(Green Mining/Divulgação)
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 18 de fevereiro de 2021 às 19h27.
Última atualização em 18 de fevereiro de 2021 às 20h02.
Tecnologia que deu vida ao bitcoin, o blockchain ainda é encarado por muita gente como uma "promessa" para o futuro, mas na realidade ele já está presente na vida de muitos brasileiros — e a maioria deles nem sabe disso: empresas como Unilever, Ambev e Braskem utilizam uma plataforma baseada em blockchain no processo de reciclagem das embalagens de seus produtos.
Por meio de uma solução desenvolvida pela startup brasileira Green Mining, o que ia para o lixo acaba voltando para o mercado, reduzindo a pegada de carbono das companhias e aproveitando melhor os recursos naturais.
A startup criada por Rodrigo Oliveira, Adriano Ferreira e Leandro Metropolo está em operação desde 2018 e, só de recipientes de vidro, a Green Mining afirma já ter coletado mais de 1,3 mil toneladas, evitando a emissão de cerca de 230 mil quilos de CO2.
O grande impulso da startup foi dado pela Ambev, primeira grande empresa a "abraçar" a ideia, ainda em 2018, quando selecionou o projeto no seu programa "100+ Accelerator" e incentivou seus desenvolvedores com um cheque de 100 mil dólares para promover testes com a plataforma.
A Green Mining trabalha com um sistema de logística reversa, no qual a empresa identifica os locais de maior geração de lixo como bares, restaurantes, lojas ou condomínios, e monta um mapa de coleta nestes locais.
Então, um coletor contratado pela startup recebe o roteiro, faz a retirada dos materiais e registra todos os detalhes na plataforma, que usa blockchain para certificar que o material é de origem do "pós-consumo".
O material coletado é encaminhado para centrais de recebimento e segue para reciclagem, que vai reinserir o que era lixo novamente na cadeia de produção.
“Na mineração natural, o que acontece é a extração de material virgem da natureza, como jazidas de petróleo e minério de ferro. Já nosso material está no meio urbano — e nunca se esgota”, destacou Oliveira.
Oliveira afirmou ainda que a Green Mining conta com 18 centrais de armazenamento dos resíduos nas três regioões em que atua — os bairros da Bela Vista e do Brooklin, em São Paulo, e na cidade de Brasília. O material é guardado nesses hubs antes de seguir para as usinas de reciclagem.
“A tecnologia embarcada permite obter informações, em tempo real, de cada etapa do processo, como data e local da coleta, quilos e destinação dos recicláveis. A rastreabilidade é garantida pelo blockchain". diz o criador da startup.
Desta forma, o que começou com garrafas de vidro para a Ambev, cresceu e passou a contar com outros grandes players do mercado, como Unilever, AkzoNobel e a Braskem.
“Para a Unilever, a gente coleta PEAD (polietileno de alta densidade); para a Deink Brasil, PEBD (polietileno de baixa densidade); para a Ibema, papelão e papel cartão… Agora, estamos com um projeto-piloto conjunto com a AkzoNobel e a Braskem para coletar baldes de plástico e latas de tinta", revelou.
O empreendedor disse que o maior desafio da empresa tem sido convencer os estabelecimentos a separar os materiais, já que muitos alegam que separar o material é trabalhoso, enquanto outros já tem a cultura de vender seus resíduos para reciclagem, o que é uma forma de concorrência para a Green Mining.
Por causa disso, um dos planos da companhia é engajar o consumidor no processo e fornecer descontos para quem ajudar no processo de reciclagem. O projeto já está em andamento e conta com a parceria das cervejarias Armazém da Cerveja, Caravan, Vórtex e Avós, em São Paulo, que dão descontos para quem retornar a garrafa.