No momento, o bitcoin é negociado por 43.135 dólares (Siegfried Layda/Getty Images)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 27 de setembro de 2021 às 18h56.
Última atualização em 27 de setembro de 2021 às 19h25.
Em 8 de setembro, o time de pesquisa do Standard Chartered projetou que o preço do bitcoin poderia atingir a faixa de 100.000 dólares nos últimos dias de 2021 ou no início de 2022. Diversos CEOs do mundo cripto também fizeram previsões semelhantes, como Thomas Lee, sócio da Fundstrat Global Advisors. No entanto, tirando a alta momentânea acima dos 50.000 dólares na primeira semana de setembro, o bitcoin falhou em atrair novos movimentos de alta. No momento, o preço do bitcoin está por volta de 43.100 dólares, dando continuidade em seu movimento entre o nível de suporte de 41.000 dólares e a resistência próxima de 50.000 dólares. Então, o que causa essa pressão vendedora?
Precisaremos voltar para o ano passado. Em boa parte de 2020, o setor de finanças descentralizadas bateu recordes em volume de transações e milhares de usuários bloquearam seus ativos em diversos protocolos DeFi a fim de gerar receita a partir de juros. Sendo assim, se espera que muitos investidores teriam convertido seus bitcoins em ether ou tokens que funcionam via smart contracts para participar dessa tendência.
Apesar de ter ocorrido uma queda momentânea nas atividades envolvendo DeFi no final de 2020 e início de 2021, o setor recebeu uma segunda onda de investimento nos últimos meses, conforme os tokens não fungíveis (NFTs) começaram a ganhar popularidade. Em 7 de setembro o valor total de ativos bloqueados (TVL) em DeFi praticamente ultrapassou o marco de 100 bilhões de dólares pela primeira vez, de acordo com a DeFi Pulse. Essa última alta já excedeu o crescimento de 2020, com o TVL saindo de 23,8 bilhões de dólares para 84,1 bilhões, representando uma alta de 253%, em comparação com 183% do ano passado (8,39 bilhões para 23,8 bilhões).
Muito desse crescimento é graças à chegada de novos concorrentes no mundo das finanças descentralizadas, incluindo:
Cada uma dessas plataformas focadas em smart contracts já estabeleceu seu próprio ecossistema DeFi, com aplicativos descentralizados (dApps), taxas mais baixas e transações mais rápidas que a tecnologia atual do blockchain Ethereum.
Não foi apenas a tecnologia DeFi que roubou os holofotes do bitcoin. O mercado NFT também ganhou bastante sucesso em 2021. A quantidade de dinheiro gasta para comprar NFTs em um período de 30 dias cresceu drasticamente de 10 milhões de dólares no início de 2021 para praticamente 2,6 bilhões de dólares em 17 de setembro.
Por conta da ascensão das tecnologias DeFi e NFT, a dominância do bitcoin (a porcentagem total do valor de mercado do bitcoin em relação ao valor de mercado total de todas as criptomoedas) caiu significativamente — era 69,7% no início do ano e agora está em 41,9%. Em outras palavras, o bitcoin não comanda o mesmo nível de interesse e atenção como fazia há nove meses. Isso poderia apontar a razão para que a maior criptomoeda do mundo em valor de mercado sofre para conquistar a pressão compradora necessária para ultrapassar os 50.000 dólares.
O Senado americano aprovou recentemente um projeto de lei de infraestrutura contenciosa. Isso envolve um orçamento de 1,2 trilhão de dólares para melhorar diversas áreas da economia. Parte da proposta inclui afrouxar as regras sobre a taxação de criptomoedas a fim de ajudar a implementar esse projeto de lei gigantesco. Uma das mudanças inclui exigir que corretores de criptomoedas reportem transações. Enquanto a exigência em si é vista como um meio de vigiar usuários de cripto e garantir o pagamento de taxas, o aspecto principal da contenção é a falta de uma definição clara sobre o termo “corretor”. Defensores das criptomoedas discutem que o termo é muito amplo e pode ser interpretado de forma a incluir mineradores, desenvolvedores e validadores de nós — e nenhum deles tem a custódia dos fundos de investidores.
Apesar de terem ocorrido tentativas de amenizar o projeto de lei por parte de um grupo bipartidário de congressistas crypto-friendly, não é muito provável que muita coisa possa ser feita para alterar as exigências antes do projeto virar uma lei efetiva. Historicamente, incertezas regulatórias como essa costumam impactar a performance do bitcoin.
E então temos os embates regulatórios entre as reguladoras de valores mobiliários nos Estados Unidos e companhias de empréstimo de criptomoedas, incluindo a Celsius e a BlockFi. Reguladores argumentam que as poupanças de criptomoedas ofertadas por ambas as companhias violam as leis estaduais de valores mobiliários. No nível federal, a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos EUA manteve uma abordagem cuidadosa sobre as criptomoedas, o que é a razão para que ETFs de cripto ainda não foram aprovados nos Estados Unidos. Analistas acreditam que a aprovação de um ETF de bitcoin poderia desencadear um novo fluxo de interesse institucional em bitcoin, o que pode ser vital para que o preço em atinja o marco de 100.000 dólares.
Seguindo o lançamento do relatório de vendas do varejo para agosto, o dólar passou por um período de altas por praticamente três semanas até 17 de setembro. As vendas do varejo subiram 0,7%, apesar das expectativas serem de que cairia 0,8%. Esses dados demonstram que a economia americana está sob tendência otimista, e os negócios estão adentrando uma nova realidade de mercado após a pandemia. Apesar do surgimento da variante delta do coronavírus, o apetite para gastar não reduziu. Dessa forma, uma recuperação na economia significa menos interesse em ativos econômicos de cobertura como o bitcoin.
Outro dado econômico que pode ter motivado a reação desanimada para o mercado de bitcoin é a queda na taxa de inflação americana, que saiu de 5,4% para 5,3% em agosto. Enquanto alguns acreditam que esse cenário é negativo em relação ao histórico do país, outros o enxergam como um indicador positivo, considerando que a situação poderia ser muito pior.
Em 24 de setembro, o Banco Popular da China emitiu um novo comunicado sobre a ilegalidade das transações em bitcoin e sua mineração, adicionando que agora as transações entre criptomoedas também estão proibidas. Anteriormente, o governo chinês já havia proibido as transações entre criptomoedas e dinheiro fiduciário. Isso significa que literalmente todas as atividades relacionadas às criptomoedas estão banidas do país pela primeira vez, incluindo a compra, venda ou troca de moedas digitais como o bitcoin, ether e tether.
O banco central chinês também esclareceu que qualquer cidadão que seja pego trabalhando para corretoras de criptomoedas estrangeiras será investigado.
Mas não foi apenas o Banco Popular da China que aumentou a repressão nas novas leis sobre criptomoedas, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma também expressou suas intenções de aumentar a fiscalização quanto à proibição da mineração de criptomoedas, que já existe no país há alguns meses. Em um comunicado chamado “Retificação sobre as atividades de mineração de moedas virtuais”, agentes planejaram extinguir completamente a mineração de criptomoedas na China.
Primeiro, novas companhias buscando entrar na indústria de mineração serão proibidas. Segundo, autoridades locais deverão encerrar o suporte para as operações pré-existentes de mineração — isso inclui encerrar o fornecimento de energia e encorajar que outros fornecedores aumentem os custos, para fazer com que as operações de mineração se tornem inviáveis financeiramente. E por fim, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma afirmou que irá evitar que novos investimentos adentrem o setor e cortar qualquer serviço financeiro prestado a empresas de mineração.
O preço do bitcoin caiu praticamente 10% quando o anúncio foi feito, saindo de 45.099 para 40.693. Desde então, o preço recuperou parte de suas perdas e está em 43.135.
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