Paxos é uma das principais fornecedoras de infraestrutura blockchain no mundo (Reprodução/Reprodução)
Repórter do Future of Money
Publicado em 14 de agosto de 2023 às 11h55.
Conforme a adoção dos criptoativos avança ao redor do mundo, o desenvolvimento de uma boa infraestrutura blockchain tem sido cada vez mais essencial para os projetos de grandes empresas. E é nessa área que atua a Paxos, companhia que tem entre os seus parceiros gigantes do mercado como o PayPal, o Nubank e o Mercado Pago.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Arnoldo Reyes, líder da Paxos na América Latina, falou sobre a evolução do mercado de criptoativos nos últimos anos, o avanço da tokenização no Brasil e outros países e a importância da regulação para as empresas. Além disso, ele abordou o mais recente, e polêmico, anúncio de projeto ligado à Paxos: uma stablecoin do PayPal.
Ele destaca que, atualmente, a Paxos atua com a visão de "tokenizar os ativos do mundo e democratizar o acesso a eles". "Hoje consegue tokenizar o dólar, mas no futuro você vai pode tokenizar imóveis, carros. Ao tokenizar ativos, você cria um sistema financeiro acessível a todos", ressalta.
Reyes comenta que, como uma empresa de fornecimento de infraestrutura blockchain, uma das áreas de maior atuação da Paxos é a tokenização de ativos. Na visão dele, o conceito de tokenização é, hoje, "pouco confuso, mas simples". "Basicamente, é pegar um ativo do mundo real e essencialmente criar um certificado digital, que é uma prova de posse daquele ativo".
"Mas também quer fazer isso [a tokenização] de forma regulada, com processos de compliance e governança. O que o mercado fala sobre tokenizar é fazer para que as pessoas tenham uma representação digital de um ativo, facilitando movimentações", explica. Além disso, ele defende que a tokenização permite "dar acesso ao ativo para uma parte maior do mercado".
O executivo destaca que "hoje é complicado investir em alguns ativos, eles têm requisitos mínimos de investimento, infraestrutura, a tokenização torna esse acesso mais simples, democrático, para diversos ativos ao redor do mundo". Ele diz ainda que, no momento, o Brasil "é um dos países que está liderando esse movimento de tokenização ao redor do mundo".
Ao mesmo tempo, a tokenização também está ligada ao avanço das stablecoins - criptomoedas pareadas a outros ativos, incluindo moedas como o dólar - e das moedas digitais de bancos centrais, as CBDCs - como o Drex. Em geral, as stablecoins são usadas hoje em transações envolvendo ativos tokenizados, e há a visão, inclusive no Brasil, que as CBDCs também atuarão nesse segmento.
"As CBDCs estão sendo exploradas por mais de 80% dos bancos ao redor do mundo, em estágios diferentes, alguns na fase exploratória, outros que já lançaram. E é preciso entender porque os bancos centrais estão interessados. Um ponto é ter mais inclusão financeiro, outro é digitalizar mais o sistema financeiro. E um dos jeitos de digitalizar e encorajar o uso das tecnologias digitais é se as pessoas sentem que o token digital é respaldado por alguém, e não há respaldo melhor que de um banco central", explica Reyes.
O executivo da Paxos também vê vantagens em áreas como internacionalização da moeda e facilitação de pagamentos entre bancos, oferecendo uma alternativa mais barata, rápida e que funciona 24 horas por dia. Entretanto, ele não acredita que o avanço das CBDCs vai levar ao fim das stablecoins.
"Também tem um espaço para stablecoins privadas, porque os consumidores querem mais opções. E terão coisas que você poderá fazer com elas que não poderá fazer com CBDCs, como mandar dinheiro entre países. O mercado é grande o suficiente, existem oportunidades para os dois", avalia Reyes.
A expectativa dele é que as CBDCs tenham um uso mais institucional, enquanto as stablecoins ganhem espaço no varejo. E um exemplo da aposta nas stablecoins é o recente anúncio do PayPal, que vai lançar sua stablecoin própria pareada ao dólar, o PayPal USD. A iniciativa contará com a Paxos como parceria, fornecendo a infraestrutura necessária no projeto.
"Eu acho que vimos tentativas de fazer coisas como o PayPal USD no passado, como a Libra do Facebook, e o que isso fez foi indicar as capacidades transformadoras que uma plataforma global e madura de pagamentos pode ter ao oferecer dólares digitais, totalmente respaldados, e todos os casos de uso que pode gerar. Existem muitas vantagens para o comércio global que serão criadas, mais eficientes, menos custosas para consumidores e empresários", afirma.
Ele pontua ainda que o PayPal é "uma companhia incrivelmente madura, com 400 milhões de usuários ativos. Isso mostra que eles entenderam o ponto de abraçar novas tecnologias que prometem gerar mais inclusão financeira e comercial. É algo bom. Hoje, o PayPal USD está disponível só nos Estados Unidos , mas consigo ver isso expandindo para outros mercados, com vários casos de uso possíveis".
Mesmo assim, o projeto foi alvo de críticas no mercado cripto. O código da stablecoin revelou que o PayPal poderá congelar contas e ter capacidades de gerenciamento que costumam ser criticadas por entusiastas das criptomoedas. Apesar de não abordar diretamente as críticas, Reyes destacou que a lógica do mercado determinará qual abordagem será bem-sucedida.
"Tudo que acontece com empresas grandes, em especial as de tecnologia, sempre vai gerar críticas. Vão falar de monopólio, poder, mas não vemos dessa forma. No fim, nossa visão é que quanto mais o mundo fica conectado por formas digitais de dinheiro, melhor para todos. O PayPal quer aumentar as oportunidades para pagamentos digitais globalmente, não é uma competição para roubar mercado, é para ampliar o mercado. Mas há pessoas que não concordam. Com aplicações práticas, isso pode mudar a mente das pessoas, mas a melhor proposição de valor de forma segura e regulada acaba sendo a vencedora", argumentou o executivo da Paxos.
Um ponto que tem impactado o mercado de criptoativos, e nem sempre de forma positiva, é a ação de reguladores e a criação de leis para o segmento. Na visão de Arnoldo Reyes, porém, a regulação é essencial, já que "você não consegue ser bem-sucedido no mercado financeiro se não for totalmente regulado. Por quê? Porque está lidando com o que é mais íntimo para as pessoas, o dinheiro delas".
Nesse sentido, o gerente da Paxos para a América Latina destaca que a empresa tem buscado ser "a mais regulada" do mundo cripto. "Isso nos custou oportunidades de negócio? Sim, mas queremos ser altamente regulados", comenta. "O que as empresas querem mesmo é se sentir seguras e que estão trabalhando com um parceiro regulado".
E um caso recente mostra como, em alguns momentos, seguir essas regulações pode resultar em perdas de negócios. No primeiro semestre deste ano, a Paxos decidiu encerrar a emissão da stablecoin Binance USD (BUSD) após receber um aviso da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, de que ela poderia ser alvo de ações judiciais ligadas ao ativo.
"Nós recebemos uma carta que a SEC mandou e disse que pretendiam tomar uma ação, e a carta era focada na Binance. A Paxos era a emissora para o BUSD, uma das principais stablecoins do mundo naquele momento, e a questão era mais sobre a divulgação dessa stablecoin do que sobre a Paxos em si. Nós negamos veemente que fizemos algo de errado, e a realidade é que o mercado entendeu que não tinha nada com a Paxos. A Binance tem sofrido esse escrutínio maior, nos EUA e no resto do mundo. Para proteger o negócio, encerramos a relação" disse.
Na visão do executivo, "você não pode inovar com escala sem ter regulação, as pessoas não vão confiar em você", o que torna a criação das leis essencial para o sucesso do mercado cripto.
Nesse cenário, o Brasil ganhou ainda mais destaque nos planos da Paxos. Reyes comenta que o país já era "um mercado importante" para a provedora de infraestrutura blockchain, mas que agora é "incrivelmente importante" após a aprovação do Marco Legal das Criptomoedas, que dá uma clareza maior para o setor cripto.
"Quando tem uma regulação clara, tem um mercado maior. Nos mercados em que os reguladores ainda estão decidindo, os bancos e as fintechs ficam assustados, não sabem o que é legal ou não. No fim, isso estrangula a inovação. A regulação cria incentivos para quem quer explorar esse mercado. O pior é quando não tem nenhuma regulação, porque aí não dá confiança para os consumidores", afirma o executivo.
Ao mesmo tempo, ele observa que o Brasil tem "desintermediado o próprio sistema financeiro" graças a projetos como o Pix, o Open Finance e, agora o Drex. Ao mesmo tempo, isso tem sido feito "ara ter mais inclusão, transparência, gerenciamento de controle e compliance". Por isso, a Paxos espera continuar contribuindo para esse processo e expandir seus negócios no país, que possui hoje uma "agenda de inovação, e as CBDCs terão um papel importante".
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