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Da Redação
Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 21h46.
Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 11h08.
A tecnologia blockchain já está virando o setor financeiro de cabeça para baixo por causa de seus aplicativos descentralizados e disruptivos, mas o setor financeiro é só a primeira indústria que as DLTs transformarão.
O verdadeiro escopo do blockchain está em sua capacidade de mudar a maneira como fazemos as coisas todos os dias – votar, viajar, uma consulta médica, ou até como a publicidade chega até seu público. O blockchain pode atuar em todos esses pontos – e em muitos outros.
Em 2019, mais pessoas começaram a entender que as tecnologias de blockchain são reais e podem servir como solução para problemas em diversas indústrias e na sociedade como um todo: a falta de eficiência nas indústrias e nos processos básicos de empresas dos mais variados setores; a falta de transparência no dia a dia dos negócios ou a obtenção de maior confiabilidade e segurança digital das operações corporativas e governamentais.
E não estamos falando de soluções para daqui dez ou 15 anos – são soluções para os próximos cinco anos. Os blockchains ainda não alcançaram todo seu potencial, mas 2019 mostrou uma evolução intensa desse tipo de tecnologia, com foco em mais qualidade nas soluções.
O fato é que o blockchain se consolidou em 2019 e agora a grande questão não é mais se ele vai funcionar, mas sim como as empresas e organizações sem fins lucrativos podem fazer um blockchain funcionar para elas.
Vamos ver quais foram os avanços no universo blockchain em 2019?
A maior parte do público que não trabalha diretamente com tecnologia conheceu o conceito das tecnologias de blockchain e DLTs quando foram apresentados ao bitcoin, o que criou uma conexão muito forte do universo de criptomoedas com o blockchain.
Mesmo assim, a adoção do blockchain cresceu bastante no último ano, principalmente fora do universo das criptomoedas e do setor financeiro. A tecnologia de blockchain vem sendo utilizada para votações públicas, rastreamento de produtos alimentícios e logística, entre outras áreas.
Uma marca bastante conhecida do público – o Walmart – anunciou este ano a criação de uma plataforma de rastreabilidade baseada em blockchain para a cadeia logística dos produtos que ela comercializa mundialmente em suas lojas.
Esses primeiros casos de uso só mostram como várias indústrias estão buscando as tecnologias de blockchain para trazer dinamicidade aos processos produtivos, reduzir custos e oferecer transparência nas informações dos produtos que chegam ao público.
Além disso, diversos países como Índia, Estados Unidos, Reino Unido e Estônia já começaram a testar e aplicar blockchain em processos comuns da administração pública como, por exemplo:
Além disso, outras aplicações como o armazenamento seguro de dados governamentais, de cidadãos e informações comerciais; a redução de altos custos associados à gestão de responsabilidade fiscal; registro de propriedades; gestão de identidades e o potencial para redução da corrupção podem gerar mais confiança no governo e no sistema civil digital.
Sem a divulgação intensa do blockchain que vemos hoje nos noticiários, a tecnologia provavelmente não teria o mesmo nível de adesão que observamos hoje. Esse foi um dos grandes destaques de 2019: mais atenção da mídia e das comunidades envolvidas com inovações tecnológicas.
2019 também viu o amadurecimento do blockchain, que vai continuar em 2020, à medida em que os investimentos em soluções envolvendo essa tecnologia vão continuar a crescer, em especial quando falamos de soluções de blockchains para empresas.
No geral, as empresas já chegaram a um patamar em que a preocupação está muito menos focada em “essa tecnologia vai funcionar?” e mais em “quais modelos de negócios ela vai transformar?”
Por isso, os líderes de tecnologia dessas empresas precisam começar a fazer novas perguntas quanto ao uso do blockchain e como ele vai modificar o setor em que elas atuam. Perguntas como, por exemplo:
De acordo com um dos últimos relatórios da IDC, os investimentos em soluções usando tecnologias de blockchain aumentaram 81% em 2019, com um destaque para o crescimento do mercado Ásia/Pacífico, com um CAGR de 59,8%.
A expectativa é que o total de investimentos em blockchain entre 2018 e 2023 seja de US$ 3 bilhões, apenas nessa região do planeta. A Ásia/Pacífico foi responsável, em 2019, por 19,3% de todos os investimentos globais em blockchain, atrás apenas dos Estados Unidos e o Oeste Europeu.
O Fundo Europeu de Investimentos (EIF) e a Comissão Europeia já se movimentaram com um investimento conjunto de €100 milhões para projetos de blockchain e IA, com o objetivo de se manterem atualizados com os avanços dessas tecnologias, em comparação aos Estados Unidos e a China.
Também existe uma expectativa por parte das instituições europeias de que investidores privados, a maioria de Venture Capitals, coloquem mais €300 milhões de investimento com esse propósito.
A ideia é que o fundo de investimentos consiga levantar mais de €2 bilhões até a definição de quais projetos receberão os valores para o desenvolvimento de soluções.
Essa corrida na alocação de recursos financeiros e adoção e aplicação de tecnologias de blockchain já tem seus três principais players bem definidos, de acordo com números da International Data Corporation:
Apesar de um crescimento nos valores investidos em blockchain em algumas regiões do mundo no último ano, 2019 não viu o mesmo aumento nos investimentos de 2017 e 2018. No entanto, mesmo com essa incerteza, ainda há um otimismo enorme por parte das empresas e governos.
Sim, a era das ICOs – que ganhou tração em 2017 – já está praticamente no fim. Os investimentos de Venture Capitals estão diminuindo em relação aos valores altíssimos alocados nos últimos dois anos.
Ainda assim, o mercado para tecnologias de blockchain tem muito espaço para expansão, além de uma ampla previsão de crescimento, em especial quando as soluções já em desenvolvimento começarem a trazer retorno sobre o investimento já feito.
No Brasil, os investimentos, a adoção e a aplicação de tecnologias de blockchain ainda apresentam alguns gargalos, principalmente quando fazemos comparações com a China, por exemplo, que também faz parte do BRICS.
Por aqui, o blockchain ainda está muito relacionado com as criptomoedas. Isso não é negativo, afinal ele vem adquirindo um papel cada vez maior no mercado financeiro. No entanto, é preciso entender que o blockchain possui muitas outras aplicações em outros setores, como falamos no começo deste artigo.
Também vimos em 2019 a Receita Federal anunciando que está trabalhando – com a Serpro – nos testes de uma solução (bCONNECT) que utiliza blockchain para garantir a autenticidade das informações compartilhadas entre Brasil e países parceiros comerciais.
Outras iniciativas como, por exemplo, a zHealth (startup que desenvolve soluções de blockchain para a área da saúde) estão começando a surgir no país. O ano de 2019 foi de novos projetos e startups surgindo com ideias inovadoras envolvendo blockchain.
O mercado financeiro global opera com muito menos eficiência do que a maioria das pessoas pode imaginar. Ainda há um enorme caminho a ser trilhado e muitas inovações a serem aplicadas nesse setor.
Atualmente, uma série de ferramentas digitais estão sendo oferecidas sem uma integração, o que gera uma experiência de usuário ruim e desarticulada para a maioria dos clientes de instituições bancárias. Em muitos países, essas instituições são vistas como conservadoras e analógicas demais.
Nesse cenário, as fintechs começaram a surgir aos montes e ganharam atenção da mídia e do público, oferecendo serviços digitais quase sempre gratuitos, extremamente eficientes e nada burocráticos.
Vimos um fortalecimento desse novo ecossistema da economia digital em 2019, até mesmo em países menos desenvolvidos em relação à tecnologia. Vimos também uma movimentação dessas fintechs na adoção de tecnologias de blockchain para trazer ainda mais eficiência para seus clientes.
Os principais objetivos são diminuir a latência de liquidação, aprimorar a gestão de dados, acabar com processos administrativos e financeiros ainda feitos em papel, otimizar o processo de Descoberta do Cliente e eliminar erros humanos básicos.
Além disso, usar o blockchain auxilia bastante essas novas empresas na redução de riscos e fraudes de terceiros, permitindo um gerenciamento proativo de riscos, em vez de apenas responder reativamente aos problemas que surgirem no caminho.
2019 também foi o ano de novas regulamentações para as DLTs e tecnologias de blockchain. A natureza das tecnologias descentralizadas – como o próprio nome já diz – é de não concentrar o poder nas mãos de órgãos reguladores que definem todos os aspectos do que pode e o que não pode ser feito.
No entanto, as regulamentações de órgãos governamentais já começaram a ser apresentadas no mundo todo. O fato é que a tecnologia não consegue atingir todo o seu potencial até que os desenvolvedores de soluções consigam impedir fraudes e, para isso, são necessárias algumas regulamentações.
Boa parte delas foi criada para definir como criptoativos – em especial as criptomoedas – seriam negociadas nos países em questão. Mesmo assim, alguns países foram além e começaram a organizar estudos e identificar as oportunidades para que as tecnologias de blockchain possam atuar em diversos setores além do mercado financeiro.
A China, por exemplo, manifestou em outubro de 2019 que precisa aproveitar todas essas oportunidades, assim como já faz há alguns anos com tecnologias de IA e robótica. Dentro desse ambiente amigável às tecnologias descentralizadas, o governo começou a dar atenção aos mais de 500 projetos trabalhando com blockchain que já foram registrados no país.
Trata-se da evolução da economia digital. E não estamos nos referindo apenas ao mercado financeiro e às soluções para Finanças Descentralizadas. Estamos falando de toda uma nova gama de serviços e produtos baseados em tecnologias descentralizadas, que utilizam blockchain e outras DLTs para oferecer otimização de processos, agilidade e maior confiabilidade à atividades do nosso dia a dia.
O caso de Malta, um país ao lado da Itália, é emblemático no que se refere à adoção de tecnologias de blockchain. Malta é conhecida como a “Ilha do blockchain”, por sua visão disruptiva quanto ao uso dessas tecnologias.
O crescimento de projetos de blockchain e IEOs em Malta foi gigantesco desde 2017. O parlamento de Malta aprovou um marco regulatório para as tecnologias de blockchain no meio de 2018 e que surtiu efeito em 2019:
O governo de Malta é bastante ativo na criação e melhoria de regulamentações que sejam amigáveis às startups de blockchain. É um país progressista quanto ao uso de tecnologias disruptivas e à adoção de tecnologias de blockchain.
Joseph Muscat, primeiro ministro de Malta, é um dos grandes defensores do blockchain e de uma regulamentação direcionada para novos projetos dentro do país. Ele percebeu a grande oportunidade de negócios e de movimentação da economia do seu país que representa a atração dessas novas empresas e da adoção dessas tecnologias descentralizadas.
A ideia é criar um ecossistema aberto ao blockchain na ilha e se tornar uma nação protagonista nessa nova economia digital com um marco regulatório que incentive exchanges, gestoras de criptoativos, traders, instituições bancárias com serviços digitais, que forneça também garantias legais nas negociações.
Os casos da China e de Malta, por exemplo, mostram que essa regulamentação e maior adoção de blockchain é importante para trazer ainda mais confiança em processos econômicos, políticos e sociais.
Países com falta de regulação nesse ponto ainda criam um clima de incerteza nos investidores institucionais de criptomoedas e nos empreendedores que pretendem adotar as tecnologias de blockchain em suas empresas.
É evidente que o blockchain continua sendo um assunto que permite bastante debate quanto à sua utilização, tanto pública quanto privada. No entanto, o tom dessa discussão está mudando, o que reflete os casos de uso mais avançados e visões mais estratégicas do futuro.
Claro que ninguém consegue prever perfeitamente o futuro, mas uma coisa é praticamente certa: o blockchain terá um papel grande nele. Já nos próximos cinco anos, ele pode oferecer vantagens estratégicas bastante tangíveis para os mais diversos mercados, como poucos conseguem visualizar ou imaginar.