do que usar soluções de custódia, pelo menos até aprender como operar essas ferramentas corretamente.
Para Vitalik Buterin, cofundador do Ethereum, também é papel dos desenvolvedores das criptomoedas e outros tokens criar uma tecnologia melhor que consiga unir a facilidade de acesso e a segurança digital em uma wallet.
E problemas com custódia de criptomoedas não se restringem apenas aos investidores iniciantes. Exchanges com líderes experientes podem enfrentar grandes dificuldades do dia para a noite, como é o caso da Quadriga CX.
Já imaginou a seguinte situação: você negocia bitcoins com uma exchange canadense confiável, que está regularizada para esse tipo de atuação no país e, de repente, seu saldo no aplicativo aparece como $ 0,00?
Foi o que aconteceu com todos os clientes da exchange Quadriga CX após a morte do CEO da empresa, Gerald Cotten, no fim de 2018. A empresa ficou impedida de continuar operando por 30 dias até que as coisas fossem normalizadas.
O valor total em bitcoins, litecoins, ethers e outros tokens digitais mantidos por seus clientes era de aproximadamente US$ 190 milhões. E como os dispositivos para negociar esses criptoativos eram usados por Cotten e criptografados, a empresa não pôde recuperar os valores.
Detalhe: ele usou uma wallet conhecida como cold storage, ou seja, desconectada da internet. Com isso, são necessárias senhas ou registros específicos em papel, por exemplo, ou informações de alguma pessoa que conheça as senhas de segurança para acesso. Caso contrário, todos os criptoativos estão praticamente perdidos para sempre, afinal, tratam-se de senhas criptografadas praticamente impossíveis de serem hackeadas.
Toda vez que você negocia a compra de um bitcoin ou uma outra criptomoeda, você possui algumas opções de armazenamento:
As soluções de custódia de criptomoeda são sistemas independentes de armazenamento e segurança usados para armazenar grandes quantidades de tokens. Elas representam uma das grandes e mais recentes inovações do ecossistema de criptomoedas.
Com elas, muitos especialistas da criptoeconomia esperam que o capital institucional comece a fluir mais por esse setor, ainda em 2020.
A principal utilidade dessas soluções de custódia de criptomoedas está na proteção desses ativos contra roubos e contra a possibilidade de esquecimento das senhas de acesso.
As chaves privadas que são usadas para realizar transações em wallets ao acessar os seus criptoativos costumam ser uma combinação complexa de senhas alfanuméricas.
Como são extremamente difíceis de lembrar, não é difícil imaginar que alguns usuários se esqueçam totalmente delas, não as anotem em nenhum lugar e acabem perdendo a custódia de suas criptomoedas por causa disso.
Uma outra solução é o armazenamento de chaves privadas offline, em papel (paper wallet) ou em um disco rígido (ou outro equipamento eletrônico) que não esteja conectado à internet. Mas perder a custódia física (ou o equipamento em papel ou eletrônico) é uma possibilidade real e, nesses casos, a recuperação das reservas das moedas digitais pode ser impossível.
As exchanges também não representam uma solução 100% segura para armazenar seus bitcoins e outras criptomoedas. Isso porque o risco que as exchanges correm de serem invadidas é enorme – e com isso seus ativos também correm risco.
Para investidores individuais de moedas digitais, perder chaves privadas já é um risco enorme, afinal estamos falando de valores consideráveis investidos. Mas para investidores institucionais, o risco é ainda mais significativo e precisa ser evitado a todo custo.
Nesse sentido, serviços de custódia profissional representam uma boa opção para evitar perdas. Além disso, um outro fator importante para considerar a existência de serviços é que a maioria deles é regulamentada.
Nos Estados Unidos, por exemplo, investidores institucionais que possuem ativos de clientes valendo mais US$ 150 mil precisam ter a custódia desses ativos com uma empresa qualificada para tal atividade.
Essas empresas ainda estão surgindo aos poucos. Poucos são os bancos que possuem atividades com criptoativos, mesmo no exterior. No entanto, o ponto positivo é que o ecossistema está sendo criado e novas soluções de custódia profissional de criptomoedas surgem a cada dia.
Hard wallets representam sim uma boa opção de proteção de suas criptomoedas, mesmo com casos como o anterior mostrando um resultado negativo. O que faltou na empresa canadense foi uma política de compliance mais organizada e automatizada para evitar os transtornos enormes causados pela perda dos dados.
As hard wallets são conhecidas na criptoeconomia como um tipo especial de carteira de bitcoin ou de outras moedas digitais que armazenam as chaves privadas do usuário em um dispositivo de hardware físico seguro.
Elas têm grandes vantagens em relação às carteiras de software padrão: as chaves privadas geralmente são armazenadas na área protegida de um microcontrolador e não podem ser transferidas para fora do dispositivo em um arquivo de texto simples.
Logicamente, como qualquer solução de segurança digital – em especial quando falamos de segurança para criptoativos – ela também possui falhas que podem colocar em risco suas moedas digitais.
No entanto, elas representam uma das soluções mais seguras e práticas entre todas as opções. O ideal para esse tipo de dispositivo é que ele possua uma tela para exibir e verificar detalhes importantes da carteira.
E, como ela, a carteira de hardware possui características de segurança muito avançadas e dificulta bastante que um hacker consiga invadir a conta. Dessa forma, a tela desse dispositivo é mais confiável do que os dados exibidos em seu notebook ou computador conectado à web.
Não se esqueça de conectar a hard wallet com segurança à web para atualizar os dados sempre que fizer novas transações de criptomoedas ou tokens. Dessa forma, suas informações e seus ativos digitais estarão sempre em dia com suas negociações.