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Bradesco e Santander destacam potencial da tokenização e primeiros projetos na área

Em participação no Febraban Tech, executivos de bancos destacaram desafios que ainda limitam o crescimento da tokenização

Tokenização ainda enfrenta desafios, mas traz vantagens que favorecem o crescimento (Reprodução/Reprodução)

Tokenização ainda enfrenta desafios, mas traz vantagens que favorecem o crescimento (Reprodução/Reprodução)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 27 de junho de 2023 às 18h21.

Última atualização em 27 de junho de 2023 às 18h36.

Executivos dos bancos Bradesco e Santander e da empresa de infraestrutura blockchain Paxos destacaram nesta terça-feira, 27, o potencial que a tokenização apresenta para a economia nos próximos anos. Ao mesmo tempo, eles ressaltaram que a área ainda enfrenta alguns desafios para efetivamente deslanchar não apenas no Brasil, mas no resto do mundo, podendo destravar um mercado trilionário.

Os executivos participaram do evento Febraban Tech 2023, em que abordaram projetos já realizados pelas empresas na área de tokenização. O Santander, por exemplo, tem estudado a tokenização de ativos imobiliários e automóveis como forma de simplificar negociações e reduzir custos. Já o Bradesco realizou uma tokenização de crédito pela primeira vez em janeiro de 2023.

Ao ser questionado sobre um estudo do Citi que aponta que o mercado de ativos tokenizados pode chegar a valer R$ 20 trilhões até 2030, Fernando Freitas, superintendente executivo do Bradesco, comentou que concorda com essas previsões, mas que ainda será preciso avançar em algumas questões para que elas se concretizem, considerando as próprias premissas desses estudos.

A importância da regulação

Um ponto central destacado pelos executivos é a importância da regulamentação da economia tokenizada. Freitas observou que o mercado ainda é "extremamente incipiente, contando com ativos que se propõem a ser regulados. Se considerar tanto ativos não regulados quanto os regulados, juntar todas as emissões, ainda é muito pequeno comparado ao mercado tradicional".

Na visão dele, ainda não está claro qual vai ser o papel dos reguladores brasileiros, em especial o Banco Central e a CVM, na tokenização, inclusive na perspectiva de que esses reguladores poderão ser, ou não, parte da própria cadeia do setor. Nesse sentido, ele avaliou que os testes do Real Digital indicam um conceito semelhante ao do Pix, "definindo regras e participando da cadeia".

E isso deve trazer questões para o futuro do setor. Atualmente, o executivo do Bradesco avalia que há uma "multiplicidade de tokenizadores usando uma diversidade de blockchains. É uma fragmentação do mercado com todo mundo tentando achar o grande caso de uso, com um cenário ainda embaralhado e o Banco Central fazendo um desenho do que imagina que vai ser o futuro."

Segundo Freitas, o encaminhamento tem sido de que os ativos regulados pelo Banco Central e da CVM serão tokenizados na própria rede que será usada para criar e operar o Real Digital. Nesse sentido, ele acredita que as moedas digitais de banco central (CBDCs, na sigla em inglês), caso do Real Digital, são o fator necessário para "destravar esse valor" trilionário compartilhado em diferentes relatórios.

"O Pix é centralizado, o Open Finance é descentralizado mas sem blockchain. A questão é usar blockchain de forma descentralizada para criar uma moeda. O Brasil tem sido mais ativo na exploração dessa questão, enquanto os Estados Undiso estão mais focados na definição de perímetros de regulação", pontuou o executivo.

Já Juliana Felippe, enterprise partneship manager da Paxos, disse que a tecnologia por trás da tokenização "veio para ficar". "Primeiro porque a aplicação prática realmente funciona, com potencial gigante pensando em tokenização de ativos. É inacreditável que o sistema financeiro opera da mesma forma que 30, 40 anos atrás. Hoje tem uma demanda em tempo real, e a tecnologia traz eficiência, redução de custos e potencial para resolver dores dos brasileiros", pontuou.

Na visão dela, o mais importante na regulamentação é a garantia de proteção dos consumidores como forma de expandir a adoção da tecnologia. Outro fator positivo esperado no segmento é uma inclusão social maior e ampliação de acesso a serviços e produtos financeiros.

"A tecnologia é procurada, existem milhões de possibilidades, e acho importante a abordagem colaborativa do Banco Central para avaliar riscos e potenciais", destacou Felippe. Para ela, o Brasil tem sido referência na regulamentação de criptoativos ao adotar uma abordagem colaborativa, enquanto os Estados Unidos têm sido mais agressivos na busca por um "equilíbrio regulatório" sem "parar a inovação. "Precisa de equilíbrio entre inovação e regulação, isso garante qualidade. A regulamentação é difícil, mas é o mais seguro para o médio e longo prazo", ressaltou.

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O potencial da tokenização

Para Evando Camilo, head of products para digital assets no Santander, a tokenização se tornou uma evolução do mercado financeiro, com um potencial de desenvolvimento que precisa ser centrado no consumidor e em "entender do que ele precisa hoje". Além disso, o executivo também citou alguns pilares que ele considera serem importantes para habilitar a expansão do setor.

Um deles é o cliente "poder deter os dados antes de qualquer coisa e poder compartilhar com quem quiser". Também é relevante que o segmento consiga criar uma comunidade engajada, permitindo transações entre diferentes partes. A dificuldade, para ele, envolve tanto a regulamentação do segmento quanto a criação dessas novas comunidades.

"O regulador brasileiro segue muito um padrão de aproximação com a inovação financeira, diálogo grande com o mercado. Nos Estados Unidos, têm uma dificuldade de organizar o setor devido à grande quantidade de reguladores e sobreposição de funções. No Brasil, o foco é trazer algo ligado ao modelo de negócios pra a tokenização. O Banco Central está próximo da inovação, fomentou fintechs, e a transformação nos próximos anos vai permitir aplicar a CBDC como motor da tokenização", disse Camilo.

Para Freitas, do Bradesco, ainda existem questões não respondidas sobre a tokenização que influenciarão nas mudanças que ela deve gerar. "Antes se achava que o blockchain quebraria a cadeia de valor, mas ele está sendo adotado pelos agentes dessa cadeia para dar a credibilidade nas emissões de produtos", pontua. Além disso, os bancos precisarão escolher quais atributos possibilitados pelo blockchain que serão adotados pela tokenização, pensando em elementos como alcance internacional, transações 24 horas e fracionamento.

Outra necessidade será pensar na tokenização de ativos não financeiros, como contratos e certificados de posse. Sem isso, o executivo acredita que a tokenização "perde parte do valor de atomicidade, então precisa definir isso". Mesmo assim, ele destacou que "o Bradesco entendeu que é um mercado que exige parcerias com empresas já existentes. Se olha daqui a cinco anos, a gente vê blocos básicos que precisa ter: custódia, tokenização e uma carteira que se conecta ao mundo da Web3", explicando que esses deverão ser o foco de desenvolvimento da instituição nos próximos anos.

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