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Criador de sistema anti-spam que deu origem ao bitcoin fala sobre cripto e critica Ethereum

Sistema que pretendia evitar o recebimento de e-mails de "spam" deu origem ao mecanismo-chave do bitcoin; descubra as opiniões de Adam Back sobre o futuro do dinheiro e da tecnologia

 (Reprodução/Reprodução)

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Gabriel Rubinsteinn
Gabriel Rubinsteinn

Editor do Future of Money

Publicado em 11 de julho de 2023 às 18h05.

Última atualização em 11 de julho de 2023 às 18h38.

No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando já era um dos mais proeminentes nomes do movimento cypherpunk, o Ph.D. em ciência da computação Adam Back estabeleceu uma missão: parar de receber tantos e-mails indesejados em sua caixa de entrada o famoso e, infelizmente, ainda bastante popular "spam". O que talvez ele não imaginasse é que a sua solução para esse problema mudaria o mundo.

A resposta foi o HashCash. Funcionava da seguinte forma: para enviar um e-mail a um usuário Hashcash, o remetente deveria encontrar um hash para ter a mensagem entregue. Como um hash é um número grande e aleatório, encontrá-lo exige muitos cálculos e, consequentemente, o gasto de tempo e poder computacional, gerando um pequeno custo, o que desencorajaria os "spammers".

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O sistema criado com o Hashcash mais tarde ficaria conhecido como "Prova de Trabalho" (ou Proof of Work, em inglês) e seria um componente fundamental do bitcoin não por acaso, Adam Back é apontado por muita gente como um dos pais da criptomoeda, senão como o próprio Satoshi Nakamoto, o anônimo criador do ativo digital mais famoso do mundo e que também era integrante do movimento cypherpunk.

Atualmente CEO da Blockstream, empresa que atua em diversos mercados relacionados ao bitcoin, como mineração e a manutenção de um nó da rede via satélite, Adam Back não apenas nega ser o homem por trás da criação da criptomoeda como diz não se importar com o personagem anônimo ficar com todo o crédito pela invenção que mudaria a forma como as pessoas se relacionam com dinheiro.

"Ele resolveu problemas técnicos que outras pessoas não conseguiram resolver. E acho que é bom para o bitcoin que tenha se mantido anônimo e tenha parado de se envolver, porque faz parecer que o bitcoin foi uma descoberta, não uma criação de alguém, de uma startup, ou algo que tem um fundador", disse, em entrevista exclusiva à EXAME durante o Plan B Summer School, curso sobre bitcoin e criptoativos em Lugano (SUI), do qual é um dos professores.

"E isso faz sentido para uma commodity, certo? Ninguém pensa que ouro ou petróleo foram inventados por uma pessoa. Eles foram descobertos. E também evita que as pessoas fiquem pedindo por mudanças [no protocolo]. Então, eu acho que é algo muito positivo", continuou o especialista.

Ethereum errou ao abandonar Prova de Trabalho

Para o cientista da computação, a decisão dos desenvolvedores da rede Ethereum de abandonar o mecanismo de consenso criado por ele, que aconteceu com a atualização The Merge, em 2022, quando o blockchain passou a atuar sobre o mecanismo de "Prova de Participação" (ou Proof of Stake), foi um grande erro.

"O protocolo ajuda a replicar problemas e riscos das moedas fiduciárias, inclusive questões políticos, deixando-os sujeito a mudanças por pressão ou decisão de pessoas ou grupos de pessoas", afirmou, citando inclusive o "peso" das palavras de Vitalik Buterin e decisões da Ethereum Foundation nos rumos da rede.

Ele também acredita que nem mesmo a queima de token ether promovida pelo novo mecanismo de consenso ajudará o ativo a se tornar deflacionário e, eventualmente, escasso como o bitcoin: "Fundamentalmente, escassez implica custo de produção. Pense em ouro físico: é um bom dinheiro porque é escasso. Sem escassez, se transforma em política: quanto dinheiro [emitido] um comitê deve aprovar?".

Ouro, bitcoin, ETFs e o futuro do dinheiro

Atualmente, a narrativa dominante para explicar o surgimento do bitcoin faz referência à crise econômica de 2008 nos EUA, quando um sistema financeiro alternativo se faria necessário, mas Adam Back explica que havia várias outras razões por trás do desenvolvimento da criptomoeda.

O primeiro deles era a privacidade, principal bandeira do movimento cypherpunk. Mas Adam Back, que foi a primeira pessoa no mundo a ler o white paper do bitcoin, enviado a ele por Satoshi Nakamoto por e-mail, explica outro motivo, que deixa claro que a tese sobre o bitcoin ser uma reserva de valor vem desde a sua criação.

"Muita gente que participava [do movimento] também era interessada por ouro. Nick Szabo estava muito interessado na história do dinheiro, publicou bastante sobre diferentes tipos de dinheiro. Havia algumas pessoas que já pensavam em muito mais do que privacidade de dados. A inflação sempre foi um tópico muito discutido", disse Adam Back.

Como é um ativo escasso, limitado às 21 milhões de unidades previstas em seu código, o bitcoin pode ser eficiente para proteção contra a inflação, assim como o ouro, mas com a vantagem de ser seguro, rastreável, transparente e, claro, facilmente transportável.

Adam Back acredita que o uso da criptomoeda como veículo de investimento pode ser positiva, mas faz ressalvas quanto a não utilização da cripto como meio de pagamento e aos ETFs, que são fundos negociados em bolsa, como o que foi solicitado junto à SEC pela BlackRock recentemente e que já estão disponíveis há algum tempo no Brasil.

"Existe o risco de que um tipo de sucesso para o bitcoin seja, de certa forma, também o seu fracasso. Se muito bitcoin acabasse em ETFs e a criptomoeda se tornasse apenas como o ouro. Só o sucesso financeiro, ou seja, o seu preço elevado porque há uma demanda por proteção contra inflação, e o caso de uso de meio de pagamentos negligenciado. Acho que seria uma perda. Eu realmente gostaria que houvesse os dois casos de uso", completou.

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