Por André Portilho

@anportilho

Em minha última coluna, falei sobre o conceito de Web 3.0 e como a reinvenção da internet, através da descentralização, irá mudar drasticamente a forma que informações e dados são coletados e armazenados. Modificando, principalmente, a maneira que as pessoas interagem e se comunicam neste ambiente virtual.

Desde os tempos mais primórdios da humanidade, as pessoas utilizam itens específicos e com valores diferentes para comunicar quem elas são. Jóias feitas com metais e pedras preciosas, carros, relógios, roupas e outros acessórios. O que todos esses itens têm em comum? Eles expressam para a sociedade a personalidade, valores e gostos de cada indivíduo.

No contexto da Web 3.0, acontece a mesma coisa. Mas, graças a utilização da tecnologia blockchain, essa representação é feita de forma totalmente digital, com os tokens não fungíveis, ou melhor, os NFTs.

De olho no aumento da utilização de NFTs como um certificado de propriedade digital e imutável, milhares de empresas em todo o mundo iniciaram um trabalho de implementação desta tecnologia ao seu modelo de negócios.

Através destes tokens únicos, que não podem ser falsificados, essas empresas começaram a construir uma série de benefícios exclusivos e comunidades, que só podem ser acessadas pelos donos desses NFTs. E foi assim que a coleção dos Bored Apes surgiu.

https://www.youtube.com/watch?v=fERKOPGPQrI

Criada em 2021 pela Yuga Labs, a coleção Bored Ape Yacht Club se tornou um sucesso mundial, alcançando grandes personalidades, como Neymar, Madonna, Snoop Dogg, Eminem e muitos outros. Por conta de seu grande sucesso e do baixo número de NFTs emitidos, o preço dos Bored Apes explodiu e hoje, pouco mais de um ano depois do seu lançamento, o macaco mais barato pode ser comprado por mais de um R$ 1,5 milhão. Mas o que está por trás deste preço?

Primeiramente, é preciso entender que cada NFT não é apenas uma figura digital de um macaco. Por mais que você possa copiar e colar essas imagens onde você quiser, caso o NFT não esteja em sua carteira, você não é o verdadeiro dono desse token e isso pode ser facilmente verificado graças a tecnologia blockchain. Ou seja, diferentemente de vários itens que comunicam valor, como roupas e relógios, que podem ser facilmente falsificados, qualquer pessoa pode verificar de forma simples a autenticidade de um NFT, o que torna as falsificações inviáveis.

Em segundo lugar, por serem tokens registrados em blockchain, esses NFTs também representam títulos de propriedade. Assim como um título de sociedade em um clube, eles te dão acesso a uma comunidade exclusiva, que além de proporcionar um status social, também entrega para seus participantes uma série de benefícios. Eventos exclusivos, novos itens produzidos pela marca, terrenos em seu metaverso e direito de preferência em futuras emissões podem ser alguns deles.

São esses dois fatores que garantem a noção de exclusividade a um NFT. Atualmente, quando observamos grandes marcas de luxo, aquelas vistas como referência no mercado, é muito fácil perceber que os produtos mais desejados são sempre os mais exclusivos, seja por conta de uma baixa tiragem, ou até mesmo por conta de seu preço. No caso dos Bored Apes, temos um produto, ou melhor, um título de acesso a um clube exclusivo e extremamente restrito.

Olhando para esses fatores fica fácil entender como a coleção atingiu esse patamar. E considerando o seu uso dentro da Web 3.0 e no metaverso, a força da marca fica ainda mais evidente. Com a chegada da nova fase da internet, em breve os logins deixarão de ser e-mails e senhas e serão resumidos a conexões de sua carteira digital com as plataformas e redes sociais.

Assim, os NFTs acabam se tornando parte da sua identidade única e digital na internet. Isso já está acontecendo, por exemplo, no Twitter, que permite que seus usuários conectem suas carteiras à plataforma para utilizar NFTs como foto de perfil autenticada. A mesma funcionalidade já é testada pela Meta no Instagram.

Os Bored Apes são talvez o primeiro exemplo em escala dessa nova fase da internet. Uma internet onde os usuários terão controle dos seus dados, e irão interagir e ter retorno através de carteiras digitais e NFTs. Tudo possibilitado pela tecnologia blockchain.

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