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Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 11h05.
Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 11h07.
O mercado de criptomoedas em 2019 mudou bastante se comparado aos últimos anos e isso é ótimo. O bitcoin se consolidou como uma opção de investimento, mesmo ainda distante da máxima histórica atingida em 2017, quando chegou a valer aproximadamente US$ 19 mil por um curtíssimo período de tempo.
Depois disso, o bitcoin foi diminuindo seu preço e caiu para US$ 3.600 no início de 2019. Ele chegou a atingir a marca de US$ 13 mil em 2019, mas atualmente está sendo negociado por volta dos US$ 9 mil.
Em 2019, o mercado cripto também viu novos projetos de moedas digitais sendo lançados. Chegamos no fim de dezembro com mais de 4.950 projetos de criptomoedas lançados, de acordo com o CoinMarketCap.
Isso mostra a evolução da indústria, ao mesmo tempo que apresenta 2019 como um ano de transição, no qual diversas novas moedas digitais foram lançadas e novos conceitos, apresentados.
As CBDCs (central bank digital currencies) ganharam espaço nas notícias de portais da área e espaço no universo cripto, mostrando que a evolução desse mercado não ficou restrita apenas a novos projetos de criptomoedas com códigos parecidos com os do bitcoin.
O fato é que as tecnologias de blockchain ainda têm muitas possibilidades a serem exploradas, o que significa que o mercado cripto ainda vai apresentar algumas boas novidades nos próximos anos.
No artigo de hoje, apresentamos uma retrospectiva com os principais acontecimentos do ano no universo cripto e dessas novas tecnologias descentralizadas que prometem transformar a economia global em uma economia digital, dinâmica e hiperconectada.
O mercado de criptomoedas em 2019 já passou das 4.950 moedas digitais, como mencionamos acima. No entanto, menos de um terço desses projetos negociam volumes maiores do que US$ 100 mil por dia, e um número pequeno deles vai sobreviver aos próximos anos do mercado.
Com base nesse fato, podemos entender que pelo menos ⅔ desses projetos aparentemente fracassaram ou tiveram uma adoção muito baixa em comparação à moedas digitais mais robustas como o bitcoin e o ether.
O número de novos projetos continua crescendo, assim como o interesse do público leigo. Com isso, mais investidores estão selecionando criptoativos como uma opção de investimento, o que vem aumentando os valores negociados no mercado de criptomoedas.
Este ano, vimos uma movimentação intensa no que se refere à adoção das criptomoedas no mercado financeiro. Diversos usuários começaram a utilizar moedas digitais em alguns formatos diferentes: de investidores institucionais a usuários finais que movimentaram valores no dia a dia de economias instáveis como a Venezuelana.
Parece improvável, mas países com alta instabilidade econômica e política, taxas de juros e inflação altas (como Nigéria, Venezuela e Gana) viram nas criptomoedas uma saída para comprar e vender produtos e serviços na rotina diária.
No caso da Venezuela, por exemplo, o bitcoin e outra criptomoeda chamada dash vêm sendo usados mesmo com a alta volatilidade das moedas digitais por conta das políticas econômicas do governo de Nicolas Maduro. A impressão constante de mais dinheiro e o controle de preços fizeram com que cartões de crédito e a moeda nacional se tornassem quase inúteis no dia a dia, criando uma economia digital indireta.
Para se ter ideia do caos inflacionário que vive o país, a Bloomberg apresentou um gráfico da inflação que bateu 7.400% em 2019. com um cafézinho custando 30 mil bolivares venezuelanos (em dezembro de 2018 custava 400 bolivares).
A adoção no país ainda é específica se comparada a países com economias mais estáveis e que possuem internet com velocidades maiores. As pessoas ainda não têm acesso a esse tipo de informação e têm medo de usar uma moeda que não é tangível.
Do outro lado dessa adoção, temos os investidores institucionais que enxergaram no bitcoin e em outras criptomoedas boas oportunidades de investimento em 2019. De acordo com a Grayscale, uma empresa de gestão de criptoativos, apenas no segundo trimestre de 2019 o mercado recebeu US$ 85 milhões de investidores institucionais – o dobro do 1º trimestre.
As exchanges estão mudando seu foco de traders de varejo para traders institucionais, oferecendo a esses clientes uma capacidade otimizada de personalização do front-end de suas plataformas de negociação e fornecendo APIs que melhor se adequem ao que os traders institucionais estão acostumados.
O crescimento de 2019 tem uma forte ligação com a adoção por parte desses investidores institucionais que estão diversificando portfólios mais tradicionais em busca de opções mais conectadas com ativos digitais – como as criptomoedas – e, agora, possuem boas opções de plataformas para isso.
Essa é uma mudança fundamental no perfil do cliente em relação a 2017 e 2018, que foram anos dominados por projetos de criptografia que buscavam liquidez, o que explica o boom de ICOs daqueles anos.
O bitcoin continua sendo a grande criptomoeda do universo cripto, segundo o Goldman Sachs. Os preços da criptomoeda mais que dobraram em 2019, mesmo com as recentes crises e fraudes no Brasil e no mundo, superando consideravelmente o retorno de 31% das ações de tecnologia dos EUA.
Ele manteve seu domínio como principal moeda digital também em relação ao valor de mercado. São US$ 129 bilhões dos quase US$ 190 bi, se considerarmos todas as opções do mercado de criptomoedas, segundo o CoinMarketCap.
O supply de bitcoins teve um marco histórico em 2019: ultrapassou os 18 milhões de unidades mineradas. Agora, faltam somente 3 milhões do limite de 21 milhões que podem ser minerados no blockchain do bitcoin.
Apesar disso, cerca de 11 milhões de bitcoins não foram movimentados entre wallets e exchanges em 2019, segundo a BitInfoCharts. Para os envolvidos com o mercado cripto, isso é um forte sinal de que os investidores institucionais estão enxergando o bitcoin como uma boa opção de investimento para o longo prazo.
Para muitos, o bitcoin é o carro chefe na divulgação das tecnologias descentralizadas para uso no mercado financeiro e outras indústrias, mesmo com a popularização de protocolos comprovadamente mais rápidos em termos de transações financeiras, como o Ether (cerca de 17 segundos atualmente) e o XRP (aproximadamente 5 a 7 segundos).
O mais curioso é que mesmo com toda essa popularidade, o bitcoin não é a moeda digital mais transacionada no mundo atualmente. O Tether possui esse título atualmente, tendo ultrapassado o bitcoin nesse quesito em abril, com um volume diário de quase US$ 21 bilhões. O Tether é a stablecoin – categoria de security token que busca menos volatilidade – mais utilizada no mundo.
No Brasil, o bitcoin teve bons e maus momentos em 2019. Este ano, as exchanges e instituições financeiras chegaram a negociar R$ 10 bilhões em bitcoins. O Brasil também bateu o recorde de volume negociado da moeda na América Latina, com mais de 100 mil bitcoins negociados em 24 horas, segundo o Cointrademonitor.
No entanto, a comunidade de criptomoedas também viu uma série de suspeitas e acusações de fraudes e esquemas de pirâmide sendo criados e problemas com empresas que negociam bitcoin, como o caso da Atlas Quantum e da Unick Forex. Naturalmente, esquemas do tipo não são exclusividade dos brasileiros, como vimos recentemente com o PlusToken, fraude envolvendo bitcoins na China.
Este ano também viu a primeira movimentação do governo federal para organizar uma regulamentação em torno do bitcoin no Brasil. Trata-se da instrução normativa 1.888 da Receita Federal, anunciada em maio. Ela determina que qualquer corretora trabalhando com a negociação de criptomoedas – seja bitcoin ou qualquer outra opção – terá a obrigação de informar ao Fisco os dados de todas as transações de seus clientes.
Essa regulamentação mostra uma profissionalização do mercado de criptomoedas e de ativos digitais no Brasil. Nos últimos 5 anos, tanto os valores negociados quanto o número de exchanges aumentou consideravelmente no país, fortalecendo um ambiente de negócios nesse setor.
As outras moedas digitais, por outro lado, tiveram um dos piores anos de sua história. O preço delas até teve um desempenho positivo se comparado ao dólar americano, mas não chegaram nem perto do valor do bitcoin.
Mesmo o Ether e o XRP, dois dos projetos mais valorizados entre as moedas digitais alternativas, não obtiveram bons resultados em 2019. Elas não passaram dos US$ 20 bilhões de valor de mercado individualmente.
É claro que algumas criptomoedas cresceram este ano. O litecoin, por exemplo, teve uma valorização de 270% este ano. Ela é uma das mais antigas moedas digitais e pode ter uma oferta de até 84 milhões de litecoins, com transação acontecendo até 4 vezes mais rápido que a do bitcoin.
E essa valorização tem uma boa explicação: os responsáveis pelo desenvolvimento do projeto trabalharam em melhorias tecnológicas no protocolo, bem como em ações de marketing para melhorar a imagem do litecoin no mercado cripto.
Outro bom exemplo de valorização em 2019 foi a Binance coin. Trata-se de um token da Binance que permite o pagamento de taxas da exchange chinesa com alguns descontos, teve uma valorização de 463%.
Por último, vale falar sobre a chainlink, uma das moedas digitais que mais valorizaram em 2019. Foram aproximadamente 560% de valorização, em parte por conta do anúncio de que o Google e algumas outras empresas estavam fazendo parcerias com a criptomoeda para conectar as tecnologias de armazenamento em Nuvem da empresa ao blockchain por meio de smart contracts.
O blockchain Ethereum completou, em 2019, cinco anos de seu lançamento ao público e hoje representa um dos ecossistemas mais diversos, globais e descentralizados do universo cripto. Não à toa vem crescendo sua importância para a comunidade ano após ano, trazendo novas ondas de inovação e de crescimento.
Para o Ethereum em particular, 2019 foi um ano de muito trabalho, desenvolvimento de melhorias e discussões em torno dos melhores caminhos a serem tomados. Isso porque o número de transações na plataforma cresceu muito desde seu início: somente este ano, foram processadas 130 milhões delas, segundo a Consensys.
O Ethereum também fechou o ano com 20 milhões de novas contas criadas e 4 milhões de novos endereços ativos na rede. Foram mais de 4 milhões de Ethers emitidos como recompensa de resolução de blocos, consolidando esse blockchain no universo cripto.
Muitas críticas também vêm sendo feitas ao Ethereum atualmente, principalmente em relação à sua complexidade e, consequentemente, dificuldade de escalabilidade. A dificuldade na mineração é um dos exemplos criticados dessa complexidade.
A implementação da primeira fase do Casper Ethereum que, pretende converter o Ethereum em um blockchain Proof Stake (PoS) estava prevista para janeiro de 2020. No entanto, os desenvolvedores do projeto colocaram a implementação para algum momento de 2020.
Essa implementação já estava nos planos dos desenvolvedores do projeto desde o início do Ethereum. Isso significa que não haverá mais mineração de Ether após a conclusão da transição.
Esse foi outro grande acontecimento envolvendo o universo cripto em 2019. Finanças abertas – ou finanças descentralizadas representam a mudança de paradigma do sistema financeiro tradicional – e fechado – de hoje para uma economia financeira aberta – a economia digital -, que funciona com base em protocolos abertos, digitais, interoperáveis e programáveis.
As finanças descentralizadas não tem o objetivo de criar um novo sistema financeiro do zero. O objetivo é democratizar o sistema existente e torná-lo mais justo, usando protocolos abertos e dados transparentes.
Além da maior adoção do bitcoin por parte de investidores institucionais, o que já é um aspecto do crescimento das finanças descentralizadas, vimos outros fenômenos importantes além da DeFi:
Mesmo com todas as baixas sofridas no projeto da Libra, moeda digital criada pelo Facebook e diversas outras empresas, o projeto tem previsão de lançamento em 2020 e pode modificar consideravelmente o mercado de criptomoedas, já que ela será um criptoativo lastreado numa cesta de moedas já existentes.
A Libra foi anunciada oficialmente em junho de 2019 e seus primeiros passos rapidamente causaram apreensão entre os órgãos reguladores. Os governos e Bancos Centrais acusaram Mark Zuckerberg de tentar criar seu próprio dinheiro para competir com o sistema financeiro tradicional.
A Libra apesar de ainda ter o apoio maciço do Facebook e de algumas outras grandes empresas de tecnologia, a Libra Association, organização criada para cuidar da gestão da criptomoeda, pretende ter aprovação de basicamente todos os principais órgãos reguladores para iniciar a implementação real da moeda digital.
Neste cenário de incerteza sobre a evolução do projeto, o PayPal, o eBay, a Mastercard, Stripe, Visa e até o Mercado abandonaram o financiamento e desenvolvimento do projeto, aparentemente diminuindo as chances de um lançamento da moeda digital em 2020.
Fato é que ainda restam muitas dúvidas sobre a qualidade das tecnologias descentralizadas envolvidas no projeto e de como ele será implementado. Além disso, resta saber se as pessoas vão de fato adotar a Libra como uma moeda digital no dia a dia.
Do outro lado do mundo, a China pretende ser o primeiro país a lançar uma moeda digital baseada em blockchain. O Banco Popular da China vem estudando os sistemas de pagamento digital e tecnologias de blockchain há mais de cinco anos e deve lançar a uma criptomoeda vinculada ao PIB nacional, ouro, crédito soberano e receita fiscal.
Diversos outros governos de países como Suíça, Coréia do Sul, França, Lituânia vieram com propostas para a regulamentação e lançamento de suas próprias moedas digitais, que teriam nos Bancos Centrais a base para emissão.
Esse é o caso das CBDCs (central bank digital currencies). O Digital Yuan, moeda que o governo chinês quer lançar, é uma dessas moedas digitais que têm como base o Banco Central da China.
O Yuan digital, segundo Mu Changchun, Head de pagamentos do Banco Popular da China, está sendo utilizado para gastos diários, não para especulação como o bitcoin, por exemplo. Além disso, ele também não necessita do lastro de outros ativos como uma stablecoin.
No entanto, vale ressaltar uma diferença importante: nem todas as moedas digitais são criptomoedas. Uma moeda digital é apenas uma moeda emitida por uma entidade em um formato digital. Ela precisa se utilizar de determinadas tecnologias descentralizadas e criptografia para ser uma criptomoeda.
Apesar dos projetos anunciados fugirem do princípio descentralizado idealizado por Satoshi Nakamoto para as criptomoedas, isso mostra que tanto os governos quanto as instituições financeiras ao redor do mundo, estão antenadas com essa inovação tecnológica.
O ano de 2019 já mostrou um crescimento na atenção que os órgãos reguladores e governos do mundo todo prestaram ao mercado de criptoativos, à medida em que as tecnologias descentralizadas têm evoluído e o mercado se consolidando.
No entanto, algumas coisas ainda seguraram a evolução do universo cripto e do mercado financeiro de criptomoedas. O fato da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA – a SEC – não ter aprovado em 2019 a ETF de bitcoin. ETF é a sigla para Exchange Traded Funds ou fundos de índices comercializados como ações.
Como o órgão regulador do mercado de ações se preocupa com a manipulação do mercado de bitcoin, parece improvável que a SEC aceite que o bitcoin se torne uma opção de especulação dentro do mercado de forma tão fácil.
No entanto, mesmo sem um ETF, o bitcoin recuperou quase 80% do seu valor este ano e como mostramos acima, se tornou uma opção interessante para investidores institucionais.
O fato é que 2019 ainda representou um ano de opiniões divididas dos governos de diversos países quanto às criptomoedas. Alguns países seguem banindo totalmente o uso e negociação de moedas digitais e criptoativos. Outros impuseram algumas Leis específicas para o uso e comercialização desses ativos digitais.
Outros governos e órgãos reguladores, em contrapartida, tiveram uma abordagem mais aberta com relação à utilização das criptomoedas. Nestes casos, eles seguem analisando formas de regular a utilização de tecnologias descentralizadas e criptomoedas no dia a dia, a fim de criar um mercado estruturado para esses novos ativos.e evitar problemas como sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.
2020 tem tudo para ser um grande ano de muito desenvolvimento para o mercado de criptomoedas no Brasil e no mundo. Algumas delas vão provar seu propósito e continuar evoluindo e outras vão deixar de ser utilizadas ou especuladas no mercado de ativos digitais. Mas a revolução continuará a acontecer.