(Getty Images/Getty Images)
Sócio da Spiralem Innovation Consulting
Publicado em 23 de dezembro de 2023 às 11h00.
Após mais de uma década de desenvolvimentos e avanços contínuos no país, as fintechs se estabeleceram como alternativas reais no dia a dia de milhões de pessoas e empresas, sendo peças importantes no processo de evolução pelo qual passou o mercado financeiro local nos últimos tempos.
Valendo-se de novas tecnologia e regulações que foram criadas ao longo dos anos – e trazendo também um olhar de centralidade em relação aos consumidores – esses players ajudaram a elevar a barra dos serviços e produtos ofertados por aqui, provocando uma espiral positiva que se espalhou por todo o mercado.
Depois de terem passado por diferentes estágios, incluindo o ceticismo inicial por parte do mercado tradicional, a proliferação de novos entrantes, a fase do capital abundante (e dos valuations esticados), a consequente vinda de um período de seleção natural (ainda em curso) e a transformação dos incumbentes (diminuindo parte do abismo que existia em relação a esses novos players), chegamos, enfim, em um momento de consolidação nesse ambiente.
Trata-se de uma fase em que o ecossistema fintech atingiu sua maioridade, trazendo com isso um nível mais alto de exigência em relação a estes players e, por consequência, maior maturidade das iniciativas que já estão no mercado (sob pena de ficarem pelo caminho) e mais qualidade (logo na largada) daquelas que virão.
Agora, diante de 2024 e deste processo de consolidação no setor, nos deparamos com uma série de possibilidades abertas por novas tecnologias (como AI Generativa), novas infraestruturas (com o Drex) e pelo amadurecimento da cena local e dos elementos que já se encontram presentes por aqui (como o Pix e o Open Finance).
Combinando tudo isso, é possível afirmar que estamos muito perto do próximo grande salto, em termos de inovação financeira, a ser realizado por aqui – algo sem precedentes até mesmo quando comparamos com outras nações avançadas nesse quesito.
Neste artigo, trarei mais detalhes sobre a minha visão deste momento único, bem como suas implicações para o cenário fintech local, e algumas tendências que devem ganhar destaque no ano que logo se inicia.
Graças à construção de um ambiente financeiro coeso e fértil sob o ponto de vista de inovação – sobretudo via desenvolvimento de infraestruturas e regulações viabilizadoras deste processo – o Brasil tem sido frequentemente citado como uma referência nos principais foros e relatórios globais, entrando no radar dos investidores e decisores internacionais. Como resultado direto disso, vemos o país atraindo mais fintechs estrangeiras e se tornando um mercado prioritário para aquelas que já atuam por aqui.
Isso ficou muito claro nos últimos anos quando, por exemplo, players como Fireblocks e Paxos (que provêm soluções no contexto da criptoeconomia) aceleraram sua atuação no país. Há também casos mais extremos, como o da fintech mexicana Clara (plataforma de controle de gastos empresariais e cartão de crédito corporativo) que transferiu a sua sede para o Brasil. Movimentos nesse sentido devem intensificar a competição em alguns subsegmentos por aqui, acelerando o ritmo de chegada de diferentes inovações no mercado.
Do lado contrário, entendo que 2024 será um ano no qual algumas fintechs brasileiras devem brilhar mundo afora, demonstrando que toda expertise acumulada no desenvolvimento de soluções por aqui podem ser aplicadas em outros contextos. Já vimos empresas como Ebanx, Dock, Pismo e Nubank fazendo isso e logo veremos algumas outras ganhando o mundo, refletindo essa evolução natural do empreendedor brasileiro nesse segmento.
Agora sob o ponto de vista de investimentos, acredito que estamos em rota crescente, sobretudo comparado com o que vimos em 2023, mas ainda ficaremos abaixo do pico de 2021, que foi o ano com maiores volumes de investimento no setor (tanto na América Latina quanto mundo). Olhando para o cenário externo, é esperada uma redução no patamar das taxas de juros dos Estados Unidos, o que favorece uma retomada dos investimentos em startups, de modo geral.
Voltando ao Brasil, entendo que veremos mais rodadas menores (em investimentos mais iniciais, do pré-seed até séries B), já as rodadas maiores devem ser mais escassas. As fintechs que já receberam rodadas de investimentos mais avançadas (pós series B) passaram os últimos 2 anos ajustando suas operações buscando eficiência e mirando a rentabilidade. As que precisaram levantar capital sofreram down rounds severos, como foi o caso da Klarna e Stripe no cenário internacional – algo que outros grandes players querem evitar a todo custo.
Soma-se a isso informações do estudo “Future of Fintech” do SVB que mostra que, no 3º trimestre de 2024, cerca de 53% das fintechs dos Estados Unidos estarão sem recursos para tocar suas operações se não levantarem mais capital ou venderem suas operações. Em alguma medida, isso pode se refletir também na realidade brasileira, colocando ainda mais pressão na sustentabilidade (e consequente lucratividade) das operações e acelerando a atividade de M&A.
Por aqui, também devemos voltar nossos olhos para uma potencial paralização dos servidores do Banco Central do Brasil, como decorrência do movimento de valorização de carreiras de quem trabalha para o regulador. Dependendo de sua duração, podemos ter impactos nas agendas do Pix, do Open Finance e do Drex, atrasando seus desenvolvimentos.
Tendo o cenário acima em mente, vale pontuarmos os caminhos que devem ganhar destaque em 2024. Alguns deles são progressões de tendências que eu apontei para 2023 e que têm tudo para continuarem desdobrando, porém com elementos adicionais que podem acelerar o seu processo de maturação.
Para começar, vemos toda a discussão sobre principalidade que aconteceu nos últimos tempos sendo transformada em pauta estratégica dentro das instituições (tanto bancos quanto neobanks), com diversas ações sendo implementadas para ampliar a proximidade junto ao cliente, entendendo-o de maneira mais completa e integral.
Assim, boa parte dos principais players do mercado já abraçaram o conceito de Banking-as-a-Platorm, ou seja, passaram a se enxergar como verdadeiras plataformas que agregam produtos e serviços (financeiros e não financeiros), tanto seus quanto de terceiros, para ofertarem aos seus clientes – ficando assim alinhados, com a realidade ecossistêmica e conectada do mercado financeiro atual, orquestrando diferentes parceiros com o intuito de facilitar as jornadas cotidianas de pessoas e empresas.
Até o momento, peças como o Beyond Banking – baseado na ofertas de produtos não financeiros, com consequente entendimento sobre preferências, dados de comportamento e de compra do consumidor – o Open Finance, a agregação de dados e a iniciação de pagamentos vinham ajudando a tangibilizar essa visão. Agora, com os avanços da inteligência artificial, é possível levar a discussão sobre principalidade para outro nível – impactando também o desenvolvimento do chamado contextual banking e do ERP Banking (do lado das empresas).
Hoje, as instituições financeiras podem alavancar suas capacidades usando a IA generativa para otimizar a experiência do cliente, criando produtos e serviços financeiros (de fato) personalizados – a tão sonhada hiperpersonalização. Essa tecnologia não apenas permite interações customizadas e em tempo real com os clientes por meio de plataformas conversacionais avançadas e robustos assistentes virtuais, mas também aprimora os esforços de marketing ao gerar conteúdo único e totalmente aderente aos interesses do usuário.
Isso muda o jogo quando combinamos as múltiplas fontes de dados hoje disponíveis com a capacidade de utilizá-las intensivamente na entrega de uma nova forma de interagir com a instituição. Fora isso, há todo o potencial de sua utilização para aprimorar o backoffice e middle office, aumentando a eficiência da instituição, reduzindo fraudes, dentre outras melhorias operacionais. As instituições ainda estão testando essa fronteira, mas 2024 promete ser palco para vários avanços tangíveis nessa direção.
Passando para outra grande tendência que ganhará destaque ao longo de 2024, é importante abordarmos o movimento de preparação do mercado, como um todo, para a realidade tokenizada – uma fronteira que já está sendo explorada hoje e que será o novo padrão após a estreia do Drex e dos movimentos regulatórios ao redor da criptoeconomia.
Além de todo o avanço do ecossistema de fintechs desta realidade – envolvendo provedores de Crypto-as-a-Service, Blockchain-as-a-Service, Token-as-a-Service e tokenizadoras em geral – vemos também os esforços de grandes bancos e fintechs na transposição dos produtos financeiros tradicionais para uma nova infraestrutura baseada em blockchain. Os impactos no ambiente de securitização e na construção e estruturação das mais diversas soluções é gigantesco – tanto do ponto de vista de eficiência quanto custos – além de firmar as bases para a construção de muitas novas teses e produtos quando trazemos elementos das finanças descentralizadas (DeFi) e tokenização de ativos reais.
Como a corrida para dominar essa nova infraestrutura já começou – e tem no lançamento do Drex o seu primeiro grande deadline – é possível ver alguns desafios que o mercado encontrará, principalmente os grandes players.
O primeiro é de ordem tecnológica, algo que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já antecipou quando afirmou que “o Drex irá sacudir os sistemas legados dinossauros que estão dentro dos bancos”. Algumas instituições já se anteciparam ao criar áreas específicas voltadas aos Digital Assets, ganhando corpo do ponto de vista técnico enquanto exploram questões como interoperabilidade, custódia, oferta de criptoativos, tokenização de produtos, dentre outros. Como o relógio já está correndo, entendo que podemos ver movimentos de M&A junto a provedores ligados à criptoeconomia (mencionados acima) para acelerar o desenvolvimento interno desta capacidade.
O segundo desafio diz respeito ao treinamento de equipes, tanto das áreas técnicas quanto das áreas de negócio, para compreenderem melhor o potencial e as possibilidades dentro dessa nova era da criptoeconomia. Esse tema logo se tornará fundamental para quem está dentro do mercado financeiro e, quanto mais pessoas entenderem sobre o tema, mais será possível dar vazão a múltiplas inovações por toda organização.
Por fim, existem desafios relacionados ao posicionamento e comunicação, especialmente no caso dos grandes bancos, junto ao grande público – que muitas vezes já tem dificuldades em compreender o mercado e os produtos de hoje. Conseguir traduzir o contexto da criptoeconomia e das novas mecânicas que ela traz ao mercado, ao mesmo tempo em que se posiciona em um ambiente já povoado por empresas cripto nativas é algo que cada instituição encontrará o seu modo de fazê-lo – observando, principalmente, os diferentes perfis de seus consumidores e o espaço que elas desejam ocupar nesse novo contexto.
Com tudo isso, é possível entender que tanto bancos quanto fintechs passarão o ano de 2024 criando corpo para estarem prontos para a grande virada de chave em 2025, quando várias infraestruturas estarão rodando e interagindo entre si, promovendo um dos maiores saltos já vistos no mercado financeiro em todo mundo!
Podemos encarar 2024 como um período de construção, plantio e criação de capacidades, cuja colheita ocorrerá em 2025 – quando a inteligência artificial, a economia tokenizada, o Open Finance e as bases para o desenvolvimento de superapps completos (nos moldes que foram apresentados pelo Banco Central) se integrarão.
Aquelas instituições que estiverem prontas para isso, fazendo o dever de casa hoje, certamente sairão na frente. É um momento único e decisivo que tem o potencial de reconfigurar o mercado financeiro atual – e estamos muito perto de ver isso acontecer.
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