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Com 9 vezes o volume do bitcoin, stablecoins são criptos mais negociadas do Brasil: para que servem?

De R$ 47 bilhões negociados em criptomoedas no Brasil, 83,5% foram em stablecoins e 9,2% em BTC; saiba para que serve esse tipo de ativo

 (Reprodução/Reprodução)

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Gabriel Rubinsteinn
Gabriel Rubinsteinn

Editor do Future of Money

Publicado em 10 de maio de 2023 às 17h14.

Última atualização em 10 de maio de 2023 às 17h52.

Na semana passada, a Receita Federal divulgou dados sobre o mercado cripto no Brasil. O principal destaque foi o novo recorde no número de pessoas físicas e jurídicas que transacionaram ativos digitais em março, mas outros números também chamam a atenção, como a importância das stablecoins para o setor no país — muito maior, inclusive, do que bitcoin e ether, as duas maiores e mais populares criptos do mundo.

Os ativos digitais lastreados por ativos reais, que têm valor estável e por isso são chamadas de stablecoins, foram responsáveis por nada menos do que 83,5% dos R$ 47,1 bilhões movimentados em cripto no Brasil em 2023, ou R$ 39,3 bilhões, considerados os meses de janeiro, fevereiro e março, os únicos cujos dados já foram divulgados pela Receita Federal no ano. O bitcoin responde por 9,2% das operações no mesmo período.

Em março, por exemplo, foram R$ 12,3 bilhões movimentados em stablecoins no país, frente a R$ 1,28 bilhão em bitcoin e R$ 371,5 milhões em ether. No mês anterior, R$ 12,9 bilhões em stablecoins, ante R$ 1,03 bilhão em BTC e R$ 244 milhões em ETH.

E se engana quem pensa que o valor só é possível porque o dado soma valores de diferentes stablecoins, já que apenas uma delas responde por quase todo o valor movimentado: a USDT, da Tether, responsável por 96% do total de stablecoins negociadas no Brasil em março — em fevereiro, o ativo criado pela Tether respondia por 93,4% e, em janeiro, 93,6% do total de stablecoins transacionadas no país.

Além do USDT, também foram declaradas à Receita movimentações com outras sete stablecoins, mas algumas delas com valores irrelevantes. Em março, além dos R$ 11,9 bilhões em USDT, foram R$ 247 milhões em BRZ, R$ 186 milhões em USDC, R$ 22,6 milhões em BUSD, R$ 4,8 milhões em USDP, R$ 1,8 milhão em DAI, R$ 1,3 milhão em PAXG e R$ 218 mil em TUSD — com exceção de BRZ, lastreada em reais, e PAXG, lastreada em ouro, todas as outras são lastreadas em dólares americanos.

É importante ressaltar que os dados da Receita Federal consideram os declarados à autarquia por investidores e empresas do setor. Como operações realizadas em exchanges internacionais ou entre pessoas físicas só precisam ser informadas à Receita quando ultrapassarem R$ 30 mil por mês, o número de transações divulgadas não responde pelo mercado cripto como um todo, já que exclui praticamente todos os pequenos investidores da conta.

Mesmo assim, os dados da Receita apontam um recorde de mais de 1,6 milhão de CPFs que movimentaram criptoativos em março, além de 61.257 CNPJ, também o maior número da série histórica de dados, iniciada em agosto de 2019. No caso dos CPFs, março teve um aumento de cerca de 35% em relação a fevereiro, quando o número foi de 1,2 milhão. O recorde anterior tinha sido registrado em setembro de 2022, com 1,58 milhão de CPFs movimentando criptoativos no Brasil.

Para que servem as stablecoins?

As stablecoins foram criadas como uma maneira de transacionar ativos do mundo real no ambiente digital — como dólar, ouro, euro, reais, prata e muitos outros.

A emissão desses ativos digitais é atrelada à inclusão dos ativos "reais" nas reservas do emissor. Por exemplo, no caso da USDT, para cada token emitido em blockchain, a Tether supostamente guarda US$ 1 em suas reservas. Assim, 1 USDT valerá sempre US$ 1. O mesmo princípio vale para quaisquer outras stablecoins — inclusive a PAXG, na qual cada token representa 1 onça de ouro, que deve ser guardada nas reservas do emissor da criptomoeda.

Como são equivalentes digitais de ativos do mundo real, as stablecoins têm pelo menos duas funções principais. A primeira e mais óbvia é a possibilidade de ganhar exposição a ativos do mundo real de maneira rápida, simples e segura, graças às vantagens da tecnologia blockchain.

Desta forma, brasileiros que desejam alocar uma parte de seu patrimônio em dólar podem simplesmente comprar BTGUSD, USDT, USDC ou quaisquer stablecoins que representem a moeda americana. É um processo muito mais simples do que comprar o papel moeda ou investir em um fundo cambial, além de ser muito mais barato, já que as taxas e os impostos são menores.

A segunda função das stablecoins, em especial aquelas lastreadas em moedas fiduciárias como dólar, euro ou real, é a possibilidade de entrar ou sair do mercado cripto rapidamente.

Por exemplo, um investidor de bitcoin que deseja vender sua posição pode trocá-lo por uma stablecoin lastreada em dólares, euros ou reais em segundos, sem a necessidade de trocar a criptomoeda por dinheiro físico. O mesmo vale para compra: como o mercado é volátil, depender de transações com moedas fiduciárias pode fazer muita diferença para o investidor. Assim, ter stablecoins pode permitir a compra de determinada criptomoeda de forma muito mais ágil.

Além disso, as stablecoins também podem ser utilizadas para uma série de outras funções, como remessas internacionais e até como meio de pagamento, entre outras.

Qual é a melhor stablecoin disponível

Existem dezenas de stablecoins em circulação nos diferentes blockchains existentes. A principal delas, e o volume negociado no Brasil é reflexo disso, é a USDT, lançado inicialmente como um token ERC-20, que circula na rede Ethereum, mas atualmente disponível também em outras redes.

Emitido pela Tether, empresa fundada em Hong Kong, é atualmente a terceira maior criptomoeda do mundo por capitalização de mercado, atrás apenas de bitcoin e ether, com market cap de US$ 82,6 bilhões.

Apesar do sucesso, a Tether e USDT já estiveram envolvidos em desconfiança, em especial com dúvidas sobre as reservas em dólar do ativo, e também em polêmicas, como em 2021, quando divulgou documentos mostrando que as reservas da stablecoin estavam em sua maioria em papeis comerciais, com apenas 2,9% do lastro em dinheiro.

Outro caso envolvendo a Tether e o USDT foi a suspeita de um esquema de manipulação de preços do bitcoin levantadas em 2018, que culminaram com investigação e acordo com reguladores dos EUA.

Nos últimos meses, no entanto, a empresa tem buscado dar mais transparências às suas operações e às reservas do USDT, e inclusive anunciou o fim do uso de papéis comerciais como lastro para a stablecoin.

Em março de 2023, a o USDT ganhou ainda mais força quando a sua principal concorrente, o USDC, emitido pela americana Circle, perdeu sua paridade com o dólar por causa de temores de insolvência após a quebra do banco SVB nos EUA, onde parte das reservas da criptomoeda estava guardada.

Apesar de retomar o valor estável em US$ 1, a situação deixou os investidores preocupados e provocou um enorme fluxo de saída do USDC e de entrada no USDT.

Já a BUSD, emitida pela corretora cripto Binance, e que também movimentou alguns milhões de reais em 2023 no Brasil, foi tirada de circulação recentemente devido a problemas da exchange com reguladores dos EUA.

A BRZ, lastreada em reais e emitida pela Transfero, também se destaca entre os usuários brasileiros. Mais recentemente, o BTG Pactual se tornou o primeiro banco do mundo a lançar uma stablecoin lastreada em dólares, o BTG Dol.

O ecossistema de stablecoins, entretanto, ainda vai muito além disso, com opções para diferentes ativos e até sistemas diferenciados, como as stablecoins algoritmicas, cujas reservas são balanceadas de forma automática.

Assim, a definição da melhor stablecoin depende do objetivo de seu usuário e, claro, de fatores relacionados à solidez e à segurança proporcionados por seu emissor.

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