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Cripto terá desafios em 2023 e espaço para crescer no Brasil, dizem analistas

Cenário macroeconômico internacional seguirá desfavorável, com juros ainda elevados e risco de recessão, mas setor terá mais resiliência

Especialistas esperam que setor de criptomoedas tenha mais resiliência em 2023, mesmo com cenário macro negativo (Jirapong Manustrong/Getty Images)

Especialistas esperam que setor de criptomoedas tenha mais resiliência em 2023, mesmo com cenário macro negativo (Jirapong Manustrong/Getty Images)

O cenário econômico de 2022 trouxe uma série de problemas para diversos segmentos do mercado financeiro, e as criptomoedas não ficaram de fora. Com o chamado “inverno cripto” e problemas como falência de grandes empresas, os principais ativos do setor registraram fortes desvalorizações.

É o caso do bitcoin, que caiu mais de 60% em relação a 2021. E se o ano chegou ao fim foi difícil, a expectativa de especialistas compartilhadas com a EXAME é que o quadro se mantenha desafiador em 2023, em especial devido à continuidade de um ambiente macroeconômico internacional desfavorável.

Ao mesmo tempo, os efeitos desse ambiente externo ruim podem ser menores no Brasil. O país seguiu expandindo a adesão às criptomoedas neste ano, incluindo com recordes segundo os dados da Receita Federal. E soma-se a isso a aprovação de uma regulamentação para o setor, colocando o país na dianteira entre grandes economias.

Com isso, a projeção é que o mercado cripto brasileiro mantenha esse ambiente de expansão, mesmo que os preços dos ativos sigam na trajetória de lateralidade, ou até de queda, que dominou o mercado ao longo de 2022.

Desafios globais

Marcos Boschetti, CEO e fundador da Nelogica, resume o ano de 2022 para as criptomoedas como “no mínimo muito memorável. Foi uma quantidade impressionante de eventos, e quando olha tudo, foi um dos mais importantes para a indústria, porque as crises evidenciam fraquezas e dão direcionamento para onde os participantes devem atuar do ponto de vista de tecnologia, educação, regulação”.

No cenário macroeconômico, ele espera que as taxas de juros de grandes economias, como os Estados Unidos e a zona do euro, sigam elevadas como parte do esforço de combater a inflação. Para ele, 2022 provou que os criptoativos ainda são duramente impactados pelos juros altos, um quadro que deve se manter.

(Mynt/Divulgação)

Ao mesmo tempo, ele espera que 2023 seja “um ano melhor no sentido de ter um entendimento mais profundo e uma indústria mais forte com as lições aprendidas. Mas com preços ainda pressionados por um contexto macro global. Não deve ter surpresas muito positivas, mas provavelmente vai ser melhor que 2022 devido às lições, a indústria saiu mais forte”.

Essas lições estão ligadas, principalmente, à falência de grandes projetos do setor de criptomoedas, como a corretora FTX, o blockchain Terra e empresas como a Three Arrows Capital e a Celsius, todas com forte impacto negativo no mercado.

“2021 foi um talvez de excessos, até de capital para projetos, de otimismo, de casos de uso. E agora foi o inverso, então agora sai com as feridas cicatrizando, entendo muito melhor o potencial da tecnologia”, opina o CEO.

Ele avalia que a maior parte dos desdobramentos da FTX já foram sentidos pelo setor de criptomoedas, e que se ainda faltar “algo grave” para ocorrer, o mercado vai presenciar isso em, no máximo, um semestre. Ao mesmo tempo, ele acredita que um início de trajetória de alta para o segmento, saindo do inverno cripto, depende “não necessariamente de mudar as taxas de juros em si, mas a expectativa sobre elas”.

“Se a expectativa muda, já muda o cenário. Outro ponto é a penetração da tecnologia na vida das pessoas, o número de pessoas tendo algum contato, entendendo que existem aplicações reais. É importante que o número de pessoas em contato continue subindo, quanto mais mainstream, maior a chance de ter viradas de preços, apreciação”, considera Boschetti.

Já Ayron Ferreira, head de análise da Titanium Asset, acredita que macro em 2023 terá “menos inflações e juros maiores, efeito do processo de ajuste monetário que começou em 2022. A expectativa será se esse recuo da inflação será suficiente para que chegue na meta estipulada pelo Fed”, o banco central dos EUA.

Em relação aos impactos disso para as criptomoedas, ele lembra que o setor faz parte da classe de ativos voláteis, e que portanto são mais afetados em momentos como o atual, de baixa liquidez e aversão a riscos.

“O início mais claro de um novo ciclo de alta para cripto deve vir quando os sinais de um pivô do Fed iniciar, ou seja, o Fed mudar o rumo e passar a falar em corte dos juros. Isso pode demorar, já que alguns setores da economia norte-americana ainda estão bem resilientes”, avalia Ferreira.

Assim como o CEO da Nelogica, ele acredita que o mercado de criptomoedas entra em 2023 “muito mais forte e resiliente” após suas crises internas: “É um mercado brilhante, que como todos os outros, enfrentou a mudança do cenário macro em 2022, que saiu de um ambiente de juros estimulativos para restritivos. É um mercado trilionário já, que veio para ficar”.

Apesar de destacar que o ambiente macro será o grande responsável por puxar, ou não, um fim do inverno cripto em 2023, Ferreira cita outros potenciais impulsionadores de alta caso ocorram ou comecem no ano, como “o avanço da transparência na indústria cripto, desalavancagem do setor e proximidade do halving”, fenômeno de redução da oferta do bitcoin.

Particularidades do Brasil

Apesar dos desafios internacionais, que devem se manter, há chances do mercado brasileiro de criptomoedas manter um “contrafluxo” e continuar crescendo, na visão do diretor-executivo da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) Rodrigo Monteiro.

“Nos últimos quatro meses, há aumento constante do ingresso de investidores, tanto pessoa física quanto jurídica. O mercado continua no crescendo a taxas de três dígitos, com entradas de novos participantes e investidores. E acabou de aprovar o Marco Regulatório para o setor, que trouxe bastante segurança e mídia, que ajuda a encorajar novos entrantes”, explica Monteiro.

Por isso, ele mantém uma “perspectiva positiva” para o segmento em 2023: “Como mercado brasileiro ainda está ganhando tração e está pequeno, o efeito da FTX não chegou aqui, pelo contrário, teve incremento maior de investidores, que relacionamos à aprovação do Marco Regulatório”.

Ele espera que o setor de criptomoedas ganhe com uma sensação de ambiente mais “seguro e construtivo” no Brasil devido à regulamentação nova, com expectativa de que ele ganhe “tração ainda maior, com fundos montando posições em cripto, tesouraria de empresas. Há um espaço de expansão agora aqui que já ocorreu no exterior”.

“Em ambiente recessivo, o crescimento orgânico do exterior tende a cair ou parar. Aqui, seria um crescimento exponencial, não atingimos todo o potencial do setor, então imaginamos que o crescimento pode cair um pouco, mas ainda será expressivo”, opina Monteiro.

Nesse caso, ele avalia que, se o inverno cripto considerar apenas os preços dos ativos, ele ainda vai continuar em 2023, com “pouca variação, andando de lado”. “Mas se olha para quantidade de novos entrantes, pessoas físicas, fundos, empresas, de participantes, e volume transacionado, já está saindo [do inverno] e vai sair de forma mais forte em 2023”.

Boschetti, da Nelogica, também espera ver uma continuidade da expansão das criptomoedas no Brasil e no mundo. Além disso, ele aposta na disseminação da tecnologia blockchain, com uma tendência de tokenização de ativos.

“O Brasil tem tudo para ser um líder nesse novo cenário global, pelo mercado interno, facilidade e benefício que a tecnologia pode trazer. Independente da velocidade de regulação, o Brasil vai ser um líder”, destaca.

Ayron Ferreira ressalta ainda que o Brasil tem um grande número de usuários e investidores de criptomoedas que aumenta ano a ano, o que deve continuar em 2023. “O ambiente regulatório está avançando, com a aprovação da lei que regula cripto. O Brasil tende a se tornar uma referência em adoção e segurança cripto nos próximos anos”, projeta.

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