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‘Confirme que você não é um robô’: Worldcoin polemiza ao mexer nas feridas do ambiente digital

Projeto de criador do ChatGPT quer distinguir humanos de robôs por meio de leitura da íris; Entenda como funciona e que casos de uso podemos esperar da tecnologia

 (Reprodução/Reprodução)

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 29 de julho de 2023 às 11h00.

Por Felippe Percigo*

@felippepercigo

Será que os brasileiros vão fazer fila, a exemplo dos japoneses, para ter sua íris escaneada pelos esquisitos Orbs do novo projeto do Sam Altman?

Para quem não ligou o nome à pessoa, Altman é o inventor do ChatGPT. E como se sua IA generativa já não tivesse causado polêmica o bastante, ele está à frente de um projeto da Web3 batizado de WorldCoin, que propõe aos usuários ceder dados biométricos em troca de um punhado de criptomoedas WLD. Os dados são capturados por meio de um dispositivo de aparência scifi chamado Orb.

O protocolo não é exatamente novo, vem passando por testes há alguns anos, mas o seu lançamento acaba de rolar, na esteira da fama de seu fundador e de sua criatura mais célebre. E, como acontece com tudo que vira o centro das atenções, o WorldCoin já entrou na mira dos reguladores. A Inglaterra, por exemplo, onde está boa parte dos usuários do protocolo, demonstrou preocupação com a privacidade das pessoas e quer explicações.

Por que Altman e sua equipe acreditam que precisam dessas informações biométricas sensíveis para avançar com sua nova iniciativa?

Um dos objetivos do projeto é gerar uma identidade digital única e inviolável para cada indivíduo, que rompa com as formas tradicionais de identificação como CPF, RG, etc. e outros métodos digitais questionáveis, suscetíveis a fraudes e falsificações. Como diz o site da plataforma, funcionaria como um “passaporte digital global a ser usado anonimamente para comprovar singularidade e humanidade”.

O mecanismo facilitador disso tudo tem nome: Proof of Personhood ou Prova de Identidade Humana ou só Prova de Identidade. Para simplificar: PoP.

A motivação para criar o WorldCoin vem do receio em torno do avanço insano da IA, que evidenciou a urgência de se conseguir diferenciar o conteúdo gerado por humanos e por robôs na internet.

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A intenção de Altman & cia com o Proof of Personhood é atacar na raiz duas das principais ameaças que se desenham na era da inteligência artificial: redução da propagação de desinformação gerada por IA e proteção contra ataques sybil - quando um cibercriminoso cria várias identidades falsas com o objetivo de manipular uma rede.

Alguns mecanismos para driblar o sybil e outros desafios do ambiente online são bastante conhecidos de todo mundo, como o KYC (Conheça Seu Cliente ou Know Your Customer) e testes de Turing como os CAPTCHAs.

O problema é que nem todos oferecem privacidade e anonimato, exigindo que os usuários compartilhem suas informações pessoalmente identificáveis, as chamadas IPIs, que podem incluir nomes, endereços, números de passaporte, e-mails e contas no banco.

A proposta do WorldCoin, a partir do Proof of Personhood, é funcionar como a identificação definitiva dos habitantes do planeta. Ambicioso, não acha?

Para capturar esses dados, o projeto vai recrutar gente nos quatro cantos do mundo para a função de Operador de Orb. Aqui no Brasil, até a data em que escrevo este texto, São Paulo é a única cidade onde você pode ter a sua íris escaneada se quiser ganhar criptomoedas por isso.

O WorldCoin que expandir o PoP em escala global e, assim, cumprir com um de seus maiores objetivos: ser um agente de distribuição de renda básica universal (RBU). Isso significa que pretendem distribuir recorrentemente uma determinada quantia de dinheiro - no caso criptomoedas - aos terráqueos para garantir a satisfação de suas necessidades básicas.

Bom, seria reconfortante se não fosse assustador. Na lógica de Altman - pensamento que inclusive divide com Elon Musk -, a renda básica universal seria uma forma de compensação ao garantir uma renda mínima aos humanos conforme perdem posições para os robôs no mercado de trabalho.

Duro de ouvir, né?

Conceitualmente, o PoP tem diversas nuances, como por exemplo o Prova de Existência (PoE), sendo um mecanismo adotado por protocolos que não apenas o WorldCoin. Vamos entender mais sobre alguns de seus casos de uso.

Casos de uso

Verificação de identidade

Vocês devem ter percebido na introdução da coluna que a verificação de identidade é um dos principais casos de uso do PoP e sua utilidade potencial é direcionada ao ambiente de descentralização da Web3. Bancos, sistemas de saúde e de votação podem, particularmente, se beneficiar desse mecanismo.

Identidade auto-soberana (SSI)

Sob o conceito de SSI, os proprietários da identidade digital são responsáveis pelo controle e gerenciamento de seus dados, tanto no que diz respeito a informações pessoais mais básicas quanto a dados de suas interações com outras pessoas e empresas.

O PoP pode ser uma maneira de alavancar a SSI, pois permite que os indivíduos possuam, gerenciem e controlem suas identidades digitais sem uma terceira parte centralizada, como um provedor de identidade ou uma autoridade de certificação. Também permite aos usuários compartilhar apenas as informações que desejarem - e caso desejem.

Renda básica universal (RBU)

O conceito de RBU tem assumido diversas variações ao longo dos séculos, com origens que remontam ao trabalho de pensadores como Thomas More e Thomas Paine. Ao longo do século 20, o economista Milton Friedman, ganhador de um Nobel em 1976, foi um de seus maiores defensores.

Neste século, a pandemia trouxe a discussão à tona novamente no mundo inteiro, em torno do desafio de amenizar os efeitos devastadores da Covid nos rendimentos das famílias. Iniciativas de distribuição de renda foram adotadas por governos ao redor do planeta, como aconteceu aqui no Brasil com o auxílio emergencial.

Um detalhe: diferentemente do auxílio emergencial, a renda básica universal não é condicional, ou seja, aplicada a um público selecionado a partir de determinadas condições. O conceito de RBU determina a inclusão de todos os membros do país, região ou sistema considerado.

Como falamos, o projeto WorldCoin se encaixa nessa proposta. No universo da Web3, não apenas Sam Altman, mas também o fundador do Twitter, Jack Dorsey, já se mostraram publicamente a favor da renda básica universal.

Por meio dos protocolos PoP, a distribuição da RBU tende a ocorrer de forma transparente e segura, tornando possível verificar a identidade dos beneficiários elegíveis. Os projetos que apostam nesse mecanismo são capazes de emitir uma quantidade fixa de novas moedas para cada usuário humano em determinados intervalos de tempo.

Anti-spam e anti-bots em redes sociais

As redes sociais estão infestadas de bots. Robôs são usados para manipular curtidas, número de seguidores e inundam o feed de comentários.

O PoP atua no sentido de impedir a criação de várias contas, fenômeno cada vez mais comum em jogos e mídias sociais. O objetivo de quem cria essas inúmeras contas é usá-las para ganhar mais recompensas. Uma proteção sybil estável é bem-vinda e pode ajudar a construir uma comunidade online mais autêntica e confiável, combatendo a desinformação, a propagação de experiências falsas e golpes de publicidade digital.

Airdrops

A distribuição gratuita de tokens, os airdrops, são muito visados no mundo das criptomoedas (Quer entender mais sobre o tema? Clique aqui para ler a minha coluna). Trata-se de uma estratégia de marketing usada para criar awareness em torno do lançamento de um projeto, de alguma criptomoeda ou NFT.

Para conseguir driblar os protocolos e multiplicar as recompensas, os usuários muitas vezes criam inúmeras contas. O PoP entraria como uma forma de garantir que a distribuição seja justa.

Conclusão

Essa é apenas uma pequena lista de utilidades entre os tantos casos de uso favorecidos pelo mecanismo Proof of Personhood.

Suas aplicações podem abordar desde aspectos mais técnicos dos protocolos, passando por governança, até por exemplo o financiamento público de projetos, serviços e programas que beneficiem a sociedade, podendo ter grande impacto em questões ambientais e de desigualdade social.

Ainda que a tecnologia possa de fato revolucionar a identidade digital, precisamos estar atentos a como a comunidade vai desenvolver os projetos com base no mecanismo e entender se suas intenções são genuínas. Isso só o futuro vai dizer.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

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