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Compra da FTX pela Binance tem riscos de regulação e concentração, dizem especialistas

Aquisição envolvendo gigantes do setor de criptoativos ocorre em meio a temores de liquidez e reações negativas de investidores

União das duas maiores corretoras de criptoativos do mercado pode gerar novos desafios para o setor (SOPA Images/Getty Images)

União das duas maiores corretoras de criptoativos do mercado pode gerar novos desafios para o setor (SOPA Images/Getty Images)

A compra da FTX pela Binance não deve resolver todos os problemas que o setor de criptoativos começou a enfrentar desde o domingo, 6, e pode inclusive trazer novos desafios, como riscos de concentração e atuação de reguladores, de acordo com especialistas consultados pela EXAME.

A aquisição representará a união das duas maiores corretoras de criptomoedas do mercado. Ela foi anunciada nesta terça-feira, 8, em meio a um colapso na confiança do mercado em relação à capacidade da FTX de cobrir retiradas dos seus clientes.

Ao anunciar o negócio, o CEO da Binance, Chanpeng Zhao, disse que a concorrente passava por um "problema de liquidez" e que a compra era uma forma de auxiliá-la. Já o fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, associou o movimento a um esforço para proteger os investidores.

Um dia antes, os dois empresários trocaram indiretas no Twitter e críticas após Zhao informar que a Binance venderia todas as suas reservas de FTT, o token nativo da concorrente, o que efetivamente iniciou a crise de confiança na FTX e as tentativas de clientes de retirada de ativos.

Concentração e regulação

Para Rodrigo Caldas de Carvalho Borges, membro fundador da Oxford Blockchain Foundation e sócio no Carvalho Borges Araújo Advogados, o movimento é "a maior operação de consolidação do mercado de criptoativos. Juntas, Binance e FTX movimentaram, nas últimas 24 horas, mais de US$ 42 bilhões".

Ele avalia que a compra "reforça o domínio da Binance no mercado global de criptoativos" e que a crise da FTX "reforça a legítima preocupação quanto à segregação patrimonial entre as exchanges e os clientes, a fim de evitar que os recursos dos clientes sejam impactados em eventuais problemas enfrentados pelas exchanges”.

(Mynt/Divulgação)

“A concentração pode resultar em redução da concorrência, instrumento fundamental para a inovação e melhoria constante dos mercados", destacou o advogado. Para ele, ainda é preciso esperar para entender se a compra precisará ser submetida a órgãos de regulação, considerando as jurisdições em que as duas empresas operam.

Caso isso ocorra, Gracy Chen, diretora administrativa da exchange Bitget, considera que seria "altamente improvável que a Binance consiga adquirir a FTX". Na avaliação dela, a Binance "acabará pagando o preço por prejudicar os interesses de longo prazo da indústria".

Ela diz que o anúncia sinaliza "graves problemas de liquidez" da FTX, e que a compra pode ajudar Bankman-Fried a "ganhar fôlego" e buscar apoio de outros grandes investidores, algo que ela ainda considera ser improvável.

"A aquisição da FTX não seria uma negociação valiosa. O objetivo de Zhao já foi alcançado. Mesmo que a Binance compre a FTX, é um dano para a indústria e uma humilhação para a descentralização. Para a Binance, pode ser uma vitória a curto prazo, mas com efeitos negativos no longo prazo", destaca Chen.

Já Thiago Barbosa Wanderley, advogado-sócio do Ogawa, Lazzerotti e Baraldi Advogados, acredita que uma concretização da aquisição consolidaria a "forte atuação" da Binance nos Estados Unidos. Para ele, a FTX aparenta ter ativos suficientes para honrar compromissos, mas não na velocidade dos seus negócios.

Ele acredita que "um ambiente regulatório no qual a exchange seja obrigada a custodiar os ativos dos clientes de forma segregada poderia resolver problemas como este".

Lucas Josa, analista do BTG Pactual, lembra que a origem da crise está na Alameda Research. A empresa também é controlada pelo CEO da FTX, e seus balanços revelaram que ela detinha mais de 1/3 das suas reservas em FTT, o que deu início efetivamente às dúvidas sobre a saúde financeira da exchange.

"Em 2021 e 2022, a Alameda usou o FTT como garantia para fazer jogadas em DeFi. Como sustentar esses depósitos se o FTT desvaloriza muito? São muitos questionamentos, e há a percepção de que a FTX precisaria usar dólar de clientes para ajudar o FTT", explica Josa.

Esse medo levou a uma tentativa de retirada de investimentos por parte dos clientes da exchange, que chegou a suspender transações. Isso, porém, reforçou os temores sobre a solvência da FTX, piorando o quadro. Atualmente, a Alameda possui US$ 7,4 bilhões em dívidas.

Para ele, a aquisição pela Binance não aliviou inteiramente o mercado porque pode levar a uma "concentração preocupante" e uma "chance de manipulação" de mercado por parte da exchange, que passará a ter um peso ainda maior no setor.

Além disso, ele cita temores de investidores, ainda não aliviados, sobre um "efeito em massa de liquidação, parecido com a do Celsius". "A Binance chegou a dar um alívio, mas aí surgiram temores sobre concentração, regulação e manipulação. Se a FTX tem rombo, é porque a Alameda tem rombo. A Binance só vai ajudar a FTX, então a liquidação de posições da Alameda ainda afeta o mercado", destaca.

Nesse sentido, o analista acredita que será importante ficar atento aos próximos capítulos dessa história e a qualquer novidade em torno da FTX, da Binance e do FTT, protagonistas de mais um episódio do setor de criptoativos com forte potencial de afetar o mercado, como comprovado nesta terça-feira com as quedas significativas do bitcoin, ether e outras criptomoedas.

Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed, acredita que o movimento consolida o mercado de exchanges em torno da Binance, mas gera "descrédito para o mercado de cripto" e é 'traumatizante para o mercado e gera prejuízo para muita gente". Entretanto, ele acredita que o movimento é natural em um processo de "consolidação do setor": "é triste para uns, ótimo para outros".

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