Blockchain e DLTs

Indústria do chocolate adota blockchain para controlar produção de cacau

Iniciativas no Brasil e no exterior já utilizam a tecnologia blockchain para controlar grãos de cacau e evitar danos sociais e ambientais da sua cadeia de produção

Cacau (CRISTINA ALDEHUELA/Getty Images)

Cacau (CRISTINA ALDEHUELA/Getty Images)

GR

Gabriel Rubinsteinn

Publicado em 7 de julho de 2021 às 12h05.

Produtores e integrandes da cadeia de produção do chocolate têm buscado na tecnologia blockchain, que deu vida ao bitcoin, uma forma de garantir a origem da sua principal matéria-prima, o cacau, que em muitos locais está ligado ao trabalho escravo ou condições análogas à escravidão.

Embora o Brasil seja um grande produtor de cacau, a maior parte do suprimento utilizado no mundo vem de apenas dois países: Gana e Costa do Marfim abastecem uma indústria que movimenta mais de 10 bilhões de dólares anualmente.

Segundo a especialista Katie Rapley, antes que os grãos sejam vendidos, o cacau serpenteia por uma complicada cadeia de abastecimento, já que a maioria dos fazendeiros não consegue transportar a fruta diretamente para o porto, o que os obriga a usar intermediários. "O intermediário compra cacau dos fazendeiros e o transporta para mais perto do porto. Ao longo do caminho, o cacau poderia ser vendido para cooperativas de diferentes tamanhos ou terceiros antes de finalmente chegar ao porto. Lá, o cacau é vendido para exportadores, que revendem o cacau para comerciantes e, estes efetivamente controlam o mercado", explica.

Desta forma, segundo ela, a cadeia de abastecimento do cacau sistematicamente mantém os agricultores na pobreza, já que eles não têm controle sobre os preços. "Muitos agricultores vivem na pobreza e têm que recorrer a medidas extremas para alimentar suas famílias. Muitos agricultores cultivam cacau ilegalmente em áreas florestais protegidas. Como resultado, a Costa do Marfim perdeu 85% de suas florestas protegidas desde 1990", disse.

    Blockchain já está em uso

    Segundo Rapley, a indústria do cacau também se apóia na escravidão e em mão de obra infantil. "Os agricultores são pobres e o cultivo do cacau exige muita mão de obra. Ainda hoje, os métodos de colheita e processamento do cacau nas fazendas não evoluíram. Surpreendentemente, os agricultores ainda colhem o cacau usando apenas um facão. Os agricultores não têm dinheiro para investir em máquinas ou práticas de cultivo mais sustentáveis. Infelizmente, isso resulta em escravidão, desmatamento e pobreza sistemática", destaca.

    Para romper com esta situação a empresa holandesa Tony's Chocolonely está usando a tecnologia blockchain para rastrear cada lote de grãos. Para curar a cadeia de abastecimento, a Tony's paga 40% sobre o preço do produtor. Como a Tony's sabe de quais agricultores vêm seus grãos, eles podem pagar a mais para recompensar esses agricultores usando práticas de negócios sustentáveis ​​e seguras.

    A tecnologia blockchain atribui um número exclusivo para cada lote de grãos, que são rastreados por toda a cadeia de produção. Segundo a empresa, ainda serão necessários entre três e cinco anos até que o uso da tecnologia blockchain no seu projeto "Beantracker" (algo como "Rastreador de Grão", em português) torne as operações comerciais viáveis.

    Outro integrante da indústria do chocolate que já utiliza a tecnologia blockchain é a DP World, que ingressou recentemente na TradeLens, uma plataforma desenvolvida pela Maersk e pela IBM. "O poder do TradeLens está em sua inteligência coletiva: ele foi criado para otimizar os fluxos de comércio usando uma grande quantidade de dados de todo o ecossistema da cadeia de suprimentos global. Isso significa que um fabricante de barras de chocolate, por exemplo, pode ver o status de cada caminhão, palete, caixa ou contêiner em uma interface única e fácil de usar e tomar decisões operacionais com base nessas informações", destaca a empresa.

    Brasil tem iniciativas com a tecnologia

    Produtores rurais que trabalham no sul da Bahia também estão adotando a tecnologia blockchain para rastrear e certificar a sua produção de cacau.

    O grupo formado por IG Sul da Bahia, Cooperativas Associadas (entre elas a Cooperativa de Serviços Sustentáveis da Bahia, Cooperativa de Pequenos Produtores de Cacau, Mandioca e Banana do Centro da Região Cacaueira e Cooperativa da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bacia do Rio Salgado e Adjacências) e o Centro de Inovação do Cacau (CIC) são as entidades que participam da iniciativa.

    Com apoio do governo da Bahia, o programa Bahia Produtiva/SDR-CAR busca levar mais qualificação também aos produtores.

    A IG Sul da Bahia também instituiu um regulamento para padronizar a produção de cacau no país, e agora vai rastrear a produção com a tecnologia blockchain através de uma parceria com a Bleu Empreendimentos Digitais.

    Além disso, o governo da Bahia, por meio do Programa Centelha, da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb), vai destinar recursos para o projeto "IoTCocoa - Sistema de auxílio a produção de cacau gourmet", que, entre outros pontos, busca usar blockchain aliado à Internet das Coisas (IoT) para combater a  "vassoura de bruxa" - praga causada por fungos no cacaueiro - no cacau baiano.

    Assim, o projeto pretende usar IoT e blockchain para o controle e monitoramento desses eventos, com o objetivo de catalogar informações valiosas do processo para o aprimoramento, realizar pesquisas e auxiliar a retomada da produção na região e o desenvolvimento do "cacau premium" no país.

    por Cointelegraph Brasil
    Acompanhe tudo sobre:BahiaBlockchainChocolateTrabalho escravo

    Mais de Blockchain e DLTs